Como Elon Musk pode mudar o Twitter

CNN , Clare Duffy
8 out 2022, 21:00
Elon Musk é pai novamente (John Raoux/ AP)

Quase três meses depois de Elon Musk ter dito no Twitter que queria desistir do seu acordo de 44 mil milhões de dólares (mais ou menos o mesmo em euros) para comprar a empresa de redes sociais, o CEO da Tesla quer agora avançar com o acordo.

A reversão, se for finalizada, não só tem o potencial de criar revolta entre os colaboradores do Twitter, mas também entre as centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que usam a plataforma diariamente.

Nas primeiras semanas após ter concordado em comprar a empresa, em abril, e antes de recuar no acordo, Musk sublinhou repetidamente que o seu objetivo era reforçar a "liberdade de expressão" na plataforma e trabalhar para "desbloquear" o "potencial extraordinário" do Twitter. Sugeriu que repensaria a abordagem do Twitter à moderação de conteúdos e às proibições permanentes na plataforma, com potenciais impactos no discurso civil e no panorama político. Falou também do seu desejo de livrar a plataforma de bots, apesar de, mais tarde, tenha utilizado o número de bots como principal justificação para desistir do negócio.

Em declarações privadas e públicas ao longo dos últimos seis meses, Musk tem lançado uma vasta gama de outras possíveis mudanças para a plataforma, desde permitir a encriptação ponta-a-ponta para a funcionalidade de mensagens diretas do Twitter até sugerir, esta semana, que o Twitter se torne parte de uma aplicação "de tudo" chamada x, possivelmente ao estilo da popular aplicação chinesa WeChat.

Também houve sugestões mais rebuscadas. Numa troca de SMS com o irmão, Kimbal Musk, revelada na semana passada em documentos judiciais, os dois pareceram discutir a possibilidade de pedir aos utilizadores que pagassem por cada tweet que publicam com pequenas quantidades da criptomoeda DogeCoin.

Talvez o maior impacto imediato se o acordo for alcançado: Musk indicou que iria restaurar a conta do ex-presidente Donald Trump na plataforma, o que poderia ser uma enorme vantagem, se Trump decidisse voltar a candidatar-se à Casa Branca, em 2024.

Ora, com um acordo que há muito está em dúvida a parecer estar mais perto do que nunca de ser concluído, algumas dessas mudanças teóricas podem, em breve, tornar-se realidade.

Eis o que os utilizadores devem saber:

Uma grande mudança para a moderação de conteúdos

Durante anos sob o comando do antigo CEO e cofundador Jack Dorsey, o Twitter destacou o seu trabalho para reforçar "conversas saudáveis". A empresa proibiu muitas contas que promoviam abusos e spam, adicionou categorias para informações falsas ou enganosas e proibiu o misgendering de pessoas transgénero.

Sob a propriedade de Musk, o Twitter poderia reverter as medidas tomadas para tornar a plataforma mais agradável para os seus utilizadores mais vulneráveis, tipicamente mulheres, membros da comunidade LGBTQ e pessoas racializadas, segundo especialistas em segurança.

Musk disse que o Twitter, sob a sua liderança, teria políticas de moderação de conteúdo mais brandas. "Em caso de dúvida, deixar que o discurso se mantenha", disse Musk numa entrevista em palco, em abril. "Se é uma área cinzenta, eu diria que é deixar o tweet ficar. Mas, obviamente, nos casos em que haja talvez muita controvérsia, não deveríamos necessariamente promover esse tweet."

Musk também disse que quer tornar o algoritmo do Twitter open source e torná-lo mais transparente para os utilizadores quando, por exemplo, um tweet for realçado ou "despromovido" no feed. (Os líderes no Twitter já expressaram apoio para avançar nessa direção, e a empresa muitas vezes deixa claro quando está a "despromover" certos tweets ou tipos de conteúdo.)

Mas a mudança mais marcante pode vir de quem é e não é permitido num Twitter propriedade de Musk.

Desbloquear Trump e outras contas

Musk disse que acha que o Twitter deve ser mais "relutante em apagar as coisas" e "muito cauteloso com as proibições permanentes". Isso pode significar que uma longa lista de figuras controversas de extrema-direita e teóricos da conspiração, entre outros, poderão em breve estar de regresso à plataforma.

Musk, por seu lado, tem-se focado em trazer de volta um dos mais proeminentes ex-utilizadores do Twitter: Trump.

"Acho que não foi correto banir Donald Trump, penso que foi um erro", disse Musk em maio. "Eu reverteria a proibição permanente... Mas a minha opinião, e o Jack Dorsey, quero esclarecer, partilha essa opinião, é a de que não devemos ter proibições permanentes."

Dorsey tweetou após as declarações de Musk em maio, afirmou que "concorda" que não deveria haver proibições permanentes aos utilizadores do Twitter. "Há exceções... mas geralmente as proibições permanentes são um fracasso nosso e não funcionam", disse.

Trump já disse que não quer voltar ao Twitter e que, em vez disso, permanecerá na sua própria plataforma de redes sociais, a Truth Social.

Mas se Trump aceitasse uma oferta de Musk para regressar ao Twitter, poderia restaurar um número importante de seguidores que não tem desde que foi banido da plataforma em janeiro de 2021, agora que a corrida presidencial norte-americana de 2024 começa a ser falada. Na Truth Social, Trump tem apenas 4 milhões de seguidores; no Twitter, alcançou uma audiência de mais de 88 milhões de seguidores.

Um proprietário com uma história errática e controversa na plataforma

Outra mudança notável é simplesmente quem pode estar a tomar estas decisões sensíveis.

Musk tem uma reputação contraditória na indústria tecnológica. É, sem dúvida, um dos mais ambiciosos e bem-sucedidos inovadores e empreendedores desta época, mas é também alguém que tem atraído a controvérsia, muitas vezes a partir do seu próprio perfil de Twitter, onde tem mais de 100 milhões de seguidores.

Ao longo dos anos, Musk tem utilizado o Twitter para fazer afirmações enganadoras sobre a pandemia de covid-19, para fazer uma acusação infundada de que um homem que ajudou a resgatar crianças de uma caverna na Tailândia seria um predador sexual, para ridicularizar as pessoas que exibem os seus pronomes de género na plataforma e para fazer inúmeras piadas envolvendo os números 420 e 69. Também publicou no Twitter uma fotografia (que foi desde então apagada) comparando o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau a Adolf Hitler e comparando o novo CEO do Twitter, Parag Agrawal, a Josef Stalin.

Musk também procurou anteriormente remover uma conta no Twitter dedicada a acompanhar os movimentos do seu jato privado, oferecendo-se para pagar ao caloiro da faculdade que geria a conta (o proprietário da conta recusou).

No mesmo dia em que enviou a carta ao Twitter a tentar reavivar o acordo, Musk foi amplamente criticado pelos comentários que fez na plataforma sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia. Sugeriu que a Crimeia, uma região ucraniana que a Rússia invadiu e anexou em 2014, "fazia formalmente parte da Rússia". A maioria dos seguidores respondeu "não" à sua sondagem e o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Andrij Melnyk, respondeu num tweet: "Vá-se f… é a minha resposta muito diplomática para si." Num tweet que se seguiu, um Musk aparentemente frustrado pareceu culpar "um ataque de bots" pelos resultados da sua sondagem.

Até agora, o Twitter tem sido, pelo menos até certo ponto, responsabilizado pelas suas decisões de políticas para com anunciantes, acionistas e o seu conselho de administração. Mas essas salvaguardas não existirão necessariamente sob a liderança de Musk.

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