Preços do gás travam contratos e criam rombo na tesouraria das empresas num ano que "tinha tudo" para bater recorde de exportações

CNN Portugal , BCE
5 ago 2022, 07:57
Covid-19 no trabalho (AP)

REVISTA DE IMPRENSA. Para fazer face à quebra de encomendas, algumas empresas "estão com um regime de trabalho intermitente" e outras em regime de layoff

Os preços do gás estão a provocar "uma hemorragia na tesouraria das empresas”, que estão a apresentar resultados negativos à conta do agravamento do custo do gás natural. O alerta vem do presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, que lamenta ao jornal Público, que, num ano que "tinha tudo" para ser novo recorde de exportações - as estimativas apontavam para seis mil milhões de euros face aos 5.400 milhões de 2021 - os números da "maioria das empresas" fiquem muito aquém do esperado, e cheguem mesmo a resultados negativos.

O Ministério da Economia e do Mar divulgou os resultados da primeira fase do programa Apoiar Indústrias Intensivas em Gás, para o qual foram submetidas "mais de 180 candidaturas, incluindo as desistências, das quais mais de 150 já foram apoiadas”. As empresas da indústria têxtil, cerâmica e metalúrgica são as que mais se destacam nas candidaturas apresentadas, revela o ministério, adiantando que já foram pagos 11 milhões de euros, dos 160 milhões que estão disponíveis.

Note-se que são elegíveis para este apoio as empresas que "verifiquem um preço unitário de gás de, pelo menos, o dobro do preço médio de 2021, e que tenham um custo na aquisição de gás em 2021 de, pelo menos, 2% do seu volume de negócios”. O subsídio é de 30% do custo elegível, com limite máximo de 400 mil euros por empresa.

O presidente da ATP confirma ao Público que muitas das associadas se candidataram, mas que o apoio de 30% do diferencial de preço é “pouco para a dimensão do problema”, principalmente se comparado com o que estão a fazer outros Estados-membros da União Europeia com os quais Portugal concorre no mercado global. Exemplo disso mesmo é o caso de Itália, aponta, país onde as empresas estão a receber “25% sobre o valor da factura, o que significa que grosso modo estão a receber 50% do diferencial entre um ano e outro”.

Nos primeiros quatro meses do ano, o sector têxtil registou um crescimento de 20% das exportações, mas, segundo o responsável, o cenário agora é bem diferente: "Há muitas encomendas que já saíram de Portugal por causa do preço." Os mercados beneficiados com esta situação são o Vietname e, mais perto, a Turquia, onde o gás “custa 50 euros por megawatt hora”, um quarto do preço que já atinge no mercado de referência europeu.

Para fazer face a esta quebra de encomendas, algumas empresas "estão com um regime de trabalho intermitente", diz. Ou seja, os empregadores pagam os salários mesmo que os trabalhadores estejam em casa. Além disso, acrescenta, perto de uma dezena de empresas no setor está em layoff.

 

 

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