Ancelotti recusa falar de futebol e perde a paciência com jornalista

22 mai 2023, 11:02
Carlo Ancelotti (Kai FORSTERLING/EFE/EPA)

Treinador do Real Madrid aponta o dedo à Liga espanhola após novo caso de racismo a envolver Vinícius Jr. Antevê que nada vá acontecer e lembra exemplos recentes. Após o jogo, protagonizou acesa troca de palavras com um jornalista que lhe disse que se tinha equivocado entre «mono» e «tonto». Direção do Valência exige que Ancelotti peça desculpa

«Queres falar de futebol ou de outra coisa? Eu não quero falar de futebol? Do que quero falar? Do que aconteceu aqui.»

Foi assim, e de semblante profundamente carregado, que Carlo Ancelotti compareceu na zona de entrevistas rápidas após o Valência-Real Madrid, ficou marcado pelos alegados insultos racistas dirigidos a Vinícius Júnior e que motivaram uma paragem prolongada do jogo no Mestalla.

«Isto é mais importante do que uma derrota. O que se passou não pode acontecer. É evidente. Quando todo o estádio chama macaco a um jogador e um treinador pensa tirar um jogador por causa disso, algo de mal se passa nesta Liga», disse o treinador do Real Madrid em declarações à Movistar.

Ancelotti explicou que disse a Vinícius que não lhe parecia justo que ele tivesse de deixar o jogo. «Tu és a vítima, não o culpado», partilhou, apontando o dedo à direção da Liga espanhola. «Eu não tenho um problema, porque para mim o Vinícius é o jogador mais importante e mais forte do Mundo, mas a Liga tem um problema. Este episódio tem de levar à paragem de um jogo, porque não foi uma pessoa que lhe chamou macaco, como aconteceu em muitos estádios: aqui foi racismo de um estádio para com um jogador. O jogo tinha de parar e eu diria o mesmo se estivéssemos a ganhar 3-0. A imagem que se passa é muito má.»

«O Vinícius começou a ser insultado desde o primeiro minuto. Ele está muito triste. Isto não pode acontecer», acrescentou, defendendo o jogador que durante o jogo virou-se para os adeptos do Valência e desejou a descida de divisão do clube. «É uma reação bastante normal para um jogador que... Não há mas... O estádio que grita insultos racistas, um estádio completo! Estou muito curioso para ver o que vai acontecer. O que acredito que vai acontecer? Nada, habitualmente não acontece nada, porque nada aconteceu noutros estádios. Não sou um juiz, mas a situação é bastante grave», disse em jeito de conclusão, repetindo não querer falar sobre futebol.

Já depois disso, a conferência de imprensa terminou com um momento de tensão durante uma troca de argumentos entre Carlo Ancelotti e um jornalista que disse ter ouvido a palavra «tonto» não «mono» [macaco em castelhano]. O mesmo repórter, que faz habitualmente a cobertura do Valência, considerou que havia uma grande diferença entre os dois tipos de insultos e que a acusação do técnico, de que todo o estádio dirigiu a Vinícius insultos racistas, era grave.

«Porque é que o árbitro parou o jogo? Porque lhe estavam a chamar tonto?! O jogo foi parado porque foi aberto o protocolo de racismo. (...) Quando um estádio grita tonto, não é aberto o protocolo de racismo. Fala com o árbitro!», disparou antes de sair da sala.

O Valência, na pessoa de Javier Solís, dirigente do clube, refutou as acusações do treinador do Real Madrid, tendo-as considerado «infelizes» e «equivocadas», provavelmente devido a um «erro no idioma». «Quando Ancelotti se der conta do erro que teve e das gravíssimas acusações que fez, deverá pedir desculpa.»

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