Num momento em que Donald Trump se debate com uma possível intervenção dos EUA no Médio Oriente, Oren Rozenblat, embaixador de Israel em Portugal, garante que a operação militar em curso vai continuar mesmo que não tenha apoio no terreno dos norte-americanos. Em entrevista exclusiva à CNN Portugal, o diplomata defende que "o povo está unido" nesta causa e reforça que Israel não tem como objetivo a queda do atual regime iraniano. "Isso é para o povo iraniano decidir"
Os Estados Unidos devem entrar nesta guerra, do seu ponto de vista?
Nós vamos agir com o nosso plano, com ou sem os Estados Unidos. Essa é uma decisão dos americanos, que vão agir de acordo com os seus próprios interesses.
Mas Israel entende que, do ponto de vista militar, seria mais fácil atingir os seus objetivos com o apoio dos Estados Unidos?
O apoio dos Estados Unidos é, com certeza, importante, mas nós somos capazes de atingir os nossos objetivos com as nossas próprias forças armadas. Os nossos objetivos são, primeiro, eliminar o plano de armas nucleares do Irão, que podemos ver, estes dias, a força da ameaça de mísseis balísticos.
Benjamin Netanyahu refere que a mudança do regime iraniano poderá acontecer como consequência dos ataques. Do seu ponto de vista, a mudança de regime no Irão será a única forma de se atingir a paz na região do Médio Oriente?
Isso é assunto para o povo iraniano. Os nossos objetivos, como eu disse, são eliminar as armas nucleares e os mísseis balísticos. O resto é para o povo iraniano decidir.
Houve um acordo da administração de Barack Obama com o Irão, o famoso JCPOA [sobre segurança nuclear], que foi cancelado por Donald Trump. Foi um erro acabar com esse acordo?
Isso é um tema para os académicos. Sabemos o que aconteceu e também conhecemos os planos do Irão. Os líderes iranianos afirmaram repetidamente que querem destruir o Estado de Israel. O dinheiro não foi usado para o bem-estar do povo, como educação ou saúde, mas sim para armas nucleares e mísseis. Face a esta ameaça iminente, precisávamos de agir, e já o fizemos.
Donald Trump ainda acredita que é possível chegar a um novo acordo com o Irão. Se isso acontecer, Israel suspenderá a sua operação ou manter-se-á à margem desse entendimento?
O primeiro-ministro Netanyahu já se pronunciou sobre isso. Temos um plano militar definido e vamos cumpri-lo. Nós temos objetivos e nós vamos atingir estes objetivos.
Israel está em guerra desde 7 de outubro de 2023. Como reage a população israelita à abertura de uma nova frente de guerra? Ainda há apoio popular?
O nosso povo está unido, inclusive no parlamento, onde quase todos os partidos — inclusive da oposição — apoiam o governo. É muito triste que os líderes iranianos tenham decidido assassinar civis. Até agora, 24 israelitas foram mortos, incluindo refugiados ucranianos que estavam em Israel para tratamentos médicos. Apesar disso, o povo é forte e está determinado a vencer esta guerra. Não temos escolha, temos de eliminar as ameaças ao Estado de Israel.
Entende que, devido à situação em Gaza e à morte de muitos civis, o argumento de Israel possa ser visto com menos força perante a comunidade internacional?
A situação no Irão e a situação em Gaza é totalmente igual, nós atingimos só alvos militares no Irão e também na faixa de Gaza. Nós temos advogados nas nossas forças armadas e eles precisam de assinar para que Israel proceda com o ataque. Nós lutamos com a lei internacional.
Mas admite que há muitas vítimas civis em Gaza?
Sim, é muito triste. Tal como temos perdas por fogo amigo entre os nossos soldados, também há vítimas civis em Gaza. Cada morte é uma tragédia. Fazemos o possível para evitar vítimas civis, mas esta é a realidade da guerra. Mas é importante saber que terroristas, bárbaros, do Hamas atacaram as aldeias pacíficas de Israel, assassinaram, violaram mulheres, queimaram vidas de todas as famílias em Israel, e agora temos 50 reféns e nós precisamos de lutar para libertá-los. Esta guerra em Gaza pode terminar imediatamente se o Hamas libertar os reféns e desmilitarizar-se.
Mas admite que tem havido falhas no apoio às populações, como na distribuição de ajuda alimentar?
Pelo contrário. O Fundo Humanitário de Gaza tem tido bastante sucesso. Nos últimos dias, entregaram diariamente por vezes até 2,5 milhões de refeições diretamente às pessoas, especialmente às mais carenciadas e sem ligação ao Hamas. Esta é a melhor forma de garantir que a ajuda chega à população e não ao grupo terrorista, que a utiliza em seu benefício.
A União Europeia e o Reino Unido têm sido críticos relativamente à situação em Gaza, mas apoiam Israel no contexto iraniano. Era esse o apoio esperado?
Essa situação é natural. A ameaça iraniana não é apenas para Israel. O Irão tem estado a desenvolver mísseis balísticos com maior alcance, que já podem atingir quase toda a Europa — não Portugal, mas uma grande parte da Europa. A questão é: por que razão o Irão precisa de mísseis com tal alcance? É uma ameaça também para a Europa. Como disse o chanceler alemão, Israel está a fazer o trabalho sujo em nome da Europa e do mundo.
Portugal tem debatido há anos o reconhecimento do Estado Palestiniano. Se isso acontecer, qual será a posição de Israel?
Reconhecer o Estado Palestiniano neste momento de guerra seria um erro. Após o ataque do Hamas, seria visto como uma vitória para os terroristas. Seria um prémio para o terrorismo e prejudicaria também os próprios palestinianos, especialmente aqueles que não são extremistas. Além disso, temos os Acordos de Oslo, que preveem que esse reconhecimento deve ser fruto de negociação direta entre Israel e os palestinianos. Seria um triunfo para os palestinianos que recusam negociar diretamente são os que sairiam beneficiados.
Considera que a solução dos dois Estados ainda é possível?
A situação atual é muito grave, mas no futuro não queremos governar os palestinianos. Há milhões de palestinianos. Não queremos ser responsáveis pelos seus sistemas de esgotos, educação ou saúde. Queremos uma solução em que os palestinianos tenham o seu próprio governo, disposto a viver em paz com Israel, lado a lado.