Secretário-geral do PCP vai ser submetido na quinta-feira a uma cirurgia de urgência. Especialista explica o que é a estenose da carótida, quais os riscos, sintomas e tratamento
O PCP anunciou esta terça-feira que Jerónimo de Sousa terá de ser sujeito a uma cirurgia de urgência para tratar uma estenose carotídea na carótida interna esquerda e que a intervenção “não pode ser adiada para depois das eleições”, obrigando o líder dos comunistas a falhar parte da campanha eleitoral para as legislativas de 30 de janeiro.
Mas que doença é esta que obriga a uma intervenção urgente? Uma estenose carotídea, ou estenose da carótida, é um problema que ocorre quando as artérias carótidas, na zona do pescoço, se estreitam ou ficam obstruídas por placas, impedindo o cérebro de ser irrigado.
“Temos quatro conjuntos de artérias que irrigam o cérebro, consumimos mais de 40% do débito cardíaco para manter o cérebro irrigado”, explicou à CNN Portugal o cirurgião cardiotorácico Manuel Pedro Magalhães. Um estreitamento da artéria não tem significado “até chegar aos 50%”, refere o especialista. Se a obstrução da artéria for superior, e principalmente se houver sintomas, esta doença é um aviso: há risco sério de vir a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
E quais são os fatores de risco para a estenose? “A idade, em todas as doenças cardiovasculares, é sempre um fator importante”, afirma Manuel Pedro Magalhães. Mas igualmente agressivos para as artérias são o tabagismo, o colesterol alto, a hipertensão ou diabetes. Todas doenças que causam inflamação nas artérias, o que tem como resposta a formação de cicatrizes, as referidas placas que progressivamente vão entupindo a artéria e têm de ser retiradas.
Quanto aos sintomas, quando existem, muitos vezes não são reconhecidos pelo doente: pequenas perturbações de equilíbrio, “ausências quando a pessoa está a falar”, que se devem ao facto de as células cerebrais não terem, então, o oxigénio suficiente. “As artérias que vão para dentro do cérebro ligam-se umas com as outras”, explica Manuel Pedro Magalhães. “É como o Marquês de Pombal, onde chegam várias avenidas importantes e roda-se para se poder passar de umas para as outras. Se o aperto da carótida for superior a 50% começa a notar-se no trânsito, começa a notar-se a nível cerebral”, exemplifica o especialista, tomando como exemplo a rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa.
Doentes recuperam logo após intervenção
A terapêutica para o problema pode ser invasiva, um corte no pescoço que retira a placa responsável pelo estreitamento, ou através de cateterismo, introduzindo um balão que se enche para abrir a estenose. “Os doentes ficam imediatamente recuperados”, diz o médico. Em qualquer um dos métodos usados para tratar a doença, fica retomada a circulação de sangue de forma imediata e deixa de haver risco de AVC para o doente.
Jerónimo de Sousa, porém, vai parar dez dias, provavelmente por “zelo”, diz o cirurgião. “As artérias são órgãos vivos, não são tubos”, explica. “Adaptam-se à pessoa, à quantidade de sangue que é precisa para aquele órgão, dilatando-se e encolhendo”. Mas, com a idade, as artérias “vão perdendo as suas características elásticas” e tornam-se “mais plásticas”, tornando-se mais difícil a recuperação quando há agressões.
Manuel Pedro Magalhães recorda ainda que as doenças cardiovasculares são a maior causa de morte em Portugal: “Morrem 138 pessoas por ano em 100 mil com doenças cardiovasculares”, alerta.
Segundo apurou a CNN Portugal, a estenose da carótida de Jerónimo de Sousa já tinha sido detetada em exames, mas os especialistas que o acompanham consideraram agora que era necessário operar com urgência. O secretário-geral do PCP será operado no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, na quinta-feira. Falhará a campanha das eleições legislativas enquanto estiver a recuperar, sendo substituído por João Ferreira e João Oliveira.