"A Educação não morre em agosto." Pais para receber, exames para corrigir, notas para lançar, horários para fazer… O dia de uma escola em tempo de férias

18 ago, 08:00
Escola

O trabalho numa escola não acaba com o fim das aulas a meio do junho. Há exames para corrigir, notas para lançar, recursos para responder, turmas e horários para fazer. Trabalho que se estende até setembro e ao reinício das aulas. Desde o ano passado que o Ministério autorizou as escolas a encerrar uma semana, mas há quem tema que este ano haja escolas que nem esses dias consigam fechar

Foi entre dois mergulhos que Alberto Veronesi falou à CNN Portugal sobre os inúmeros emails que, mesmo de férias, recebe diariamente e os atos burocráticos que preenchem o dia de uma escola em agosto. Não é por estar a banhos, garante, que desliga por completo do que se passa dentro das quatro paredes do Agrupamento de Escolas de Santa Maria dos Olivais, em Lisboa, de que é diretor.

“Estou de férias, mas estou sempre atento ao email”, assegura.

É que, por não haver aulas, não se pense que a escola fecha portas: “Pelo contrário. Até temos bastante trabalho. Ainda na semana passada, com a nota informativa enviada pelo IGeFE, vimos que muitas vezes mandam trabalho para cima da semana em que dizem que podemos fechar a escola”.

O professor do Ensino Básico e diretor escolar desfia o rosário do “trabalho burocrático” que inunda as secretarias das escolas num mês em que “muitos pensam que estão fechadas”: “Há muita necessidade de alocar os alunos às turmas, uns que se matricularam mal, outros que querem entrar. Temos a inserção dos dados na plataforma INOVAR, que devia ter terminado a 12 de julho, mas, no meu agrupamento ainda estamos a fazer isso, porque é um agrupamento de exames e tivemos as assistentes técnicas alocadas ao serviço de exames. Pais para receber. Recursos hierárquicos de notas… E há um desfasamento enorme entre o que nos pedem e os prazos dados pela tutela”.

“A secretaria está aberta ao público das 09:00 às 16:00, com uma hora de almoço. Portanto, continuamos a receber os pais e os alunos, embora num horário mais reduzido. As duas assistentes técnicas que estão alocadas ao atendimento dos professores, estão neste momento a inserir dados. Tivemos de reduzir o tempo de atendimento dos professores, mas continuamos também a atender professores”, acrescenta.

A este trabalho burocrático atípico, acresce o facto de muitas escolas terem assistentes técnicos de férias. “Agosto é o mês em que as pessoas costumam tirar férias e querem tirar férias. Quem é pai sabe que o mês de agosto é mais pretendido para férias, porque é aquele em que as crianças não têm aulas e há menos oferta de ocupação de tempos livres”, justifica.

Escolas fecham uma semana

 À semelhança do que aconteceu no ano passado, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) permitiu às escolas que encerrem uma semana no mês de agosto. “Era algo que reclamávamos há muito tempo. Podermos fechar a escola em alguns dias de agosto, porque realmente os nossos funcionários administrativos estão cansados e a equipa diretiva também precisa de alguns dias em que possa, efetivamente, desligar”, admite Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Estabelecimentos Escolares (ANDAEP).

“As escolas não param mesmo! Fazem-se turmas, fazem-se horários… há muito trabalho administrativo. Quem é que está na escola? A direção executiva (fica sempre alguém da direção, mesmo que o diretor esteja de férias), serviços administrativos e alguns professores que podemos convocar para estes trabalhos. Este ano, acresce aquela nota do IGeFE sobre a recuperação do tempo de serviço, que veio acrescentar um trabalho imenso, sobretudo num mês em que não estávamos à espera. É um mês em que recebemos muitos pais que querem transferir os alunos, por causa dos manuais escolares. Alguns professores ainda estão agora a corrigir provas de exames das últimas fases”, acrescenta o representante dos diretores.

“Acho mesmo que há escolas que este ano nem sequer vão conseguir usufruir dessa possibilidade de poderem encerrar uma dessas duas semanas de agosto que podem escolher”, conclui.

“Trabalho imensamente burocrático”

Filinto Lima nota que “o trabalho das escolas e dos professores vai muito além de dar aulas” e aproveita para sublinhar uma luta dos docentes nos últimos anos: a luta contra a burocracia do trabalho de um professor. “O professor deixa de dar aulas ali a meio do mês de junho, mas o seu trabalho não acaba. É um trabalho imensamente burocrático”, assegura.

E se o trabalho de um professor não tem fim, o do diretor muito menos. Filinto Lima garante que, mesmo com alguém da equipa diretiva na escola, o diretor “tem de estar sempre atento ao que se está a passar na sua escola, liga várias vezes ao dia e leva às costas o computador para responder a emails, a solicitações e mandatos do Ministério”.

“São férias que estão condicionadas àquilo que se passa na educação. A Educação não morre em agosto, como se tem visto nos últimos anos até pela Comunicação Social”, resume.  

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