Quatro pessoas foram detidas pelas autoridades francesas. Emmanuel Macron já reagiu, afirmando que não quer que o Canal seja um cemitério
Pelo menos 27 migrantes morreram nesta quarta-feira enquanto tentavam atravessar o Canal da Mancha, entre a França e o Reino Unido, naquele que está a ser apontado como o pior naufrágio de sempre a ocorrer naquele braço de mar.
O número de mortos foi confirmado à agência AFP pelo ministro do Interior, depois de, durante a tarde o governante ter afirmado que o número teria ascendido aos 31.
A operação de resgate foi lançada após um pescador ter visto um barco insuflável vazio e cadáveres a boiar no oceano. Pelo menos duas pessoas continuam desaparecidas.
Entre as vítimas mortais, estão pelo menos cinco crianças. Ainda é incerto o número de migrantes que estavam no barco, mas o presidente do porto de Calais e de Bolougne avançou à BBC que o número pode ascender à meia centena.
O que sei é que 50 pessoas estavam no barco e que mais de 30 morreram”, disse Jean-Marc Puissesseau.
O presidente francês Emmanuel Macron reagiu, entretanto, ao desastre.
França não vai deixar que o Canal seja transformado num cemitério”, afirmou, pedindo o “reforço imediato dos recursos da agência Frontex nas fronteiras externas da União Europeia
O Chefe de Estado apela ainda a "uma reunião de emergência dos ministros europeus sobre os desafios das migrações", garantindo que "tudo será feito para encontrar e condenar os responsáveis" por esta tragédia.
Johnson e Macron comprometem-se a unir esforços para travar mais mortos
Horas mais tarde, o porta-voz de 10 Downing Street confirmou uma conversa telefónica com o presidente francês sobre a urgência de unir esforços para prevenir mortes na rota do Canal da Mancha.
Boris Johnson e Macron "sublinharam ainda a importância de manter uma relação estreita com a Bélgica e a Holanda, tal como com todos os parceiros no continente para abordar este problema de forma eficaz, antes das pessoas chegarem à costa francesa", disse o porta-voz.
Até ao momento, as autoridades francesas fizeram quatro detenções na sequência do incidente.
A partir de Calais, Gerald Dermanin, ministro do Interior francês, disse que o dia de hoje, vendo "todas estas pessoas a morrer por causa de traficantes, marca uma situação angustiante para França, para a Europa e para a humanidade".
Forte émotion devant le drame des nombreux morts dû au chavirage d’un bateau de migrants dans la Manche.
— Gérald DARMANIN (@GDarmanin) November 24, 2021
On ne dira jamais assez le caractère criminel des passeurs qui organisent ces traversées. Je me rends sur place.
As tensões à volta desta rota de migração foram amplificadas após a reunião que Dermanin teve com a sua homóloga britânica, Priti Patel, no dia 15 de novembro.
Depois de Londres acusar Paris de não fazer esforços suficientes para conter o número de migrantes a atravessar o Canal da Mancha (só este ano, cerca de 22 mil pessoas cruzaram o Canal, três vezes mais do que o valor anual de 2020), Gerald Darmanin disse que o "Reino Unido não está em posição de dar lições".
"O Reino Unido devia parar de nos usar como um saco de boxe na sua política interna", acrescentou aos jornalistas.
O incidente acontece numa altura de inquietude pós-Brexit entre os dois países que também disputam os direitos de pesca no Canal, perante ameaças do surgimento de uma guerra comercial.
A travessia para o Reino Unido através de Calais é das rotas mais utilizadas por migrantes, muito por causa de o mar ser relativamente calmo.