Elon Musk lançou um ataque injustificado no Twitter contra George Soros, alvo frequente de teorias da conspiração antissemitas, acusando o filantropo de odiar a humanidade, dias depois de Soros revelar ter vendido uma participação na Tesla.
Embora os comentários de Musk não mencionem a etnia do multimilionário, Musk foi criticado por uma retórica perigosa que poderá alimentar novos ataques a Soros.
Num tweet na segunda-feira, Musk comparou-o a Magneto, vilão dos X-Men [da Marvel], que, tal como Soros, foi um sobrevivente do Holocausto, de acordo com a história da banda desenhada. Quando um utilizador do Twitter defendeu Soros como tendo boas intenções, criticadas por aqueles que discordam da sua política, Musk respondeu: "Assume que são boas intenções. Não são. Ele quer corroer o próprio tecido da civilização. Soros odeia a humanidade."
Jonathan Greenblatt, CEO da Liga Antidifamação (ADL), ONG judaica internacional com sede nos Estados Unidos, criticou o comentário de Musk, considerando que "vai encorajar os extremistas".
"Soros é muitas vezes apontado pela extrema-direita, usando analogias antissemitas, como a fonte dos problemas do mundo", twittou Greenblat. "Ver Elon Musk, independentemente da sua intenção, alimentar isto - comparando-o a um supervilão judeu e alegando que Soros 'odeia a humanidade' - não é apenas angustiante, é perigoso: vai encorajar os extremistas que inventam conspirações antijudaicas e, como resultado, tentaram já atacar Soros e as comunidades judaicas."
Em resposta ao tweet de Greenblatt, Musk respondeu com dois tweets: num deles escreveu "Ei, pára de me difamar"; no outro disse que "a ADL devia deixar cair o 'A'" [passando a ser liga da difamação e não antidifamação].
Numa entrevista à CNBC após a reunião de acionistas da Tesla na terça-feira, Musk defendeu os seus tweets sobre Soros, incluindo a afirmação de que Soros odeia a humanidade, como sendo a sua opinião. Musk disse que tem o direito de tweetar as suas opiniões, mesmo que isso faça fugir a maior fonte de rendimento do Twitter. Disse também que "não se importava" se os seus tweets controversos atraíam a ira dos clientes da Tesla ou dos anunciantes do Twitter.
"Digo o que quero dizer, e se a consequência disso for perder dinheiro que assim seja", afirmou Musk na entrevista.
Musk costuma twittar comentários incendiários, incluindo aqueles que apoiam teorias da conspiração.
O Twitter registou uma queda acentuada nas receitas de publicidade desde que Musk assumiu o controlo da empresa em 2022. Na semana passada, Musk anunciou que a chefe de publicidade da NBCUniversal, Linda Yaccarino, seria a nova diretora executiva do Twitter, substituindo-o no cargo.
Soros, 92 anos, é um alvo de longa data de teóricos da conspiração de direita e de antissemitas. É um importante contribuinte para candidatos democratas e causas liberais. A Open Secrets, que acompanha as contribuições políticas, mostra que ele contribuiu com 50 milhões de dólares para o Democracy PAC II Superpac em novembro e 125 milhões de dólares no outono de 2022.
É também fundador e o principal contribuinte da Open Society Foundations, cujo objetivo declarado é trabalhar em prol da justiça, da governação democrática e dos direitos humanos. Esta fundação tem suscitado a ira de alguns regimes autoritários, incluindo o de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, país natal de Soros. Orbán é um aliado do presidente russo Vladimir Putin, acusado de políticas autoritárias na Hungria.
Os ataques contra Soros aumentaram nos últimos anos, a par de um aumento generalizado de incidentes antissemitas. Segundo a ADL, estes ataques atingiram o seu nível mais elevado nos Estados Unidos no ano passado, desde que o grupo começou a registá-los em 1979.
Alguns influenciadores de direita nos EUA abraçaram líderes autoritários estrangeiros que se opõem a Soros, como Orbán. Donald Trump e muitos republicanos que atacaram o procurador distrital de Nova Iorque, Alvin Bragg, por ter apresentado acusações criminais contra o ex-presidente, não hesitaram em salientar que Bragg recebeu o apoio de Soros para a sua campanha.
Desde que assumiu o controlo do Twitter, Musk tem sido criticado por ter permitido o regresso de simpatizantes nazis à rede social, no âmbito de um processo mais vasto de levantamento de contas anteriormente suspensas, devido à sua política de apoio à "liberdade de expressão". Entre os que foram autorizados a regressar ao Twitter encontra-se Andrew Anglin, um supremacista branco confesso que fundou o site neonazi The Daily Stormer.
Estudos realizados pela ADL e pelo Center for Countering Digital Hate, ONG britânica, descobriram que o volume de discursos de ódio no Twitter cresceu dramaticamente sob a administração de Musk. Musk chamou aos relatórios das duas organizações "totalmente falsos", afirmando que o número de vezes que um tweet contendo discurso de ódio foi visto "continua a diminuir" desde os primeiros dias à frente da empresa, quando a plataforma registou um pico de discurso de ódio destinado a testar a tolerância de Musk.
Musk, que tem quase 140 milhões de seguidores no Twitter, tem frequentemente amplificado argumentações de direita e algumas teorias da conspiração, incluindo uma alegação infundada sobre o ataque violento a Paul Pelosi, o marido da antiga presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. (Mais tarde, Musk apagou o tweet.) Musk também atacou pessoalmente aqueles de quem discorda ou aqueles que criticam as suas empresas.
O investimento de Soros na Tesla foi modesto em termos da sua carteira geral de investimentos. De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, Soros comprou 89.600 ações no segundo trimestre de 2022 e manteve-as até ao terceiro trimestre antes de comprar mais 242.000 ações nos últimos três meses do ano. Mas ele vendeu toda a sua participação nos primeiros três meses de 2023.
Musk na verdade vendeu muito mais ações da Tesla nos últimos meses, enquanto lidava com perdas crescentes no Twitter, que comprou em outubro. Recentemente, vendeu 22 milhões de ações em dezembro. Mas continua a ser, de longe, o maior accionista da Tesla.
*Allison Morrow e Oliver Darcy contribuíram para este artigo