opinião
Presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis

A eletricidade ficou mais cara por causa do fecho das centrais a carvão?

2 dez 2024, 15:28

A resposta é um claro “Não, a eletricidade em Portugal não ficou mais cara por causa do encerramento das centrais a carvão. Vejamos:

A última central a carvão em Portugal, localizada no Pego, fechou há três anos, em novembro de 2021, e tinha uma potência instalada de apenas 628 megawatts (MW).

Esta central operava desde 1993, ao abrigo de um contrato de aquisição de energia, que lhe garantia a venda de toda a sua eletricidade à rede com receitas pré-definidas. Anualmente, custava ao sistema elétrico nacional, ou seja, aos consumidores, cerca de 100 milhões de euros, como foi tornado público. O encerramento veio, assim, aliviar os consumidores de eletricidade.

Já a Central Termoelétrica de Sines, que fechou portas em janeiro de 2021, tinha uma potência instalada de 1.200 MW.

Em 2021 - no último ano de funcionamento destas duas centrais a carvão em Portugal - a produção de eletricidade a partir de carvão representou apenas 5% da geração total de eletricidade em Portugal, de acordo com dados da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG).

Nos anos que antecederam o fecho das duas centrais, a produção de eletricidade a partir do carvão já estava mais cara por causa do aumento do preço do carvão e do custo das licenças de CO2, e também porque chegou ao fim a isenção do imposto petrolífero.

O fim das duas centrais a carvão não ditou o aumento do preço da eletricidade em Portugal. Antes pelo contrário. Abriu espaço para que entrasse no sistema mais eletricidade de fontes renováveis, permitindo a descarbonização de mais consumo energético e preços mais baixos para famílias e empresas, como concluiu um estudo elaborado pela Deloitte.

Depois do encerramento das centrais a carvão, as centrais de ciclo combinado a gás natural passaram a definir, em alguns momentos, o preço da eletricidade no mercado ibérico, sempre que as renováveis não conseguiram suprir a procura, o que coincidiu justamente com a altura em que o preço do gás natural disparou como consequência da crise energética internacional.

O caminho para garantir preços mais baixos na eletricidade não é a manter em operação as centrais alimentadas a combustíveis fósseis, como as de gás natural (ainda que menos poluentes que o carvão), mas a aposta em tecnologias renováveis, como o solar, a eólica on e offshore e outras alternativas que poderão ser armazenadas, como o hidrogénio verde.

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