«Fechei a porta ao Benfica, mas o FC Porto é diferente e o Diogo Jota surpreendeu»

Samuel Santos , Argoncilhe, Santa Maria da Feira
6 jun, 09:35
Bruno "Insert" Gonçalves pelo FC Porto (eLiga, via Instagram)

Videojogo pode rimar com sucesso e reinvenção. Prova disso é o percurso de Bruno “Insert” Gonçalves, cofundador da AXXE, academia pioneira no Mundo. Ao Maisfutebol, o treinador dos Luna Galaxy e do FC Porto desvenda o percurso ascendente, que começou na pandemia, entre amigos – PARTE II

No piso subterrâneo de uma antiga gráfica em Argoncilhe, na fronteira entre Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia, desponta a AXXE Academy, projeto fundado em setembro com metodologias pioneiras a nível internacional.

Esta academia de videojogos – focada no ensino do EA Sports FC (EAFC), antes conhecido por FIFA – ganhou forma graças à «carolice» de João Carvalho e Bruno “Insert” Gonçalves, outrora adversários no futebol distrital do Porto. Hoje são nomes incontornáveis na elite nacional, de tal modo que são reconhecidos por figuras como Diogo Jota, avançado do Liverpool e fundador da equipa Luna Galaxy.

No caso de Bruno, acumulou títulos ao leme do Estoril/Projeto 22, rejeitou propostas aliciantes e aguardou pelo convite dos Luna Galaxy, parceiros do FC Porto. Este foi um dos temas “quentes” da conversa com o Maisfutebol.

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Parte I: De Argoncilhe para a elite: a academia pioneira no eSports que esmaga preconceitos

Outrora professor de Educação Física, Bruno Gonçalves – “Insert” no digital – continua a dedicar boa parte dos dias ao trabalho muscular e mental, até porque concilia as horas na AXXE Academy com o ofício de “personal trainer”.

Em 2020, quando nada fazia prever, a pandemia libertou-o para inúmeras horas de FIFA, a princípio no computador, no modo 11 contra 11. Dotado do sentido de «missão de agregar valor ao outro», poucos meses bastaram para ser convidado a orientar o Estoril/Projeto 22. Em todo o caso, sem descurar o objetivo de elevar o Esports à profissionalização.

«No fim do primeiro ano, ainda a competir no computador, o Estoril convidou-nos a permanecer, de novo por carolice. Mas, mantive a postura de justiça, com a noção de que não poderíamos promover o clube a troco de nada. Por isso, blindei os jogadores e conseguimos prémios por competição, além de o jogo ser oferecido. Era o mínimo», começa por relatar.

Em Portugal, a maioria dos clubes aproveita convites de “freelancers” ou recorrem a projetos de Esports, que «emprestam» jogadores. Na eLiga 2024/25, apenas Benfica, Sporting e Famalicão contaram com secções estruturadas e autónomas.

«O meu objetivo é formar para ganhar, não contratar para ganhar»

Entre títulos e aventuras em palcos internacionais, os resultados convenceram o Estoril a migrar para a PlayStation, para a «fina nata». Em simultâneo, os interessados faziam fila, com propostas aliciantes para a comitiva de Bruno.

«Em 2022 dei a minha palavra ao Estoril, desde que renovassem com os jogadores por mais dois anos, com as devidas regalias. Fechei a porta ao Benfica, após uma reunião no Estádio da Luz. Foi duro, mas queria provar que o progresso no Estoril não era sorte. A proposta foi tentadora, mas dei a minha palavra ao Estoril.»

Em duas épocas, Bruno liderou a rota para a conquista de Taça da Liga (2) e Supertaça, feitos aos quais se juntam a coroa arrecadada na segunda e terceira etapa da eLiga 2023/24. Todavia, perderam a final do campeonato para o Famalicão. Pelo meio, disputaram a eChampions League.

«O contrato com o Estoril terminou há um ano. Queríamos continuar a provar que é possível vencer com jogadores amadores – porque têm uma vida profissional e académica paralela. Fazê-lo exige muito profissionalismo. O meu objetivo passa por formar para ganhar, não contratar para ganhar», atira.

Bruno "Insert" Gonçalves durante uma aula na AXXE Academy.

Para conhecer a ambição de “Insert”, que aponta ao sucesso no digital por via do exercício físico, consulte a primeira parte desta conversa com o Maisfutebol.

«FC Porto é uma casa diferente e o Jota surpreendeu»

Entre propostas rejeitadas, o grupo aguardou pelo momento certo para avançar. O mais recente capítulo começou pela mão de Diogo Jota, fundador dos Luna Galaxy, equipa com a qual mantinham uma «relação de amizade e camaradagem».

«Quando nos convidaram a integrar o projeto foi ouro sobre azul. E mais tarde confirmou-se a parceria com o FC Porto. Sabemos que o Sporting esteve próximo de conseguir o protocolo, mas não aconteceu. Esse processo foi-nos alheio.»

Desde então, os Luna Galaxy disponibilizam jogadores para representar o FC Porto, consoante a competição. Confesso adepto azul e branco, Bruno revela-se orgulhoso por assumir um lugar central neste elo.

«Seria mais fácil competir por outro clube que não o FC Porto, porque sinto mais a derrota. Tivemos de nos reinventar, percebendo que representamos um clube diferente, que nos dá todas as condições. O FC Porto é uma casa diferente, com outra estrutura e visibilidade. Até pela dimensão externa à competição. Por exemplo, já interagimos com jogadores da equipa de futebol e com adeptos, e fomos à ala pediátrica do Hospital de S. João.»

«Todos estes momentos são marcantes. São sensações de realização, mas que nos enchem de responsabilidade», prossegue.

Quanto a Diogo Jota, o avançado do Liverpool é «discreto», pelo que merece os elogios de Bruno Gonçalves.

«Surpreendeu pela positiva. Sempre soube estar. Fez questão de explicar o projeto e o que pretende de nós, estando aberto a sugestões. Aparece nos momentos indicados», desvenda.

No rescaldo à época de estreia pelo FC Porto/Luna Galaxy, este “miser” juntou Taça da Liga feminina e Taça de Natal da FPF ao currículo. Na eLiga, ainda que tenham vencido a etapa inaugural, os dragões viram o título sorrir ao Boavista. Este é o troféu que continua a escapar a Bruno “Insert” Gonçalves.

«As águas de AXXE e FC Porto não se misturam»

Para encerrar o tópico, o veredito de João Carvalho, desde 2010 no mercado do Esports. Ainda que qualifique como benéfico para a academia o elo entre Bruno Gonçalves e Diogo Jota, o cofundador da AXXE mantém as fronteiras.

«Não se misturam as águas de Luna, FC Porto e AXXE, até para o Bruno não formar adversários. Esses potenciais adversários passam pelas mãos de outros formadores da nossa academia. As aulas servem sobretudo de “desmontar” o jogo. E aqui trabalhamos com todos, desde semiprofissionais a pais que apenas sabem que os filhos gostam de jogar.»

«Quanto ao Jota e ao mediatismo, é uma ajuda fundamental, sobretudo na aceitação social», remata.

Enquanto João Carvalho e Bruno Gonçalves apontam à profissionalização do Esports, Portugal conta com o campeão mundial em título – João “Jafonso”, jogador do Al Nassr. Por isso, o percurso delineado pela AXXE serve de motor para elevar as estruturas nacionais ao potencial destes «gamers».

Até podem não mudar o Mundo, mas os fundadores da AXXE Academy promete marcar vidas e inspirar percursos.

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