A história do português que pôs fim às carreiras de Pirlo e Kaká

18 abr 2020, 18:27

Pedro Santos, de 31 anos, esteve no último jogo de duas lendas do futebol mundial e orgulha-se por lhes ter 'encurtado' as carreiras

A chamada para Ohio é feita ao final da tarde em Portugal, hora de almoço naquele ponto dos Estados Unidos da América.

Foi lá, mais propriamente na cidade de Columbus, que Pedro Santos, futebolista de 31 anos, foi apanhado pela pandemia da Covid-19, que obrigou o campeonato norte-americano a parar quando estavam disputadas apenas duas jornadas.

Apesar dos números assustadores da pandemia nos EUA, o país com mais casos e maior número de mortes, a cidade de Columbus está a conseguir lidar bem, fruto de ter adotado rapidamente medidas de confinamento – como pode ler numa outra peça feita a partir desta conversa.

Há três épocas e meia na MLS, Pedro Santos garante estar muito satisfeito com a opção que tomou quando saiu do Sp. Braga para ir em busca do sonho americado.

O clube que representa, o Columbus Crew, acionou no início da época uma cláusula que lhe permitia renovar por mais um ano e há ainda outro em perspetiva.

Por isso mesmo, Pedro Santos não pensa voltar a Portugal. Pelo menos, para já. É do soccer que o jogador garante que vai levar algumas das melhores recordações da carreira, ainda que tenha sido também por terras americanas que viu morrer o sonho de chegar à seleção.

O atleta assume também já pensar no fim da carreira e imagina-se como treinador no futuro, até por ter tido «uma boa escola» com treinadores como Paulo Fonseca, Sérgio Conceição, Jesualdo Ferreira ou Nuno Espírito Santo.

Mas para já, a ambição não deixa o relvado. E o objetivo é vencer a MLS. Logo que a pandemia permita que a bola volte a rolar.

Maisfutebol: Só se jogaram duas jornadas da MLS, mas qual é a ambição do Columbus Crew para esta época?

Pedro Santos: A expectativa estava alta. Tínhamos a ambição de vencer a MLS Cup, sabendo que é difícil e que outras equipas lutam pelo mesmo objetivo. Mas o objetivo é esse: fazer uma boa primeira fase, ficarmos bem classificados para ter alguma vantagem quando o play-off começar. E tentar conquistar a MLS.

MF: Qual o balanço que faz destes três anos e meio na MLS?

Pedro Santos: Faço um balanço positivo. Neste tempo todo, tive uma época que não me correu tão bem em termos pessoais, há dois anos, mas tirando isso, tem-me corrido bem. Na última época foi bom em termos individuais, não tão bom coletivamente, mas no geral tem sido uma experiência e uma oportunidade fantásticas. E é um orgulho representar Portugal nos EUA.

MF: Sente-se bem na MLS?

Pedro Santos: Sim. A liga tem a característica de os jogos serem mais abertos e para um jogador como eu, que gosta de ter bola, pensar o jogo e jogar no espaço, é bom. Permite-me jogar como gosto. Tive a felicidade de me ter adaptado bem, que era importante. Olhando para trás, não me arrependo nada da decisão que tomei.

MF: Tem defrontado muitos dos melhores jogadores do mundo, ainda que em fim de carreira.

Pedro Santos: Sim, tenho tido essa oportunidade fantástica. Não são todos os jogadores que conseguem jogar com futebolistas tão reconhecidos, e eu tive essa oportunidade. Esses são alguns dos melhores momentos que vou recordar quando olhar para trás.

MF: Daqueles contra quem já jogou, quais destaca?

Pedro Santos: Destaco o Pirlo, que foi o maior de todos. Mas também joguei contra o Rooney, o David Villa, o Ibrahimovic... Tenho defrontado grandes jogadores.

MF: Jogou contra o Pirlo naquele que acabou por ser o último jogo da carreira dele, uma vez que foi eliminado pelo Columbus Crew.

