Lage: «Voltar a Portugal? Sei o que será ideal para a minha carreira»

5 mai 2023, 20:34

Em entrevista à CNN Portugal, Bruno Lage revela que o seu futuro pode ficar definido nas próximas semanas

Bruno Lage está desempregado desde que deixou o Wolverhampton em outubro, mas garante que já recebeu propostas para voltar ao ativo.

Aliás, podia quase nem ter parado uma vez que revela, em entrevista à CNN Portugal, ter recebido um convite de um clube da Premier League «duas horas depois de ter deixado o Wolverhampton».

Quanto a um possível regresso a Portugal, o antigo treinador do Benfica que foi apontado ao Sporting nos últimos dias caso Ruben Amorim deixe os leões, não diz que sim nem que não. Depende do «projeto».

CNN Portugal: É sabido que é alguém que gosta muito do treino, de estar no campo. Já sente saudades da rotina de treinar?

Bruno Lage: Sim. Essencialmente das rotinas do dia-a-dia. De nos prepararmos durante a semana para colocar as ideias em prática no fim de semana. Essa é uma necessidade que temos. E quanto mais subimos na nossa carreira, maior é a adrenalina de viver esse dia-a-dia de preparar para a competição. Isso é algo que nos faz falta. Mas há também o outro lado e temos de aproveitar estes momentos para estar com a família e ver os filhos a crescer. Porque esta é vida dura para quem se entrega tanto como eu e a minha equipa técnica. São muitas horas de trabalho mais as viagens…

Admitiria voltar a Portugal para trabalhar num clube que não o Benfica?

Em função do que tem sido o meu percurso desde a formação, passando pela equipa B onde fiz uma formação semelhante à dos jogadores, até à equipa principal do Benfica, e até à última experiência em Inglaterra, no Wolverhampton, que foi muito boa a todos os níveis, o mais importante para mim é perceber o projeto. E é nesse sentido que pretendo dar sequência à minha carreira.

Já recebeu propostas?

Eu tive propostas que me deixaram muito orgulhoso, mas nunca fiz questão que se soubesse nada disso. Agora posso falar sobre isso. Duas horas depois de ter deixado o Wolverhampton, recebi uma proposta de um clube da Premier League. Mas senti que não era o momento. Duas horas depois ia chegar ao outro lado ainda com os nomes dos jogadores do Wolverhampton na cabeça. Entretanto, recebi outras propostas para ir treinar noutros pontos do globo que eram muito boas, tanto em termos financeiros, como de projeto. Mas tenho uma ideia do que seria o ideal para a minha carreira e vou esperar. Estamos em maio e é nesta altura que as coisas podem começar a ficar definidas e pode aparecer o projeto certo para nós.

Qual seria esse projeto?

Será um em que percebamos claramente qual a situação do clube e qual o caminho que quer seguir. Claro que estamos sempre sujeitos à avaliação do nosso trabalho. Mas quero dar um passo seguro para a minha carreira. Tenho pessoas a trabalhar comigo que sabem o que quero para a minha carreira: não é um sítio confortável, quero lutar por títulos, mas num clube que saiba para onde quer ir.

O Benfica está neste momento numa posição contrária à que tinha quando o Bruno assumiu a equipa. O que é mais importante para segurar a vantagem de quatro pontos tão perto do final, tenho um jogo tão importante como o deste sábado com o Sp. Braga?

É um jogo em que a equipa tem de sentir um enorme apoio do princípio ao fim. A pressão de fora em determinados momentos leva a situações das quais tem de se tirar aprendizagens. É com muita surpresa minha que, quatro anos depois estamos aqui a falar e eu fui o último treinador a ser campeão nacional pelo Benfica. As vidas dos clubes têm esses ciclos. Mas o Benfica agora vai à frente, não tem de olhar para trás. Os outros clubes é que precisam que o Benfica falhe.

Quando chegou ao Benfica a meio da época 2018-2019, esperava ainda conseguir chegar ao título, com tantos pontos de desvantagem? Como deu a volta aos jogadores?

Tive um primeiro impacto muito grande. Tentámos perceber que tipo de homens havia ali. Independentemente do tempo que ficasse, expliquei como iam funcionar as coisas dentro de campo. «Mas mais importante do que o sistema ou tudo o resto, é importante olharem uns para os outros e perceberem, além dos grandes jogadores que são, que tipo de homens somos? O mundo está contra nós, como vamos resolver o problema?».

A distância para o primeiro lugar eram sete pontos…

Eu sentei-me entre eles e disse: «Quero que olhem para o lado e vejam a qualidade dos jogadores que aqui estão.» E pela experiência, começamos a perceber se eles estão na nossa mão. Há certas caras desse momento que nunca mais me esqueço: do André [Almeida], do Pizzi… Mas aquela que me ficou foi a do Grimaldo. Como ele é mais pequeno, tentava chegar-se à frente para ver onde eu estava. Porque eu estava sentado no meio deles. E depois há outra situação que me marcou…

Então conte…

À saída do balneário para ir treinar estava o Rui Costa, que já me conhecia de quando foi diretor da formação. E a cara dele a olhar para o Tiago [Pinto], como quem diz «saiu melhor do que a encomenda». E eu senti aquilo. As pessoas conheciam-me, mas iam conhecer a dimensão do meu trabalho.

Quão importante foi o João Félix para dar a volta àquela situação?

Eu vou ser honesto: eu não conhecia o João. Porque estive seis anos fora do Benfica, já se falava dele, mas eu não o conhecia. E ele fez a pré-época com a equipa principal. Fui ver um Benfica-Sporting ao Estádio da Luz em que ele entrou e acho que marcou o melhor golo dessa época. E ele marcou muitos golos nessa época. Gostei muito daquele golo e ele está-me sempre na memória porque vi esse golo da bancada. Um cruzamento da direita, ele entra em salto e a cabecear de cima para baixo. Eu levantei-me e pensei: «Que golo que este miúdo acaba de marcar». Depois teve as oportunidades que teve e representou um papel muito importante pela forma como jogava e como o Pizzi e o Rafa ligavam com ele.  

Aquando da saída do Bruno do Benfica, falou-se que Pizzi e Rafa teriam sido dois jogadores que ajudaram a «fazer-lhe a cama».

Aproveito para acabar com esse tabu. Comigo nunca houve o grupo do Pizzi, Rafa, André [Almeida], Grimaldo, nem de ninguém a tentar tramar o treinador. Pelo contrário. São rapazes que sempre deram tudo e não deram mais porque não conseguiram.

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