As redes 3G serão desligadas em breve nos EUA. Há uma corrida para que os utilizadores se atualizem

CNN , Samantha Murphy Kelly
9 fev 2022, 22:00
Telemóvel. Anton Novoderezhkin/TASS/Getty Images

Operadoras nos Estados Unidos já estão a tratar de tudo para a transição

Aaron Hommell comprou o seu iPhone 5 3G em 2014 e manteve-o durante mais de sete anos, mesmo depois de o ecrã se ter partido e de uma longa lista de modelos mais rápidos ter chegado ao mercado. Depois, há um ano, a AT&T começou a enviar-lhe e-mails, informando-o de que a empresa iria desligar a rede 3G e transferir os assinantes para as redes 4G e 5G de maior velocidade.

“Fui adiando [a atualização] porque não era o meu telefone principal”, disse Hommell, que usava o iPhone como telemóvel de trabalho na sua firma de advocacia em Gulfport, no Mississippi. “Por fim, chegou uma carta a dizer que me enviariam um telefone daí a algumas semanas. Limitei-me a esperar e bum, ele lá apareceu em minha casa.”

Hommell, que recebeu um novo iPhone XR da AT&T em outubro, está entre o pequeno segmento de utilizadores da rede 3G que recebeu um telefone 4G gratuito da AT&T, a empresa que controla a CNN, antes da rede 3G ser desligada nos Estados Unidos no final deste mês.

“Durante quase dois anos, temos comunicado diretamente com os consumidores através de e-mails e mensagens de texto, e continuaremos a fazê-lo para ajudá-los a passar por esta transição”, disse a AT&T à CNN Business, em comunicado. “Isso inclui entregar telefones gratuitos de substituição à grande maioria dos clientes.” A AT&T disse que os aparelhos de substituição são versões 4G dos smartphones que funcionam no mesmo sistema operativo que os utilizadores usavam anteriormente.

A rede 3G foi lançada em 2002 e tornou-se a força motriz por trás do boom inicial da App Store, no final da década que se seguiu ao lançamento do primeiro iPhone. Em seguida, as empresas wireless passaram para as redes 4G e, mais recentemente, para as 5G. Agora, as três principais operadoras norte-americanas estão a avançar para desligar a tecnologia 3G, com a AT&T a dar o passo a 22 de fevereiro, a T-Mobile (TMUS) a fazê-lo no terceiro trimestre e a Verizon (VZ) até ao final do ano.

À medida que a tecnologia se torna oficialmente obsoleta, está em andamento uma corrida para ajudar os utilizadores a evitar problemas no serviço.

A mudança afetará as pessoas que ainda usam Kindles 3G, telefones de abrir 3G, iPhone 5 e mais antigos, vários telefones Android e alguns aparelhos como relógios e pulseiras. Também afetará sistemas de alarme domésticos e dispositivos médicos como os detetores de quedas. Alguns sistemas de notificação de colisão e assistência em viagem, como o OnStar, também precisarão de ser atualizados ou substituídos.

A General Motors, por exemplo, dona da OnStar, começou a enviar atualizações automáticas em outubro para os veículos lançados já em 2015, incluindo modelos da Chevrolet, da Buick e da Cadillac, que podem ser afetados pela transição. Algumas empresas de alarmes também estão a pedir aos clientes que marquem visitas técnicas para que os sistemas sejam completamente substituídos.

Mesmo com todos estes esforços, há a possibilidade de alguns clientes (e dispositivos) ficarem para trás.

“Há sempre o risco de as pessoas perderem a rede ou de os dispositivos serem desligados”, disse Dimitris Mavrakis, diretor da empresa de pesquisa de mercado ABI Research. “As operadoras móveis fazem várias tentativas para evitar isso, mas haverá sempre dispositivos que ficarão de fora.”

Quem corre o risco de perder a rede?

Apenas uma pequena parcela dos clientes norte-americanos wireless ainda usa as redes 3G. A Verizon disse numa publicação num blogue que 99% dos seus clientes já atualizaram para a 4G LTE ou a 5G, e a AT&T disse que menos de 1% do seu tráfego de dados móveis acontece nas redes 3G. A T-Mobile não respondeu a um pedido de comentário sobre a sua base de utilizadores 3G.

Segundo Roger Entner, analista e fundador da Recon Analytics, estas estimativas combinadas equivalem a cerca de 3 milhões de pessoas. Ele desconfia que os resistentes “quase nunca usam o seu dispositivo 3G e, portanto, não recebem os alertas quando fazem ou recebem uma chamada”.

