O projeto europeu pode estar em causa, se não se tiver em conta a questão do reequilíbrio interno, defende a comissária
Na conversa de abertura da segunda CNN Portugal Summit, Elisa Ferreira, comissária europeia para a Coesão e Reformas, elogiou o “negociador fantástico” que é o primeiro-ministro, António Costa, na captação de fundos para Portugal, mas deixou recados. “Bruxelas somos todos nós”, por isso, é preciso tirar o máximo proveito do pacote de dinheiro que começa a chegar.
Elisa Ferreira questiona se estamos a fazer “o ótimo” e pede uma reflexão sobre a entrega de dinheiro a fundo perdido: “O financiamento como hábito é grave.”
Sobre o destino dos fundos, a comissária não tem dúvidas que o dinheiro deve ir para o grande tecido empresarial, as PME's, mas "poderá haver projetos das grandes empresas que o justifiquem".
"A tolerância para fraude é nula. E Portugal não é um país fraudulento em matéria de fundos. Outra coisa é se esse dinheiro é, ou não, bem aplicado em determinado projeto", conclui.
Elisa Ferreira assegura que é preciso utilizar os fundos comunitários para unir os países, mas também homogeneizar cada país internamente.
“O projeto europeu pode estar em causa se não se estiver em conta a questão do reequilíbrio interno (…) se não se der às pessoas, por exemplo, a oportunidade de emprego para os filhos nos quais investiram", afirmou, na abertura da segunda CNN Portugal Summit, que decorre no Salão Nobre da Alfândega do Porto.
A comissária mostrou-se preocupada com as diferenças que existem entre os países na Europa e as disparidades dentro dos próprios países: “O objetivo da Europa é o mesmo, mas há muitas derivas diferentes na Europa.”
Necessidades que são muitas e várias. “Uma revolução em marcha”, que vai desde a mobilidade, aos transportes, à eficiência dos edifícios. É preciso utilizar os fundos para “mudar os alicerces do crescimento”. "Os instrumentos e métodos têm de ser adaptados ao caso concreto (de cada país)", defendeu.
Elisa Ferreira recusa falar de Portugal em concreto, mas não deixa de assumir que no Alentejo, Algarve ou Lisboa a realidade é diferente.
“O objetivo dos fundos é acelerar a convergência entre países e unir o país (…) Um país fraturado é um país que vai partir. A nossa sobrevivência coletiva requer que as divergências sejam ultrapassadas”, acrescenta.
É mais difícil fazer essa mudança num país centralizado (como Portugal)?, questionou Júlio Magalhães. Em resposta, Elisa Ferreira afirma que "tem de haver uma escala" entre o plano do Estado e outro mais local, apontando que "já são poucos os países como o português que não tem nível intermédio de reflexão”.