Cavaco horrorizado com a guerra. "O mundo ocidental está preparado para manter a pressão?"

3 jun 2022, 22:40

O antigo Presidente da República admitiu, em entrevista exclusiva à CNN Portugal, ter "dificuldade em encarar as imagens e os relatos" divulgados pelos órgãos de comunicação social

Faz esta sexta-feira precisamente 100 dias que a Rússia invadiu a Ucrânia e foi também esta sexta-feira, numa entrevista exclusiva à CNN Portugal, que Cavaco Silva se mostrou horrorizado e impressionado com aquilo que nunca pensou vir a assistir. Aliás, admitiu mesmo ter "dificuldade em encarar as imagens e os relatos" que têm sido divulgados pelos órgãos de comunicação social. 

"Esta invasão da Ucrânia por parte da Rússia é uma catástrofe humanitária que eu nunca imaginei que pudesse ocorrer na Europa no século XXI. Bombardeiam-se hospitais, creches, casas de cultura, matam-se crianças, matam-se mulheres com os filhos nos braços, matam-se idosos que já não têm forças para fugir às balas. É uma autêntica carnificina", afirmou.

O antigo Chefe de Estado considera que só alguém com "grande amor pelas ditaduras e insensível ao sofrimento de gente inocente" é que consegue "tolerar" aquilo que Vladimir Putin tem estado a fazer. Sobre a ação conjunta da União Europeia, Estados Unidos e NATO, deixou duas questões "da maior importância". 

"O mundo ocidental está preparado para manter a pressão, as sanções, a penalização da Rússia durante o tempo que for necessário para que a Ucrânia recupere a plena soberania sob todo o seu território e para que se torne num membro da União Europeia? Isto é, a União Europeia, os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão, o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália, estão preparados para aguentar o tempo que for necessário para que a Rússia não seja uma vencedora a longo prazo?". 

Lança estas duas questões porque, explicou, "se não o fizerem, a Rússia é uma vencedora a longo prazo". É também importante, acrescentou, que os líderes ocidentais pensem se vão ficar descansados no futuro com uma vitória russa. 

Voltando novamente ao que o mais tem impressionado, é a destruição aleatória por parte das tropas russas. "Não se trata de atacar alvos militares. Destroem-se aldeias onde não existe uma espingarda, onde não existe um canhão, não existe nenhum armamento". 

A invasão russa – justificada por Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

Ao dia de hoje, a ONU refere mais de 4.100 civis morreram e quase 5.000 ficaram feridos neste conflito, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.

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