Aqueles que usam um telefone 3G provavelmente receberam mensagens de texto, e-mails e correspondência física das operadoras wireless no ano passado, apelando à atualização. (Se não tiver a certeza de qual a rede do seu telefone, abra as Configurações, toque em Rede e Internet e selecione Rede Móvel em dispositivos Android. No iOS, escolha Configurações, Dados e escolha Opções de Dados Móveis.)

No entanto, determinar se outros dispositivos domésticos funcionam em 3G pode ser um pouco mais complicado.

“Esses dispositivos correm um risco maior de serem desligados da rede, mas os fornecedores individuais tentam alertar os utilizadores que os seus sistemas 3G serão desativados em breve”, disse Mavrakis.

Algumas empresas, como a My Alarm Center, uma empresa de sistemas de segurança doméstica, estão a alertar os clientes que certos sistemas terão de ser substituídos por um técnico para evitar possíveis problemas. “Mesmo que o alarme pareça funcionar, deixará de comunicar com a nossa central para nos notificar de que são necessários serviços de emergência”, afirma a empresa no seu site.

No entanto, para os dispositivos móveis, existem algumas soluções alternativas para quem não se quer livrar dos seus aparelhos 3G. Em teoria, será possível aceder a um navegador da Internet, via Wi-Fi, ou fazer chamadas wireless num telefone 3G, se o utilizador tiver uma aplicação que ative o protocolo de voz pela Internet, como o Facebook Messenger. Da mesma forma, as pessoas com um e-reader 3G poderão continuar a descarregar livros novos no dispositivo, via Wi-Fi.

No geral, as operadoras móveis nos Estados Unidos não estão a cobrar mais aos seus clientes para mudar de planos 3G para 4G, o que provavelmente impedirá que eles abandonem os seus planos de dados.

A AT&T disse que “um segmento extremamente pequeno” pode ter de mudar para um plano que resulte numa mudança de tarifário. A Sprint disse que qualquer pessoa com um dispositivo 3G poderá pagar o mesmo ou menos pelo serviço 4G ou 5G da T-Mobile e pode atualizar para um novo dispositivo, incluindo alguns telefones 5G, sem nenhum custo. A Verizon disse que os clientes são “fortemente encorajados” a atualizar agora e que “está a oferecer promoções agressivas”. (A Verizon não disse se enviará aparelhos de substituição aos clientes como parte de um esforço de última hora, antes de desligar a rede.)

A rede 4G será a próxima a desaparecer?

Esta não é a primeira vez que uma rede é desativada nem será a última. O esforço para desligar a 3G é, maioritariamente, para reutilizar o espetro para as redes 4G e 5G, que são padrões mais recentes, melhores tecnologias e mais eficientes que a rede 3G. A mesma coisa aconteceu com a rede 2G, que a AT&T e a Verizon desligaram no final de 2017. A T-Mobile planeia desligar a sua rede 2G em dezembro.

No mês passado, a AT&T e a Verizon ativaram as redes 5G de banda C, um importante conjunto de frequências de rádio mais altas que impulsionarão a Internet. A mudança permitirá, por exemplo, que os utilizadores vejam um filme da Netflix em 4K ou descarreguem um filme em poucos segundos. (A Verizon disse que as suas velocidades de banda C atingem quase 1 gigabyte por segundo, cerca de 10 vezes mais rápido do que na rede 4G LTE.)

À medida que a 5G ganha força, e possivelmente a 6G depois disso, a 4G pode ser a próximo a ser descartada.

Não há dúvida de que os telemóveis maximizaram o que é possível fazer com a 4G, neste momento. A tecnologia abriu caminho para aplicações de encomendas como a Uber, o consumo de vídeo móvel na Netflix e no FaceTime, a orientação em tempo real via Google Maps e as partilhas sociais no Instagram e no Snapchat. Mas a 5G pode abrir uma porta ao que vem a seguir – como a alimentação de veículos autónomos ou o acesso a cirurgias robóticas – graças à capacidade de lidar com um aumento no tráfego e na largura de banda, sem atrasos.

Quanto a saber se outro smartphone novo lhe pode um dia aparecer em casa, para substituir o iPhone 4G que acabou de receber, Hommell disse: “Podemos sempre ter esperança”.

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