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Presidente da PROFORUM

O futuro constrói-se com engenharia

5 nov, 10:00

Portugal vive um momento de viragem. Os próximos anos serão marcados por investimentos estruturais que poderão redefinir o modelo de desenvolvimento do país, com grandes projetos no horizonte, como o novo aeroporto, a Terceira Travessia do Tejo, a linha de alta velocidade, a transição energética ou a transformação digital acelerada pala Inteligência Artificial. Mas esta oportunidade histórica traz consigo um risco real: a falta de engenheiros suficientes para concretizar a ambição destes projetos.

A engenharia tem sido a base sobre a qual assenta o desenvolvimento económico e a competitividade nacional. É ela que transforma tecnologia em soluções concretas, que liga inovação e sustentabilidade ou que garante a execução dos grandes projetos. No entanto, enfrentamos hoje um défice de engenheiros e de competências técnicas que pode comprometer o crescimento de Portugal. O bastonário da Ordem dos Engenheiros reconheceu recentemente que serão necessários, em média, mais 500 engenheiros por ano durante a próxima década para responder ao volume de projetos que o país tem em curso.

Esta realidade é agravada pelo desalinhamento entre o ensino superior e as necessidades do mercado. Dois terços dos jovens da geração Z sentem-se mal preparados pelas universidades para o mundo do trabalho, segundo o estudo “Talent – Point of View”, desenvolvido pela Accenture para a PROFORUM. Paralelamente, subsiste uma incapacidade estrutural de atrair e reter engenheiros, num contexto em que o número de vagas continua a crescer. O resultado é preocupante: forma-se menos do que o necessário e perde-se demasiado talento qualificado para o exterior.

Neste contexto, é imperativo reforçar a atratividade da engenharia junto das novas gerações, a partir do ensino básico, e assegurar que os programas universitários estão alinhados com as exigências do mercado e com as tendências de inovação. Neste percurso não podemos esquecer que as competências que definem o futuro da engenharia estão a mudar, exigindo upskilling e reskilling constantes. Se antes os engenheiros se concentravam na análise e na monitorização de ativos, hoje o foco desloca-se para a manutenção preditiva, o planeamento estratégico e a colaboração interdisciplinar. Competências como a resolução de problemas complexos, o domínio da inteligência artificial e a capacidade de adaptação serão determinantes. As universidades devem, por isso, integrar de forma transversal novas áreas do conhecimento, da robótica ao machine learning, e reforçar a ligação entre a formação académica e a prática profissional.

Mas não basta formar. É fundamental criar condições para atrair e reter talento. A engenharia portuguesa precisa de ser apresentada aos jovens como uma carreira com propósito, impacto e futuro, capaz de responder aos grandes desafios nacionais. Isso exige um trabalho conjunto entre o Estado, as universidades e as empresas, mas também um esforço de comunicação e valorização social. A verdadeira transformação começa quando se combina tecnologia, dados e talento humano para reinventar o setor e criar valor sustentável. Ser engenheiro é, hoje, muito mais do que construir pontes, edifícios, fábricas ou máquinas: é projetar soluções que melhorem a vida das pessoas e preparem Portugal para o futuro.

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