Centeno diz que robustez do mercado de trabalho separa Portugal da estagflação

Agência Lusa , AM
21 dez 2022, 14:44
Mário Centeno (Lusa/Mário Cruz)

Sem este desempenho, Mário Centeno conjeturou que a economia portuguesa estaria “num cenário mais complexo”, dado o crescimento muito baixo e a inflação muito elevada”

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, considerou esta terça-feira que a solidez do mercado de trabalho é o que previne um cenário de estagflação em Portugal num momento em que a inflação limita o investimento.

Na sua intervenção no Encontro Anual 2022 do Conselho da Diáspora Portuguesa, em Cascais, onde apontou que “é preciso retomar os níveis de investimento”, Centeno referiu que a confiança dos investidores “ainda não recuperou do início da guerra”.

“Ao contrário da covid-19, em que, três meses depois, os níveis de confiança já estavam – ainda sem vacinas – aos níveis anteriores ao início da pandemia [da covid-19], a confiança no contexto da guerra, talvez porque as bombas se ouçam mais que o propagar do vírus, não recuperou”, afirmou. "Estamos ainda com níveis de confiança muito baixos”, acrescentou.

Perante a redução do investimento, o governador do banco central assinalou que “é o mercado de trabalho que sustenta a situação da economia portuguesa”.

“O cenário de inflação não simplifica tomada de decisões pelos investidores. Tudo isto concorre para um cenário que nos afasta da estagflação apenas por causa do mercado de trabalho”, sublinhou.

Sem este desempenho, Mário Centeno conjeturou que a economia portuguesa estaria “num cenário mais complexo”, dado o crescimento muito baixo e a inflação muito elevada”.

O governador registou que a guerra na Ucrânia e a crise inflacionista configuram duas dimensões que impactam o crescimento económico global, mas que Portugal “tem uma posição privilegiada” para as enfrentar.

“Projetamos um crescimento sustentado da economia portuguesa ao longo do horizonte de previsão deste exercício – 2023, 2024 e 2025 – que essa atividade parta de níveis já superiores a 2019, e já não estejamos na fase da recuperação. Como não estamos na fase da recuperação, há uma desaceleração do crescimento económico”, disse.

Esta desaceleração resulta de Portugal estar “acima da tendência de crescimento que vinha de 2019”.

“Num contexto de inflação e num contexto de conflito militar nas fronteiras do espaço económico em que habitamos, é algo verdadeiramente extraordinário em qualquer caso”, defendeu.

Nesse sentido, Portugal apresenta um PIB real acima do seu PIB potencial, à semelhança de 2019, estando “talvez no ponto mais alto deste ciclo económico” – uma posição que a economia portuguesa tem de aproveitar, em particular no investimento, que é “a parte mais frágil na dinâmica de crescimento”.

“Pela primeira vez, desde 2015, o crescimento cresceu menos que o consumo privado em Portugal em 2022. A economia portuguesa já não é a economia que crescia à base do consumo, mudou nos últimos anos”, reforçou o governador.

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