A sua personalidade pode proteger ou envelhecer o seu cérebro. Eis como

CNN , Sandee LaMotte
17 abr 2022, 09:00
Ser-se extrovertido e estar-se socialmente integrado pode afastar, por mais tempo, problemas cognitivos. Foto: Adobe Stock

De acordo com um estudo, certas características da personalidade de uma pessoa podem ser um fator decisivo no desenvolvimento de um défice cognitivo ligeiro numa idade avançada.

Ser mais consciencioso e extrovertido afasta, durante mais tempo, a possibilidade de a pessoa desenvolver um défice cognitivo ligeiro. No entanto, ter níveis mais elevados de neuroticismo aumenta as probabilidades de se ter um declínio cognitivo, segundo um estudo, publicado segunda-feira no “Journal of Personality and Social Psychology”.

"As características da personalidade refletem padrões, mais ou menos duradouros, da maneira de pensar e da forma como uma pessoa age. Progressivamente, isso pode influenciar, ao longo da vida, o envolvimento em comportamentos saudáveis e nocivos, bem como padrões de pensamento", disse Tomiko Yoneda, através de um comunicado. Ela é a autora do estudo e aluna pós-doutorada em Psicologia na Universidade de Victoria, Canadá.

Yoneda refere: "Ao longo da vida, o acumular de experiências pode contribuir para uma maior propensão para determinadas doenças ou transtornos, tal como ter um défice cognitivo ligeiro. Isto pode, de igual modo, contribuir para diferenças individuais relativamente à capacidade de lidar com as alterações neurológicas relacionadas com a idade.”

Embora se veja essa associação na prática clínica, é difícil saber o que é a "galinha ou o ovo", disse o Dr. Richard Isaacson, diretor da Clínica de Prevenção do Alzheimer, no Centro de Saúde Cerebral da Faculdade de Medicina Schmidt, da Universidade Atlântica, Flórida.

"Características específicas e certos comportamentos que as pessoas tiveram podem aumentar o risco de estas desenvolverem um declínio cognitivo ou de virem a ter Alzheimer. Pode, de igual modo, haver um papel biológico direto relacionado à patologia precoce da doença", disse Richard Isaacson, que não participou do estudo.

"O neuroticismo é, especificamente, uma característica que vem à mente. As meta-análises passadas também mostram isso. As preocupações e remoer sobre algo estão ligados a volumes cerebrais menores", disse ele através de e-mail. "Não é claro se o stresse associado à neuroinflamação impulsiona essa situação. Na realidade, um biomarcador não existe para isso. Como tal, é difícil prová-lo.”

Características principais da personalidade

O estudo analisou a personalidade de quase 2 mil pessoas que participaram no projeto Memória e Envelhecimento, da Universidade Rush. Este estudo da população idosa da região de Chicago começou em 1997. Estudou-se o papel de três traços cruciais da personalidade: a consciência, a extroversão e o neuroticismo. Ao analisar-se estas características, consegue perceber-se se as pessoas terão, na sua vida, algum tipo de declínio cognitivo.

O neuroticismo é uma característica da personalidade que influencia a forma como uma pessoa lida com o stresse. As pessoas neuróticas abordam a vida com ansiedade, raiva e autoconsciência. Muitas vezes, veem pequenas frustrações como algo irremediavelmente insuportável ou ameaçador.

Yoneda disse: “Pessoas conscienciosas têm tendência a ter níveis mais altos de autodisciplina. São, de igual maneira, organizadas e focadas nos objetivos. No entanto, as pessoas extrovertidas sentem-se mais entusiasmadas com a vida. Muitas vezes, são mais assertivas e descontraídas.”

“Pessoas que apresentam resultados mais elevados em termos de conscienciosidade ou que tenham resultados mais baixos a nível do neuroticismo tiveram, de maneira significativa, menos probabilidades de desenvolver um défice cognitivo ligeiro durante o estudo”, disse Yoneda.

Ser-se extrovertido e estar-se socialmente integrado pode afastar, por mais tempo, estes problemas cognitivos.

Por cada seis pontos adicionais que uma pessoa marcou numa escala de conscienciosidade, estes estavam "associados a uma redução de 22% do risco de transição do funcionamento cognitivo normal para um défice cognitivo ligeiro", disse Yoneda.

O estudo disse que isso pode fazer com que uma pessoa de 80 anos viva mais dois anos sem problemas cognitivos, em comparação com aqueles que obtiveram baixa percentagem a nível da conscienciosidade.

Ser-se mais extrovertido e socialmente integrado parecia oferecer um ano de vida adicional livre de demência, disse o estudo. Esses fatores também aumentaram a capacidade de uma pessoa recuperar a função cognitiva normal, mesmo após receber um diagnóstico de défice cognitivo ligeiro. Talvez esta situação se deva aos benefícios da socialização.

Contudo, à medida que os níveis de neuroticismo aumentavam, também aumentava o risco de transição para o declínio cognitivo. A cada sete pontos adicionais na escala, "estes estavam associados a um risco 12% maior", disse Yoneda. Isto pode traduzir-se numa perda de, pelo menos, um ano de cognição saudável.

Este estudo não é o primeiro a estabelecer uma ligação entre personalidade e função cerebral.

Pesquisas anteriores mostraram que as pessoas mais abertas a experiências, mais conscienciosas e menos neuróticas têm melhor desempenho cognitivo nos testes. Ao longo do tempo, apresentam um menor declínio cognitivo.

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