Hortensia viu a sua casa ocupada durante três meses. Intrusos encheram a piscina, encomendaram pizzas e o gato desapareceu

31 ago 2022, 22:00
Uma imagem do interior da moradia de Hortensia permite vir um dos ocupantes a desfrutar da piscina. Fonte: El Mundo

Idosa, de 97 anos, vive num lar de idosos, mas regressava a casa semanalmente - até a família se aperceber de que mais alguém estava a viver lá

Hortensia residia numa moradia no município espanhol de Colmenar Viejo, nos arredores de Madrid, quando a sua provecta idade obrigou a que se mudasse para um lar de idosos. Mas não se desfez da casa, nem da vida que lá construíra: regressava regularmente para alimentar o gato, mudar de roupa e verificar se tudo continuava como deixara. No passado dia 23 de maio, algo mudou. Uma vizinha telefonou ao genro de Hortensia a alertar para luzes suspeitas no interior da moradia, numa altura em que sabia que a idosa de 97 anos não estava em casa. A família pensou, de imediato, tratar-se de um assalto, mas a realidade era ainda mais inusitada. A moradia tinha sido ocupada por intrusos - totais desconhecidos que, para além de ocuparem propriedade alheia, acumulavam faturas astronómicas de água e eletricidade.

Inicialmente, após o alerta da vizinha, o genro prontificou-se a investigar o sucedido. Javier del Pino denunciou a situação à Guardia Civil, acreditando tratar-se de um grupo de ladrões, mas as autoridades não se mostraram cooperantes. Ao ter conhecimento de que Hortensia residia agora num lar de idosos, disseram não poder solucionar a questão porque, afinal, "esta já não é a sua casa". Javier, incrédulo, contestou: "Não se trata de uma casa desocupada; voltamos cá uma ou duas vezes por semana." Os intrusos, por sua vez, defenderam-se apresentando um recibo de pizzas encomendadas dias antes, em que a morada da propriedade constava como destino de entrega. De acordo com o testemunho de Javier, esta foi prova suficiente para convencer as autoridades de que "não estavam perante uma situação de flagrante delito" e abandonar o local, sem tomar outras medidas senão identificar os intrusos. "Não é possível que um recibo seja mais válido para legitimar a ocupação de uma casa do que uma escritura", desabafa Javier, em declarações ao El Mundo

Perante tal situação - e face à idade avançada da mulher - os familiares de Hortensia optaram por lhe não contar o sucedido. O desgosto seria insuportável, frisa Javier: "Tinha muito carinho ao gato, e não fazemos ideia do que lhe terá acontecido." Reforça, ainda, as faturas exageradas de que só tomou conhecimento quando contactado pelo Canal de Isabel II, a empresa que administra o abastecimento de água em Madrid. "Telefonaram-me a perguntar por que razão havia tanto consumo de água." Veio, depois, a saber que os ocupantes encheram a piscina (então vazia) com água e consumiram cerca de 319 mil litros no total de três meses em que ocuparam a casa. E, quanto às faturas de eletricidade, Javier tem resposta imediata: "Nem sequer quero vê-las." 

O julgamento só aconteceu dois meses depois da primeira denúncia e identificação dos intrusos. No dia 19 de julho, dois suspeitos foram considerados culpados por crime de ocupação indevida de imóvel e, segundo Javier, condenados ao pagamento de uma multa de "quatro meses com quota diária de quatro euros". Foram posteriormente identificados outros dois intrusos, também chamados a julgamento. Aqui, a situação foi mais irregular: "No primeiro julgamento, os intrusos argumentaram ter comprado a casa a outra pessoa por 500 euros." O segundo julgamento? "Nem sequer compareceram." O genro de Hortensia refere que os suspeitos têm extenso historial criminal e que são "ocupantes profissionais", por "saírem de um julgamento e entrarem noutro". Assegura, ainda, que os ocupantes ameaçaram instalar-se em casa da sogra de forma permanente, supostamente para receber ajudas e indemnizações por parte do governo. 

"É um roubo consentido pelos governos", denuncia Javier. E não é o único. O número de ocupações ilegais tem vindo a aumentar drasticamente, com as comunidades autónomas de Cantabria e La Rioja a registar aumentos respetivos de 96% e 192%. Associações e proprietários protestam regularmente em frente ao Congresso, lamentando a inexistência de ferramentas "eficazes" no combate ao "problema social" do crime de usurpação de propriedade alheia. Os partidos PP e Vox mostraram-se os mais interessados em atender a estas propostas, inclusive com algumas iniciativas já apresentadas no parlamento - até agora, nenhuma delas implementada.

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