Diretora dos serviços secretos de Espanha mostra autorizações para espiar 20 políticos independentistas

Agência Lusa
5 mai 2022, 19:09
Parlamento espanhol

Paz Esteban foi chamada ao parlamento espanhol para esclarecer a espionagem, através do programa Pegasus, de dezenas de políticos, bem como do primeiro-ministro e da ministra da Defesa

A chefe dos serviços secretos espanhóis, Paz Esteban, mostrou esta quinta-feira na sua comparência perante uma comissão do parlamento as autorizações judiciais que permitiram a espionagem de cerca de vinte políticos pró-independência da região da Catalunha.

Fontes consultadas pela agência espanhola Efe indicaram que Paz Esteban levou para essa comissão um grande número de documentos sobre as ações levadas a cabo pelo Centro Nacional de Inteligência (CNI), incluindo autorizações judiciais para estas ações que, no entanto, ficaram muito aquém das 65 pessoas espiadas que os partidos independentistas catalães denunciaram.

A diretora do CNI mostrou aos deputados, que fazem parte da Comissão das Despesas Reservadas, as autorizações com nomes e apelidos, apesar de estes não terem sido revelados.

A responsável pelos serviços de informações espanhóis foi chamada ao parlamento para esclarecer a espionagem, através do programa Pegasus, de dezenas de políticos pró-independência e também do primeiro-ministro e da ministra da Defesa.

O líder parlamentar do Partido Socialista (PSOE), Héctor Gómez, salientou - depois da audição à porta fechada e com caráter confidencial - que a diretora do CNI foi clara e "enérgica" ao informar que todas as ações levadas a cabo por aquele organismo foram apoiadas pela lei.

Por seu lado, o líder parlamentar da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), o independentista Gabriel Rufián, explicou que ela assegurou que os políticos pró-independência, alegadamente espiados, o foram por um país ou países estrangeiros ou por outros organismos do Estado espanhol.

Governo espanhol alvo de espionagem

O movimento a favor da independência da Catalunha pede a demissão da ministra da Defesa, Margarida Robles, que considera ser a principal responsável pela alegada espionagem de dezenas dos seus líderes através da instalação do software Pegasus nos respetivos telemóveis, que foi revelado num relatório do grupo Citizen Lab, relacionado com a Universidade de Toronto (Canadá).

Segundo esse documento, pelo menos 65 ativistas catalães foram espiados entre 2017 e 2020, estando entre os visados o atual presidente regional catalão, Pere Aragonés (que era vice-presidente da região na altura), os antigos presidentes regionais Quim Torra e Artur Mas, assim como deputados europeus, deputados regionais e membros de organizações cívicas pró-independência.

Na segunda-feira, o executivo espanhol apresentou uma queixa no tribunal Audiência Nacional por alegada espionagem dos telemóveis do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e da ministra da Defesa, Margarita Robles, apesar dos factos terem ocorrido em 2021.

Este caso tem provocado um afastamento cada vez maior entre o Governo espanhol e os seus parceiros, especialmente a ERC (apoio parlamentar), que está a exigir demissões ao mais alto nível, e também na coligação governamental entre o PSOE e o Unidas Podemos.

Paz Esteban, diretora do CNI desde fevereiro de 2020 depois de ter ocupado o cargo durante meses de forma interina, foi ao Congresso dos Deputados (câmara baixa do parlamento espanhol) numa altura em que a sua própria continuidade no organismo é posta em causa, apesar do apoio explícito que lhe foi dado na quarta-feira pela ministra da Defesa, Margarita Robles, também no parlamento.

A primeira mulher na história a dirigir os serviços secretos espanhóis, para os quais trabalha há 40 anos, "teve de suportar estoicamente" acusações "que não correspondem à realidade", salientou Robles perante as críticas de muitos dos grupos que apoiam o Governo, incluindo o Unidas Podemos que faz parte do Governo de coligação.

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