O exercício pode proteger o seu cérebro, mesmo que tenha sinais de demência, revela um estudo

CNN , Sandee LaMotte
25 jan 2022, 09:00
O exercício melhora as proteínas cerebrais que protegem contra o declínio cognitivo, diz um estudo. Foto: Peter Kim/Adobe Stock

Quem se mexe mais, tem mais proteínas protetoras, revela este estudo. Mesmo quem já tem sinais de Alzheimer e de outras demências pode beneficiar com o exercício físico

O exercício é bom para si. Tem-se provado que fazer exercício melhora quase todos os órgãos do corpo, luta contra quase todas as doenças diagnosticadas pelos médicos e melhora quase todos os problemas de saúde com os quais talvez viva diariamente.

Mas há mais. Um novo estudo mostra que o exercício aumenta os níveis de uma proteína conhecida por fortalecer a comunicação entre as células cerebrais através de sinapses, o que pode ser um factor decisivo para prevenir a demência.

Encontrou-se o efeito protetor em pessoas ativas mais velhas, cujos cérebros mostram sinais de placas, de novelos de fibrilhas, sinais de Alzheimer e de outras doenças cognitivas.

“As sinapses são as junções críticas da comunicação entre as células nervosas. São onde realmente tudo acontece quando se transformam em conhecimento”, diz, através de e-mail, a autora do estudo, Kaitlin Casaletto, professora assistente de neurologia no Centro de Memória e Envelhecimento na Universidade da Califórnia, São Francisco.

Ela acrescenta: “Todos os nossos pensamentos e memórias ocorrem como resultado dessas comunicações sinápticas”.

Estudos anteriores mostraram que a atividade física pode reduzir o risco de demência entre 30% a 80%. Casaletto explica que “até agora, não se sabe como isto acontece a nível biológico nos humanos”.

“Pela primeira vez, identificamos que o funcionamento sináptico nos humanos pode ser o caminho pelo qual a atividade física promove a saúde mental”, diz Casaletto, acrescentando que o estudo somente mostra uma associação e não necessariamente uma causa/efeito.

Contudo, Casaletto acrescenta: “Acho que estas descobertas começam a demonstrar a natureza dinâmica do cérebro em resposta às nossas atividades e a capacidade de o nosso cérebro responder ao exercício, mesmo em idades mais avançadas”.

A regulação das proteínas é essencial

Um cérebro que funcione bem faz com que os sinais elétricos se movam suavemente entre sinapses e neurónios para outras células do corpo. Para tal, o cérebro precisa de substituir as proteínas danificadas nessas sinapses, ao mesmo tempo que faz com que estas sejam equilibradas e reguladas corretamente.

“Há muitas proteínas presentes na sinapse que ajudam a facilitar diferentes aspetos na comunicação célula a célula. Essas proteínas precisam de estar estabilizadas umas com as outras, de forma a que a sinapse funcione bem”, escreveu Casaletto.

Faz tudo parte da forma como o cérebro transforma os seus circuitos neuronais, mantendo-os saudáveis.

Estudos feitos em ratos têm demonstrado o efeito protetor do exercício físico no cérebro, após este ser autopsiado. No entanto, estabelecer a ligação em humanos tem sido difícil.

Neste novo estudo, publicado no “Alzheimer's & Dementia: The Journal of the Alzheimer's Association”,os investigadores conseguiram estudar cérebros humanos. Analisaram os níveis de proteínas em pessoas que doaram os seus cérebros à ciência, como parte do projeto “Memória e Envelhecimento”, na Universidade Rush, em Chicago. “Em média, a idade das pessoas estudadas situava-se entre os 70 e os 80 anos”, disse Casaletto.

Como parte do projeto, monitorizou-se também a atividade física dos participantes mais velhos. Os resultados mostraram que, quem se mexia mais, tinha mais proteínas protetoras.

“Quanto maior a atividade física, maior o nível de proteínas sinápticas no tecido cerebral. Isto sugere que cada movimento conta, no que diz respeito à saúde cerebral”, diz Casaletto.

“Recomendamos cerca de 150 minutos semanais de atividade física. Estudos anteriores demonstraram que até mesmo andar reduz o risco de perda cognitiva”, acrescentou Casaletto através de e-mail.

Ela acrescentou ainda que: “Isto parece resultar, independentemente de a pessoa já ter sinais de Alzheimer ou de outras demências”.

“Vários estudos anteriores mostraram que níveis elevados da mesma proteína sináptica no tecido cerebral estão associados a um melhor desempenho cognitivo, independentemente das placas e dos novelos de fibrilhas”, escreveu ela.

“Estes dados reforçam a importância de incorporar a atividade física regular no nosso dia a dia, quer sejamos muito novos ou não” – disse Heather Snyder, vice-presidente das relações médicas e científicas da Associação contra o Alzheimer, que financiou parcialmente o estudo.

“É importante encontrar um tipo de exercício de que goste, de forma a mantê-lo na sua rotina. Para os mais velhos, é importante falarem com os seus médicos sobre as novas atividades físicas, de forma a garantir que é seguro fazê-las”, disse Snyder, que não esteve envolvida no estudo.

Como começar a exercitar-se

Quer fazer exercício, mas não sabe como começar? Pedimos à colaboradora da CNN na área do fitness, Dana Santas, as suas melhores dicas para acrescentarmos mais exercício físico às nossas vidas.

“Não tente fazer tudo no início, senão pode lesionar-se e perder a sua motivação”, disse Dana Santas, que é igualmente treinadora de atletas profissionais.

“Em vez disso, comece com exercícios funcionais e de respiração, próprios para fazer a ligação entre o corpo e a mente. Depois, comece a andar a um ritmo moderado a rápido.”

“Nos primeiros dias, comece por andar entre cinco a dez minutos, até se aperceber da melhor altura e local para as suas caminhadas”, disse Santas. “Assim que determinar isso, comece por andar mais alguns minutos. Preferencialmente, quer andar cerca de 20 a 30 minutos por dia”.

Santas aconselha: “Acrescentar exercício à sua vida é importante, mas deve fazer disso um hábito.”

“Adote certas medidas, de forma a que o exercício se torne parte da sua vida, seja algo de que gosta e sinta orgulho quando o faz, em vez de vê-lo como algo negativo ou como uma tarefa”, disse Santas.

Ela sugere que crie novos hábitos ou faça exercícios simples antes, depois ou durante uma tarefa diária normal, tal como fazer a cama, tomar banho ou lavar os dentes.

“Há oito anos que faço 50 agachamentos com o peso do corpo ou dois minutos de cadeira isométrica enquanto lavo os dentes”, disse Santas à CNN.

Acrescentar movimento às suas tarefas diárias pode ajudar. Digamos que se levanta e se mexe três vezes por hora, durante o seu dia de trabalho.

“São 24 minutos de exercício diário. Acrescente mais 10 minutos a andar ou a subir escadas antes ou depois do trabalho. No total, faria 34 minutos de exercício diário ou 170 minutos numa semana de trabalho de cinco dias”, disse Santas.

“Isso está acima dos 150 minutos semanais ou das duas horas e meia recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Tudo isto, sem sequer ir ao ginásio”.

Quer saber mais? Junte-se a Dana Santas e aos seus sete boletins informativos e comece já os objetivos fitness que definiu para o próximo ano. Dicas de saúde e fitness para ajudá-lo a manter as resoluções de Ano Novo

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