Igreja Católica de Espanha recebeu mais de 900 testemunhos de crimes sexuais contra menores

Agência Lusa , CNC
1 jun 2023, 22:32
"Perplexidades": da polémica do altar-palco ao relatório sobre os abusos sexuais na Igreja Católica

Entre os cerca de 700 padres e religiosos, mais de metade são membros do Clero

A igreja católica de Espanha recolheu testemunhos de 927 crimes sexuais contra menores cometidos no país por 728 padres e outras pessoas ligadas à igreja desde os anos de 1940, anunciou esta quinta-feira a instituição.

Segundo um relatório divulgado hoje pela Conferência Episcopal espanhola, 99% dos agressores e 82,62% das vítimas dos 927 crimes relatados são do género masculino.

Dos 728 agressores denunciados pelos testemunhos, 378 são padres. Há ainda 208 homens religiosos mas não ordenados sacerdotes e 92 laicos. Em 23 relatos, a pessoa que fez a denúncia não soube dizer que estatuto tinha o agressor dentro da igreja.

Cerca de 47% dos abusos foram cometidos num contexto escolar, 15,79% num contexto paroquial e 14,57% em seminários ou colégios internos.

O relatório é o primeiro documento apresentado pela igreja católica em Espanha sobre pedofilia.

O documento é o resultado de um trabalho desenvolvido em mais de 200 dioceses espanholas nos últimos três anos e que tem como objetivo atuar contra os crimes sexuais na igreja, segundo a Conferência Episcopal de Espanha.

O relatório integra ainda a informação fornecida pelo jornal El Pais relativa a testemunhos que recolheu sobre crimes sexuais na igreja contra menores.

Segundo a Conferência Episcopal, estão no relatório 191 testemunhos dos 503 que forneceu o El Pais.

Segundo a igreja, não foi possível integrar todos os casos indicados pelo jornal por faltarem dados relativos à vítima ou ao acusado que permitam iniciar a investigação.

Por outro lado, o relatório não integra os casos denunciados junto da Provedoria de Justiça espanhola, por a igreja não ter recebido essa informação, segundo a Conferência Episcopal.

A igreja católica espanhola diz ter elaborado o relatório a partir dos testemunhos que lhe chegaram, sem concluir pela inocência ou culpabilidade dos visados e acrescenta que alguns dos casos já passaram pela justiça e foram arquivados ou houve uma absolvição.

A Conferência Episcopal espanhola sublinhou que o relatório não é um documento fechado e apelou à denúncia de abusos sexuais na igreja junto dos serviços criados nas dioceses com esse objetivo.

Em 13 de março passado, o provedor de Justiça de Espanha revelou ter recolhido, nos nove meses anteriores, 445 testemunhos de abusos sexuais na Igreja Católica no país.

O parlamento espanhol decidiu em 10 de março do ano passado criar uma comissão presidida pelo provedor de Justiça para investigar, pela primeira vez de forma oficial, os abusos a menores no seio da Igreja Católica.

Em Espanha, a violência sexual contra menores no seio da Igreja nunca foi sujeita a uma grande investigação e, na ausência de dados oficiais, o diário El País lançou o seu próprio inquérito em 2018, listando mais e 1.200 vítimas desde os anos 1930.

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