Milhares saíram à rua para dizerem que o presidente dos Estados Unidos não é o seu presidente. Enquanto decorria uma celebração militar em honra do Exército na capital, o resto do país andava na rua em confronto com a polícia
“A polícia montada carregou sobre a multidão, golpeando com bastões de madeira e cassetetes. Os agentes dispararam depois gás lacrimogéneo e projéteis de controlo para um grande grupo, fazendo dispersar manifestantes, vendedores de cachorros quentes e pessoas que iam a passar na rua”. O relato é feito pela agência Associated Press, num dia em que os Estados Unidos viram confirmada a total divisão da sua sociedade.
Uma divisão entre os que protestam contra Donald Trump e as suas políticas migratórias agressivas e os que apoiam o presidente norte-americano. Uma divisão entre os que afirmam que “não há reis” nos Estados Unidos e um presidente que aproveita o 250.º aniversário do Exército para organizar um grande desfile militar no seu dia de aniversário - dúvidas houvesse, teve direito aos parabéns cantados ao chegar ao local.
Nem de propósito, o projeto lançado pela CNN Portugal a 9 de abril nunca fez tanto sentido. O projeto em si, claro, mas até o nome que lhe foi dado. É que este parece ser mesmo um Admirável Mundo Trump, em que o presidente dos Estados Unidos entra numa distopia onde cabe toda a sua entourage - quem não viu o excêntrico Dana White ao lado de Donald Trump em Washington, DC?
Enquanto milhares de militares vestidos com roupas das várias gerações do Exército dos Estados Unidos desfilavam pela Constitution Avenue em Washington, DC, do outro lado do mundo, no Médio Oriente, Israel e Irão continuavam a trocar agressivos ataques.
Um caos existente também dentro de portas, num país que saiu à rua para protestar contra Donald Trump e as suas políticas, nomeadamente as migratórias. “Não há reis”, quis lembrar a população, criticando a utilização do Exército para um desfile - que em certa medida teve laivos de Moscovo, Pequim ou Pyongyang - no dia do aniversário do presidente.
E é aí que se volta a Los Angeles. Estavam os helicópteros Apache no ar a exibir toda a sua força para o 47.º presidente dos Estados Unidos e os seus apoiantes quando o caldo entornou na cidade-berço destes recentes protestos. Ali estiveram 20 mil pessoas que não querem militares ou fuzileiros na rua ou a agência anti-imigração (ICE) a expulsar milhares de pessoas que não estão legais.

Mais para cá, mais para perto de Washington, DC, os ecos de uma violência extremada. A senadora estadual do Minnesota Melissa Hortman e o seu marido Mark foram mortos a tiro na própria casa. O suspeito é Vance Boelter, um homem de 57 anos que recebeu treino militar e está fugido às autoridades.
Menos grave, mas reforço da tal violência extremada, dois registos também ocorridos este sábado: um jovem de 21 anos pegou num SUV para avançar sobre manifestantes anti-Trump em Culpeper, no estado da Virginia; um condutor foi contra quatro manifestantes “No Kings” na cidade de São Francisco. Em ambos os casos, e segundo as autoridades, houve intenção de o fazer.
Ambos os casos aconteceram nos cerca de dois mil protestos que se juntaram em praticamente todo o país para dizer que não é com Donald Trump que se avança. Em Los Angeles, claro, mas também em Nova Iorque - onde terão estado cerca de 50 mil pessoas -, em Filadélfia ou em Chicago, onde a polícia teve de fazer frente aos manifestantes.
