Exclusivo. Novo escândalo no Santa Maria: dermatologista regista cirurgias em seu nome enquanto estava em Itália

Sandra Felgueiras | Cátia Esteves , Titulo corrigido às 21:30
21 jun, 23:02

Rita Travassos registou a realização de cirurgias em seu nome, mas que foram feitas por médicos internos, enquanto a clínica se encontrava num congresso em Itália, a mais de dois mil quilómetros

É um novo escândalo no serviço de Dermatologia do Hospital de Santa Maria. Depois de o Exclusivo da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) ter divulgado o caso de Miguel Alpalhão, que ganhou 400 mil euros em apenas 10 sábados.

A equipa de investigação que tomou conta do caso descobriu um outro caso: Rita Travassos, também ela dermatologista, registou a realização de cirurgias em seu nome, mas que foram feitas por médicos internos, enquanto a clínica se encontrava num congresso em… Itália, a mais de dois mil quilómetros.

Só esta médica encaixou 113 mil euros em apenas sete sábados.

“Atualmente, a Dermatologia do Santa Maria é uma anarquia completa. O serviço está ao abandono”, afirma um dermatologista que falou com o Exclusivo em condição de anonimato.

“Temos uma urgência que funciona das 09:00 às 21:00. Todos os dias é garantida, na maioria, por médicos internos, médicos em formação que estão escalados sozinhos, sem qualquer apoio, sem qualquer supervisão, e são eles os responsáveis pelos doentes mais complexos”, acrescenta a mesma fonte.

Situações estas que acontecem todos os dias e que são “potencialmente graves”, até porque há doentes oncológicos imunossuprimidos, além de infeções “potencialmente fatais”.

E todos estes problemas “são largados nos ombros de quem está apenas ainda a começar a especialidade”. Em sentido contrário, alguns especialistas mais experientes parecem carregar um peso menor.

O médico que falou com o Exclusivo aponta mesmo que há quem ponha os seus interesses pessoais à frente da ética que os clínicos são obrigados a seguir.

O caso Rita Travassos

O caso de Rita Travassos é agora conhecido: foi a um congresso a Itália no dia 14 de maio, mas, ao mesmo tempo, de acordo com os registos, também terá operado vários doentes nessa altura.

Sendo impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo, o Exclusivo sabe que essas cirurgias foram realizadas por médicos internos.

Um caso conhecido já depois da notícia relativa a Miguel Alpalhão, que abriu como que uma caixa de Pandora sobre os problemas do serviço de Dermatologia do maior hospital do país.

Contactada pelo Exclusivo, Rita Travassos não respondeu ao pedido de esclarecimentos.

O médico que falou em condição de anonimato com o Exclusivo entende que os valores pagos por estas cirurgias são “obscenos”. “Algo não está correto e não faz sentido, tendo em conta a complexidade dos procedimentos que são feitos”, aponta.

Em causa está o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) que o Governo pretende substituir por um novo modelo - o Sistema de Informação Nacional de Acesso a Consulta e Cirurgia (SINACC). Ou o aproveitamento desse mesmo sistema, melhor dizendo.

Em março deste ano, o Ministério da Saúde criou, através de um despacho, um grupo de trabalho para preparar a extinção do SIGIC e a implementação do SINACC, uma das medidas previstas no plano de emergência e transformação da saúde que o Governo aprovou em maio de 2024.

Antes disso, e como pode ver de forma mais desenvolvida no vídeo associado este texto, houve um plano de ação que se aproveitou deste sistema.

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