opinião

Balanço de campanha: o melhor, o pior, o que esteve a mais e o que esteve a menos

28 jan 2022, 08:10

O melhor da campanha: António Costa "caiu na realidade"

A frase é de Jerónimo de Sousa recém-regressado à campanha, e ainda debilitado fisicamente, mas com a eficácia que muitos lhe reconhecem.

Não é a única que resume o que se passou nestas duas semanas. 

O próprio António Costa confessou: “Eu ouço as pessoas”. 

Obviamente que se está a falar da maioria absoluta que o líder socialista sonhou conseguir, mas tarde percebeu que era um enorme erro político.

Esta mudança de rumo é o melhor destes quinze dias, mas também de um mês de janeiro que começou com um primeiro-ministro convencido que a sua “pele” estava menos gasta e que a zanga maior era com a esquerda que lhe tinha rejeitado o orçamento.

Enganou-se! 

Não contou com a “sabedoria” e perspicácia política que os portugueses têm revelado ao longo destas décadas. 

Foram eles que elegeram governos e favoreceram maiorias em momentos históricos decisivos; e foram eles que negaram maiorias absolutas de um só partido com três exceções - as de Cavaco Silva e a de José Sócrates. 

Durante três semanas, desde o início de janeiro, António Costa esqueceu este saber escolher do eleitorado, que gosta cada vez mais de soluções pluripartidárias e pouco ou nada de maiorias absolutas. 

Seja um “ziguezague” político, como apontou Rui Rio, e/ou a correção atempada de um erro, o que fica é que os portugueses, mais uma vez, indicaram o caminho!

O pior da campanha: "Só a Bulgária é pior do que nós"

Valeu de tudo nesta campanha cheia de “spin doctoring", em que líderes e dirigentes partidários não se coibiram de confundir, ou mesmo mentir, sobre a economia, os salários, o PIB, o salário mínimo, as crises recentes, a troika, etc.

fact-checking nos jornais e televisões foi útil mas não suficiente  para evitar a confusão causada por doses massivas de manipulação de números e conceitos estatísticos. 

Do lado do PSD e da direita (em particular da IL) houve uma ofensiva que fez mossa sobre o crescimento de Portugal versus o crescimento nos países de Leste;  a maior carga fiscal versus menos impostos da Irlanda, Grécia, etc; o “rigor” de Rio contra o “facilitismo” do PS.

Do lado do PS e da esquerda, não faltaram as colagens de Rui Rio ao tempo da troika e à austeridade, o líder que “faria pior” que a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, o homem que não quer aumentar o salário mínimo e por aí fora. 

Neste jogo da manipulação e persuasão não é claro quem ganhou mais.

O que esteve a mais? Animais de estimação. "Desvia o foco"

João Cotrim de Figueiredo disse isto depois de ele próprio ter entrado neste “fungagá da bicharada” eleitoral com a sua cadela Bala. 

E depois dos bichanos de vários líderes terem andado à solta, pela primeira vez, numa campanha em Portugal.

É preciso humor, argumentou Rui Rio que percebeu que o seu Zé Albino tinha potencial para acrescentar mais camadas à “persona” que o PSD e o seu próprio líder construíram nos últimos meses. 

Durante uns dias, Rio tornou-se ainda mais simpático e popular, até ao momento em que António Costa, Catarina Martins, João Oliveira, o “puxaram” para um lugar menos confortável: o do presidente de câmara “autoritário” que governou o Porto contra tudo e todos.

Quanto ao dito cujo, ficou esquecido no meio das duas arruadas diárias e de sessões temáticas, de fim de tarde, em que pouco ou nada se falava desse mesmo programa.

O que esteve a menos? "Os oráculos revelam-se no domingo à noite quando se abrirem as urnas e se contarem os votos"

Numa arruada em Fafe, António Costa apontou o óbvio, ou seja, que há uma enorme incerteza sobre a governabilidade no pós-eleições.

Até porque ninguém arrisca previsões sobre quem ganha; quem fica no terceiro lugar; quem forma maioria com quem; se a maioria na Assembleia da República será de esquerda ou direita; se pode haver um governo do PSD com maioria de esquerda ou um governo PS com maioria contrária; se o Chega entra nas contas para formar uma maioria de apoio parlamentar a um governo.

Devíamos ter tido mais verdade e transparência sobre tudo isto? 

Sem dúvida, porque os sinais que António Costa e Rui Rio foram dando são equívocos.

Não é suficiente António Costa dizer que conversa com todos à exceção de Ventura, se não ficou claro o que fará se for primeiro-ministro com uma maioria de esquerda. 

E se à esquerda Bloco e PCP parecem disponíveis para convergências, o que significa isso depois do papel que tiveram no fim da geringonça? E das marcas que deixou?

À direita o cenário é igualmente confuso por causa do Chega e da incógnita que representa para um possível governo do PSD.

No domingo saberemos os resultados eleitorais ainda sem os votos contados da Europa e Fora da Europa. 

No meio de tanta incerteza só faltava que os quatro deputados destes círculos tivessem um papel decisivo na formação de uma maioria (ou falta dela), como aconteceu nas eleições de 1999, que acabaram num instável e histórico empate entre PS e oposição.

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