«Na Copa América só fiz dois jogos porque tive varicela»

12 dez 2020, 09:22

Entrevista ao futebolista venezuelano do Santa Clara, Mikel Villanueva – Parte I

Chegou aos Açores em agosto para representar o Santa Clara. Nascido em San Cristóbal, na Venezuela, a 14 de abril de 1993, Mikel Villanueva tem um percurso pouco comum no futebol. Até aos 19 anos, o defesa central, que tem ascendência espanhola – um avô era basco, uma avó galega – jogou basebol cerca de 15 anos. Mas num dos desportos de referência no seu país natal, viu que não ia dar para ser profissional. Ingressou então na universidade para estudar engenharia industrial, aí começou a jogar futebol e despontou a atenção do clube da sua cidade, o Deportivo Táchira.

Em oito anos, foi do basebol ao futebol. Da Venezuela a Portugal. Pelo meio, uma viagem incrível em Espanha. Começou e acabou no Málaga, onde foi dos campos modestos da quarta divisão até à Liga em um ano. Jogou contra Ronaldo no Bernabéu, contra Neymar em Camp Nou. Viveu, no Reus, uma crise sem precedentes num clube que foi expulso do futebol profissional. Agora, em Portugal, quer singrar, de olho numa inédita qualificação com a Venezuela de José Peseiro para o Mundial 2022. Tem 27 internacionalizações e dois golos pela 'vinotinto'.

Maisfutebol (MF) – Como surgiu a ida para o Santa Clara?
Mikel Villanueva (MV) –
Fiquei livre de contrato com o Málaga e o clube entrou em contacto com os meus representantes. Tinham interesse em que viesse e não tive dúvidas pelo interesse que tinham. Para mim, era importante jogar.

MF – Entrou de início na equipa e fez um grande jogo numa vitória difícil em Braga. Foi considerado o homem do jogo.
MV –
Foi um início muito bom. Deram-me confiança para começar na equipa, fi-lo bem e continuo a titular. É importante.

MF – Esperava uma adaptação mais fácil ou difícil?
MV –
Vinha com a ideia de jogar e ganhar um lugar na equipa. Até agora, consegui. Quero trabalhar para continuar a jogar. Espero continuar a ter minutos e contribuir com coisas positivas para a equipa.

MF – Foi à seleção em outubro, lesionou-se e falhou quatro jogos no regresso. Foi um obstáculo na evolução…
MV –
É verdade. Nunca esperamos lesões, menos quando estamos a jogar e a ser importantes. Não pensei que seria tão demorada, mas já passou, recuperei, estou a 100 por cento e a jogar de novo.

MF - Consigo, o clube venceu quatro jogos, empatou um e perdeu um (com o FC Porto). Sem o Mikel, uma vitória e três derrotas. Já se considera preponderante na equipa?
MV –
Não sei se preponderante, mas a estatística esta aí e estive bem. Ajudei a equipa.

MF – Não parece um jogador de muitos golos. Em cinco épocas na Europa, marcou quatro…
MV –
É algo que devo melhorar, tenho estatura boa para aproveitar em bolas paradas, cantos, tenho de tirar proveito disso. Tenho de trabalhar para melhorar.

MF – Como tem sido trabalhar com Daniel Ramos?
MV –
Muito bom. É fácil quando um treinador dá confiança. Foi o que ele me deu: confiança, liberdade de eu jogar como gosto. É importante para um jogador. Acontece tudo mais rápido.

MF – Já jogou com o FC Porto e com o Sp. Braga. Qual foi o adversário mais difícil?
MV –
Para mim, o jogo em Braga foi o mais difícil. Ganhámos, mas eles estiveram bastante tempo perto da nossa baliza. Defendemos muito, mas o importante foi ganhar o jogo.

MF – Até onde pode ir o Santa Clara esta época?
MV –
Para já, continuar na Taça de Portugal e chegar o mais alto possível na Liga. Temos esse objetivo, estamos perto dos primeiros lugares. A trabalhar forte, o objetivo vai cumprir-se, seguramente.

MF – Entre o plantel do Santa Clara vão-se vendo algumas brincadeiras publicamente. O Ukra, por exemplo, é um dos que demonstra. Quem é o mais engraçado?
MV –
Sim, sim, aqui há muitos jogadores que gostam da brincadeira. Mas isso é bom numa equipa, é importante. Não sei quem posso dizer, mas há vários.

MF – Depois de Venezuela e Espanha, Portugal, nos Açores. Como é a vida aí?
MV –
Fico por casa, não há muito para fazer. A ilha é pequena. Sou bastante tranquilo, passo tempo em casa, com a família, com a minha mulher, venezuelana.

Villanueva contra Arda Turan, num Barcelona-Málaga, em Camp Nou, em 2016 (Manu Fernandez/AP)

MF – Nos Açores há vários locais turísticos e alguma gastronomia típica. Já o levaram ao cozido das Furnas ou aos queijos?
MV –
Já passeei um pouco. Ainda não conheci as Furnas, mas já fui à Lagoa do Fogo, Sete Cidades. É tudo bonito. Falta-me conhecer as Furnas.

MF – Que diferenças encontrou da liga espanhola para a portuguesa?
MV –
A Liga, em Portugal, creio que é mais intensa, mais vertical, mais de ida e volta. Em Espanha é mais tranquila, mais técnica.

MF – Tem contrato até 2022. Quer cumprir ou já pensa noutros voos?
MV
– Agora penso cumprir contrato com o Santa Clara. Logo se vê se, de repente, há alguma coisa para o clube. O clube terá a opção de tomar uma decisão. Pela minha parte, é cumprir contrato e jogar.

MF – Na seleção é treinado por um português, José Peseiro. Já o convocou, mas ainda não o utilizou.
MV –
Ainda não pude treinar muito. Da primeira vez, em outubro, lesionei-me ao segundo dia de treinos. Mas gosto do estilo de trabalho [dele].

MF – Não jogou em 2016 na Copa América, mas em 2019 fez dois jogos. Foi importante atuar nessa competição internacional?
MV –
Para mim é importante, cada vez que vou à seleção é um orgulho grande. Na primeira Copa América não joguei, mas foi uma experiência bonita. Na segunda, só fiz dois jogos porque fiquei doente, tive varicela. Deu-me no segundo jogo e não pude continuar. São coisas que lamentavelmente acontecem, mas foi bonito poder jogar dois jogos.

MF – Há Mundial daqui a dois anos. É um objetivo?
MV –
É objetivo chegar com a seleção pela primeira vez a um Mundial. Temos jogadores em ligas importantes do mundo e uma equipa boa. Espero que possamos alcançar esse objetivo, que é de todos os venezuelanos.

MF – Alguns compatriotas têm passado pela Liga portuguesa. Jhon Murillo está no Tondela e Yordan Osorio também por cá passou. Quando veio para Portugal, aconselhou-se com eles?
MV –
Não falei com nenhum antes de tomar a decisão, mas sim depois, quando saiu a notícia de que vinha. Alguns deles escreveram-me, dando-me as boas-vindas e desejando êxitos.

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