Pedro Santos: Sim, e tive a oportunidade de tirar uma foto com ele no final do último jogo que fez. Ah, e lembro-me agora que também estive no último jogo do Kaká. Também perderam contra nós e foi o último jogo dele.

MF: Está a destruir a carreira de lendas do futebol, portanto…

Pedro Santos: [gargalhada] Sim. Ganhámos à equipa do Kaká e eliminámo-los depois de já termos afastado também a equipa do Pirlo do play-off. Acabaram por não ser as despedidas que eles queriam, mas foi bom para mim [mais risos].

MF: Tem o objetivo de voltar a Portugal ou à Europa?

Pedro Santos: Sim. Eu não fecho objetivos. Não sei o futuro, nem como as coisas vão ser quando estiver a terminar o contrato. O meu futuro está em aberto. Tanto posso ficar pela MLS, como, se não puder ficar, regressar a Portugal ou a outro país da Europa. Para já, sinto-me bem aqui, não tenho a necessidade de voltar para Portugal.

MF: A voltar ao país, ainda acredita na possibilidade de ter uma oportunidade num dos três grandes?

Pedro Santos: Nos três grandes não acredito. Já estou com uma idade que não é habitual ser aposta nesses clubes. Por isso, se regressar será para uma equipa com outros objetivos.

MF: Como tem visto a sustentação do Sp. Braga nos últimos anos?

Pedro Santos: Fico muito contente. Estão a chegar ao ponto que merecem, que passa por conquistar títulos. Nos últimos meses estavam a fazer uma época fantástica, a recuperar lugares na tabela e conquistaram um título. Foi pena a eliminação na Liga Europa, mas tirando isso têm estado a fazer um trabalho fantástico. E só espero que no futuro possam conquistar mais títulos porque é um clube que guardo com muito carinho no coração.

MF: O que achou do fenómeno Rúben Amorim no clube?

Pedro Santos: Foi bom. Trouxe a alegria que faltava na equipa. Fez um trabalho fantástico. Tanto é, que foi o treinador mais caro de sempre em Portugal. Pôs a equipa a jogar um futebol muito bom, ainda para mais com um troféu para o clube.

MF: E como está o sonho da seleção?

Pedro Santos: Está a terminar [risos]. Sei que é difícil. Já o era em Portugal, e nos últimos anos têm aparecido jovens com grande valor na minha posição. Jogadores que atuam em grandes clubes europeus, por isso fica mais difícil para os outros jogadores.

MF: Já olha para o final da carreira?

Pedro Santos: Sim, já vou pensando no que poderá vir e naquilo que poderei fazer.

MF: E o que poderá ser?

Pedro Santos: Gostava de tirar o curso de treinador, mas aqui as coisas são um bocado diferentes. Aqui o curso de treinador só serve para a MLS. E não tenho a possibilidade de fazer o curso da UEFA agora. Por isso tem de ficar em standby para quando regressar à Europa. Mas se tiver a oportunidade de tirar o curso daqui da MLS também o vou tirar porque pode ser mais uma porta aberta no futuro.

MF: É, portanto, como treinador que se imagina?

Pedro Santos: É uma coisa de que gosto. Não sei se tenho o perfil indicado, só com a experiência posso perceber se isso me apaixona. Mas que é algo de que gosto, tenho a certeza.

MF: Há algum treinador com quem se identificou mais na forma de trabalhar?

Pedro Santos: Felizmente tive grandes treinadores, com quem aprendi imenso. Gosto das ideias e da forma de jogar das equipas do Paulo Fonseca; gosto da maneira como o Sérgio Conceição trabalha; também gosto da forma como o professor Jesualdo Ferreira ensina os jogadores; gostei da forma como o Nuno Espírito Santo lidava com os jogadores. Ou seja, tenho conhecimentos de vários treinadores. O mister José Peseiro também. Nesse aspeto, sou um felizardo, porque tive grandes treinadores. Se no futuro conseguir espremer um pouco de tudo, as coisas podem correr-me bem.

 

Relacionados

Patrocinados