Este ano, pela primeira vez em mais de uma década, não há garantia de maioria absoluta independentista no parlamento catalão
A Catalunha, no nordeste de Espanha, está este domingo a votar em eleições autonómicas e a grande questão é saber se os independentistas continuarão à frente do governo regional, como nos últimos 14 anos, ou se se abre uma nova etapa liderada pelos socialistas.
As últimas sondagens são já de segunda-feira passada - a lei espanhola não permite estudos destes nos cinco dias anteriores às eleições - e davam todas uma vitória clara ao candidado do Partido Socialista, Salvador Illa, que foi ministro da Saúde de Sánchez no primeiro ano da covid-19, mas sem maioria absoluta.
Segundo as sondagens, este ano, pela primeira vez em mais de uma década, não há garantia de maioria absoluta independentista no parlamento catalão.
Desde 2017 que os governos catalães independentistas resultam de "geringonças" parlamentares porque os partidos que defendem a separação de Espanha deixaram de ser os mais votados nas eleições regionais. Este ano, os socialistas chegam às eleições como favoritos e a incógnita desta vez é saber se a vitória do Partido Socialista impede a "geringonça" separatista e se se abre uma nova fase na Catalunha que, segundo os analistas, encerraria o "process", como ficou conhecida a tentativa de autodeterminação que culminou com uma declaração unilateral de independência em 2017.
Em segundo lugar nas sondagens surgia o Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente autonómico Carles Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para escapar à justiça espanhola após ter protagonizado uma declaração unilateral de independência. À espera de que seja definitivamente aprovada e entre em vigor uma lei de amnistia que negociou com os socialistas, Puigdemont, que fez a campanha a partir do sul de França, pretende regressar à Catalunha em breve e é, à partida, o candidato com mais possibilidades de liderar um novo governo regional independentista.
Em terceiro lugar nas sondagens surge o atual presidente regional, Pere Aragonès, da também independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).
Illa admitiu durante a campanha um acordo com a ERC, mas disse que só recusa falar com a extrema-direita; Puigdemont apelou à unidade independentista e garantiu que jamais fará presidente da Generalitat o socialista; Aragonès não se comprometeu nem rejeitou qualquer cenário, incluindo o de não haver alianças com nenhuma parte, o que abriria a porta a um bloqueio político e à repetição das eleições no outono.
Os cenários são ainda mais incertos por causa dos quase 40% de indecisos que apareciam numa das sondagens.
Salvador Illa quer "uma nova etapa na Catalunha"
"Não temos apenas de ganhar, temos de pedir uma ampla vitória para Salvador Illa,para ganhar em 12 de maio e no dia 13 poder governar a Catalunha", afirmou o líder do Partido socialista Espanhol (PSOE) e primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, no último comício em Barcelona.
Illa apelou à mobilização dos indecisos. O candidato disse por diversas vezes que só uma vitória que permita um governo dos socialistas garante "uma nova etapa na Catalunha" para "unir e servir" os catalães.
Para Salvador Illa, a Catalunha teve "uma década perdida" por causa do separatismo, o que prejudicou a economia e a qualidade dos serviços públicos, e só há duas opções em jogo nas eleições autonómicas de domingo: "mais do mesmo" com uma maioria independentista ou "abrir uma nova etapa" com um governo socialista que se foque na habitação, na mobilidade, na saúde ou na educação.
"Não queremos sublinhar o que nos separa (...), queremos sublinhar aquilo que nos une e unir os catalães aos resto dos espanhóis e ao resto dos europeus", afirmou, antes de defender que "o método é a colaboração, não a confrontação" com o governo e as autoridades do Estado espanhol. Espanha "é plural e diversa" e "a confrontação" colocou a Catalunha, uma região tradicionalmente próspera e de vanguarda, "na cauda" do país nos índices de educação, da criminalidde ou das energias renováveis, afirmou.
Illa realçou que disputa a presidência do governo regional no domingo com dois independentistas que alternaram no cargo desde 2016 por viabilizarem mutuamente os respetivos executivos, apesar de um ser de direita e outro de esquerda e das ruturas e confrontos recorrentes entre eles: Carles Puigdemont (do Juntos pela Catalunha, JxCat) e Pere Aragonès (Esquerda Republicana da Catalunha, ERC, atual líder do executivo). "Eles são os responsáveis pela situação da Catalunha", sublinhou.
Porque é que estas eleições são importantes para Espanha?
O desfecho das eleições na Catalunha de 12 de maio poderá ter impactos diretos na estabilidade política de Espanha, por o Governo nacional depender do apoio parlamentar dos dois maiores partidos independentistas da região.
A ERC já disse que os resultados e eventuais acordos pós-eleitorais não põem em causa os compromissos assumidos em Madrid. Já Puigdemont ameaçou retirar o apoio a Sánchez se os socialistas aceitarem os votos do Partido Popular (PP, direita espanhola) para inviabilizarem um executivo regional liderado por independentistas, como aconteceu no ano passado na câmara municipal de Barcelona.
À frente do Governo de Espanha desde 2018, o Partido Socialista Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez concedeu indultos aos separatistas condenados pela tentativa de autodeterminação de 2017, mudou o código penal para acabar com o delito de sedição de que outros estavam acusados (como Puigdemont) e avançou agora com uma amnistia.
Estas medidas foram negociadas com a ERC - que viabilizou todos os governos de Sánchez desde 2018 - e, no caso da amnistia, também com o JxCat, de que passou também a depender, no ano passado, para continuar no poder.
Estes acordos parecem estar agora a ser capitalizados eleitoralmente pelos socialistas e por Puigdemont, mas não pela ERC. Mas embora previsivelmente perdedora, poderá ser precisamente a ERC a ficar com a chave do poder na Catalunha no domingo.