Inverno frio na Europa e rutura no gás russo podem reduzir oferta até 27%

Agência Lusa
15 dez 2022, 18:10
Fogão a gás (EPA)

No segundo trimestre deste ano, os países da UE importaram 6,5 mil milhões de metros cúbicos de GNL russo

A Agência Europeia de Cooperação dos Reguladores da Energia (ACER) estimou esta quinta-feira que, perante um inverno frio e rutura do fornecimento de gás russo por gasoduto à Europa, poderia haver uma redução na oferta de 12% a 27%.

“Num cenário de rutura da oferta russa durante um inverno frio e no caso de um dia de pico, a oferta poderia ser reduzida entre 12% a 27% em toda a Europa”, antecipa a ACER, num relatório divulgado.

No documento com perspetivas de fornecimento para o inverno de 2022/2023, relativas à Rede Europeia de Operadores de Redes de Transporte de Gás (ENTSOG), a agência que apoia as autoridades reguladoras nacionais para um correto funcionamento do mercado único europeu do gás e da eletricidade considera, para este cenário de rutura, um eventual corte no aprovisionamento russo através de gasodutos e não relativo ao gás natural liquefeito (GNL).

No segundo trimestre deste ano, os países da UE importaram 6,5 mil milhões de metros cúbicos de GNL russo, representando 18% do GNL importado na Europa, de acordo com os dados da Direção-Geral da Energia.

No relatório relativo à estação fria de 2022/2023, a ACER assinala que, “no caso de um inverno frio, […] todos os países europeus estão expostos a um risco de 10% de redução da oferta durante toda a estação de inverno e de 10% a 27% no caso de um dia de pico”.

“A infraestrutura europeia de gás oferece flexibilidade suficiente para assegurar oferta de gás para satisfazer a procura, assumindo que existe cooperação entre os Estados-membros e que o gás suficiente chega à UE. No entanto, sob cenários específicos de elevada procura e interrupção prolongada do fornecimento de gás russo são possíveis algumas possíveis reduções da oferta”, observa a agência da UE.

A ACER adianta que o atual nível das reservas da UE “é um dos mais elevados dos últimos anos e cumpre os objetivos estabelecidos no Regulamento de Armazenamento de Gás”, adotado em junho passado, que prevê que as instalações de armazenamento subterrâneo de gás no território dos Estados-membros estejam a pelo menos 80% da sua capacidade este inverno e de 90% na estação fria do próximo ano.

“A cooperação entre os Estados-membros, a oferta adicional de gás, as infraestruturas de GNL e uma redução da procura de cerca de 15% atenuariam eficazmente o risco de redução da oferta”, garante a agência europeia.

Ainda assim, a ACER avisa que “a retirada precoce e significativa de gás armazenado resultará em baixos níveis de armazenamento no final da estação de inverno, tendo um impacto negativo na flexibilidade do sistema de gás”.

Dados consultados pela Lusa indicam que, em média, os 18 entre os 27 países da UE com instalações subterrâneas têm o armazenamento a cerca de 87%.

Em 21 de novembro, Portugal tinha 96,4% de preenchimento das suas instalações para gás, acima da média comunitária e dos objetivos intermédios estipulados pela Comissão Europeia, de 70% em fevereiro e de 80% em julho do próximo ano.

Numa altura de tensões geopolíticas causadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que é um grande fornecedor de gás à UE, o armazenamento subterrâneo no espaço comunitário é fundamental para a segurança do aprovisionamento, uma vez que funciona como reserva adicional em caso de forte procura ou perturbações do aprovisionamento.

O armazenamento fornece entre 25% a 30% do gás consumido na UE durante o inverno e reduz a necessidade de importar gás adicional e contribui para absorver choques de abastecimento.

Ministros pressionados para acordo

Os chefes de Governo e de Estado da UE instaram os ministros da Energia a chegarem a acordo, na segunda-feira, sobre o mecanismo para teto na bolsa europeia de gás, visando “proteger cidadãos e economia”.

“O Conselho Europeu congratula-se com os progressos alcançados e convida o Conselho a concluir os seus trabalhos sobre […] um regulamento que estabelece um mecanismo de correção do mercado para proteger os cidadãos e a economia contra preços excessivamente elevados”, vincam os líderes da UE, nas conclusões da cimeira realizada em Bruxelas.

Depois de, na terça-feira, os ministros da Energia da UE terem falhado um acordo sobre o mecanismo de último recurso para teto na bolsa europeia de gás, por posições divergentes entre os países sobre os preços máximos e os requisitos, os líderes europeus esperam que isso seja possível na segunda-feira, quando os responsáveis pela tutela se voltam a reunir na capital belga.

Em causa está a medida de emergência temporária proposta no final de novembro pela Comissão Europeia para criação de um mecanismo de correção de preço em certas transações no Mercado de Transferência de Títulos relativamente ao gás natural, o TTF, que poderia ser ativado mediante preços elevados durante vários dias consecutivos para limitar aumentos excessivos.

Enquanto países como Portugal, Bulgária, Polónia, Letónia, Malta, Espanha, Grécia, Bélgica, Itália e Eslovénia admitiam um teto entre 200 a 220 euros por Megawatt-hora (MWh) por três dias consecutivos, proposto pela presidência checa da UE para assim ser mais fácil ativar este mecanismo de correção, outros países como Alemanha e Holanda alegaram a segurança do fornecimento preferindo a opção proposta pela Comissão Europeia, de 275 euros por MWh em 10 dias consecutivos, o que pode tornar difícil a sua aplicação.

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