«O Sérgio Conceição não esteve com coisas, disse que não contava comigo»

4 nov 2020, 09:47

Entrevista a Rui Pedro, ex-avançado do FC Porto e agora a atuar no Leixões - Parte I

Dia 3 de dezembro de 2016. O FC Porto está empatado contra o Sp. Braga e o Dragão exige golos. Um golo, pelo menos. Nuno Espírito Santo olha para o banco de suplentes e aos 75 minutos lança Héctor Herrera e o adolescente Rui Pedro. Saem Óliver Torres e Miguel Layún.

O Sp. Braga joga reduzido a dez unidades desde o minuto 35, mas a bola não entra. Até que, no quinto minutos de compensação, Diogo Jota recebe e lança o rookie em velocidade. Na cara de Marafona, a finalização é impressionante: qualidade técnica e frieza. Um diamante.

O que se passou com este Golden Boy? Numa entrevista emocionante ao Maisfutebol, o avançado assume responsabilidades em determinados momentos, mas garante ser hoje em dia um homem diferente e pronto para voltar ao topo. Com a camisola do Leixões.

PARTE II: «Dava cachaços ao João Félix no quarto da Casa do Dragão»

PARTE III: «Gosto e preciso de ser mimado pelos treinadores»

PARTE IV: «No Leixões voltei a ser feliz a jogar futebol»

Maisfutebol - O que sente ao rever este momento? [Rui Pedro vê o vídeo do golo ao Sp. Braga no Dragão]
Rui Pedro - (silêncio)

 

A finalização é muito boa.
É bom recordar este momento, foi o momento mais importante da minha carreira até agora. O mais intenso, o que mais vivi. Não esperava entrar naquele jogo, foi surreal fazer o que fiz.

Costuma recordar estas imagens, pensar na execução incrível e na forma como o Dragão explodiu ou prefere não pensar muito nisto?
Sim, sim, acho que é mais por aí. Antes, via muito esse e outros vídeos. Agora estou mais focado naquilo que posso fazer no Leixões, mas claro que esse golo foi muito importante para mim. Esse golo relançou-me no FC Porto, mas para mim é complicado falar sobre ele, até porque a minha ligação ao clube entretanto acabou.

Nessa época de 2016/17 o Rui Pedro fez 13 jogos pelo FC Porto e foi comparado ao Gonçalo Paciência e ao André Silva. Apareceu até na lista da UEFA dos Golden Boy.
Nessa fase em 2017 eu estava muito bem, mas acho que foi injusto para mim colocarem-me num patamar tão alto e compararem-me a esses avançados. Esse ano com o Nuno na equipa principal foi muito bom. Eu treinava com a equipa A e jogava pela B. Certo dia, o mister Nuno chamou-me e disse que eu ia ser convocado para a Taça da Liga. Eu nem sabia como reagir.

Sentiu-se muito pressionado?
Mais tarde, sim. Não me ajudou nada ter sido tão valorizado quando eu tinha feito tão pouco. Ok, fiz um golo decisivo ao Sp. Braga, mas não foi a Liga dos Campeões. Na altura não tive a perceção das coisas, mas criaram-se expetativas exageradas sobre mim.

Com a saída do Nuno e a entrada do Sérgio Conceição como ficou a sua situação?
Fiz a pré-época com o FC Porto e fui emprestado ao Boavista no último dia do mercado. Mas o mister Sérgio foi sincero comigo, não andou cá com coisas. Disse que não contava comigo. Foi frontal, como é sempre, e disse-me a verdade.

O empréstimo no Boavista não correu bem.
Não correu bem por muitas coisas, grande parte por culpa minha.

O Rui Pedro mudou muito desde esse verão de 2017? Treina melhor, comporta-se melhor, tem uma vida mais equilibrada?
Acho que estou muito melhor. Fisicamente estou muito bem, preocupo-me muito mais comigo. No passado, enfim, podia ter reagido de forma diferente perante determinadas situações.

Tinha um feitio complicado?
Sim, dentro de campo tenho, ou tinha, um feitio muito complicado (risos). Melhorei. Gosto de treinar, tenho-me sentido realizado no Leixões. Nós até temos um joguinho no fim dos treinos e outro no início. Fazemos um dois contra dois numa caixinha e nesse jogo o Beto é o segundo melhor (risos). Quando estamos felizes, acordamos e trabalhamos de uma forma diferente. As coisas fluem bem e os golos surgem naturalmente.

No passado não era assim.
Não. Eu andava muito obcecado com os golos e não agia da forma mais correta com os meus colegas nos treinos. Reclamava muito com eles. E eles não faziam o mesmo comigo quando eu perdia uma bola. Estou melhor, mas a realidade é que eu era complicado. Mesmo quando os treinadores me faziam algum reparo, eu era capaz de reagir. Deixei de fazer isso, estou mais homem, estou diferente. Cresci muito rápido, a vida obrigou-me a isso. Esse foi um dos meus grandes problemas.

Que tipo de avançado é o Rui Pedro nesta fase da carreira?
Sou um avançado rápido, finalizo bem, tenho boa capacidade técnica. Por vezes, exagero na forma como saio e fujo da área. Não consigo estar muito tempo sem ter ligação com a bola e com o jogo. Caio nas linhas, recuo para tabelar. Talvez devesse estar mais na área. Tenho de aprender, faz parte da evolução. Não me considero um ponta-de-lança fixo, mas um avançado. Sinto-me bem em equipas que gostem de ter bola.

O avançado que há quatro anos decidiu o FC Porto-Sp. Braga nos descontos ainda existe?
(pausa) Sim. Esse avançado ainda existe e vai voltar a aparecer.

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