Mão em bronze do século I antes de Cristo (a.C.) foi encontrada em junho de 2021 sob as ruínas de um castelo em Irulegui, a sudeste de Pamplona
O texto mais antigo conhecido até agora em língua vascónica, falada na região onde atualmente se encontra o País Basco, foi descoberto no norte de Espanha, inscrito numa mão em bronze com mais de 2.000 anos.
Cinco palavras em "língua vascónica”, falada pelos habitantes da região naquela época e ancestral do atual basco, estão inscritas numa mão em bronze do século I antes de Cristo (a.C.) encontrada em junho de 2021 sob as ruínas de um castelo em Irulegui, a sudeste de Pamplona, capital de Navarra, divulgaram esta segunda-feira autoridades regionais e uma sociedade científica.
Estes objetos eram pendurados nas portas para proteger as casas do infortúnio.
A primeira palavra foi identificada como "sorioneku", que soa como "zorioneko" no basco atual, uma palavra que significa "boa sorte, auspicioso".
A tradução desta primeira palavra é "um passo histórico de enorme importância", tanto arqueológica como linguisticamente, explicou a presidente da região de Navarra, Maria Chivite.
"Este é o documento mais antigo e também o mais longo escrito na língua vascónica" da época, destacou, por sua vez, a sociedade científica Aranzadi em nota de imprensa.
‘Sorioneku’ es la primera palabra escrita en lengua vascónica, antecesora de nuestro euskera actual. La Mano de Irulegi es una oportunidad para saber más de nuestra historia. pic.twitter.com/tRQ3JJxLft
— María Chivite / ❤️ (@mavichina) November 14, 2022
Este grupo científico acrescentou que a descoberta confirmou “o uso da escrita pelos antigos habitantes desta região".
Além disso, os especialistas salientam também que esta mão "certifica o uso da língua basca na área geográfica onde foi descoberta, no início do século I a.C.".
As cinco palavras na mão foram escritas numa variação vascónica da escrita ibérica, um sistema utilizado antes que o alfabeto latino se tornasse o sistema de escrita dominante.
A peça foi encontrada no âmbito das escavações que estão a ser realizadas na cidade de Irulegi (Vale de Aranguren), habitada entre meados da Idade do Bronze (séculos XV a XI a.C.) e o final da Idade do Ferro (século I a.C.) e destruída por um ataque das tropas romanas.
A chamada "mão de Irulegi", que ficou preservada em bom estado, pois foi enterrada e selada por uma parede de adobe da época, é uma folha de bronze, que contém 53,19% de estanho, 40,87% de cobre e 2,16% de chumbo, algo comum em ligas antigas.
Para Joaquín Gorrochategui, especialista em paleolinguística e professor de Linguística Indo-Europeia da Universidade do País Basco, esta peça “é realmente excecional", sublinhando que possui características que a tornam "basca" e não genericamente "ibérica".
Quanto à linguagem utilizada, o investigador indicou que "pouco pode ser dito".
"Em euskera [atual língua basca] eu não diria" que está escrito, mas sim "na língua vascónica", salientou.
A inscrição é composta por cinco palavras distribuídas por quatro linhas. O alfabeto utilizado para escrever o texto pertence à família dos semi-silabários ibéricos, mas possui algumas características que levam a classificá-lo como um subsistema específico do território basco, incluindo o uso do signo ‘T’, não presente em outros subsistemas.
O significado das outras quatro palavras - "tenekebeekiratere", "oTirtan", "eseakari" e "eraukon" - ainda não é conhecido.