Candidatos Republicanos culpam-se mutuamente por resultados nas EUA

Agência Lusa , AM
26 nov 2022, 09:23
Eleições intercalares norte-americanas (Associated Press)

Partido Republicano ainda está a digerir os resultados abaixo das expectativas, com tentativas de explicação que provocam cisões e mal-estar, sobretudo entre a ala mais moderada e a mais radical, que está ao lado do ex-presidente Donald Trump

O Partido Republicano dos EUA está a sofrer as ondas de choque dos resultados das recentes eleições intercalares, em que não conseguiram o controlo do Senado, com os candidatos a culparem a má gestão dos dinheiros de campanha.

Naquelas que foram as mais caras campanhas da história das eleições intercalares dos Estados Unidos – gastaram-se mais de 16 mil milhões de dólares (cerca de 15 mil milhões de euros) nas milhares de candidaturas para a Câmara de Representantes e para o Senado – os Democratas foram os vencedores não apenas no número de votos, mas também nos gastos, com os seus candidatos a sistematicamente serem mais eficazes na angariação e no uso do dinheiro.

Duas semanas e meia depois das eleições de 8 de novembro - e apesar de ter conquistado a maioria na Câmara de Representantes - o Partido Republicano ainda está a digerir os resultados abaixo das expectativas, com tentativas de explicação que provocam cisões e mal-estar, sobretudo entre a ala mais moderada e a mais radical, que está ao lado do ex-Presidente Donald Trump.

As principais queixas dos candidatos derrotados centram-se na ausência de uma estratégia para a compra de tempos de antena nas cadeias radiofónicas e televisivas, mas parecem ter dificuldade em reconhecer que também eles mesmos não foram muito eficazes a angariar fundos para as suas campanhas.

O candidato a senador Republicano pelo Arizona Blake Masters perdeu a corrida eleitoral e não hesitou em encontrar dois culpados para o seu mau resultado: o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell e o sistema de controlo financeiro do seu partido.

“Para além de McConnell, sabem quem mais foi incompetente? O sistema. As pessoas que controlam os cordões da bolsa”, disse Masters, numa entrevista televisiva, acusando o líder da minoria Republicana no Senado de ter sido conivente com a estratégia do partido de não gastar os fundos suficientes na propaganda eleitoral televisiva.

Masters não só perdeu a corrida eleitoral contra o senador Democrata Mark Kelly, como ficou atrás de todos os outros Republicanos que concorreram a cargos estaduais no Arizona.

Mas há um outro problema que Masters não reconheceu: o candidato Republicano não conseguiu angariar fundos de campanha significativos por conta própria, tal como sucedeu com muitos outros candidatos deste partido.

Enquanto os Democratas procuram tirar proveito dos resultados melhores do que o esperado – embora tenham perdido o controlo da Câmara de Representantes, o que irá dificultar a agenda política do Presidente Joe Biden – os Republicanos envolveram-se nos últimos dias em vagas de acusações que ameaçam provocar fortes cisões dentro do partido.

O primeiro sinal desses confrontos internos aconteceu logo nas eleições para a nova liderança da minoria no Senado, em que McConnell foi desafiado na sua reeleição pelo senador da Florida Rick Scott e, embora o tenha conseguido vencer no primeiro confronto, teve de reconhecer que o partido está fraturado e com muitos ressentimentos.

As dificuldades que vários candidatos Republicanos sentiram na angariação de fundos de campanha, comparativamente com os adversários Democratas, revelam problemas profundos que querem ver resolvidos antes das eleições presidenciais de 2024.

“Isto tornou-se um problema existencial e sistémico para o nosso partido e é uma coisa que precisa de ser resolvida, se quisermos ser competitivos”, disse Steven Law, ex-chefe de gabinete de McConnell, que agora lidera o departamento de fundos do Senado.

“Os nossos doadores ficaram cada vez mais alarmados por estarem a ser colocados na posição de subsidiar desempenhos fracos de angariação de recursos por candidatos em disputas críticas. Isto simplesmente não é sustentável", reconheceu Law.

Nos principais campos de batalha do Senado e da Câmara de Representantes, os candidatos Democratas superaram os seus adversários Republicanos, por um fator de quase 2 para 1, de acordo com uma análise da agência Associated Press, relativa a dados financeiros de campanha.

Quando se tratava de comprar tempo de antena em TV, os números revelam que os Democratas foram muito mais eficazes na estratégia de obtenção de tarifas mais acessíveis, chegando a pagar, em alguns casos, apenas um décimo daquilo que eram as faturas do Republicanos, pelos mesmos minutos de écran.

Mas os problemas financeiros não foram o único fator preocupante para os Republicanos.

O ex-Presidente Donald Trump – que entretanto, na passada semana, anunciou a intenção de se recandidatar à Casa Branca - apoiou uma série de candidatos que nunca tinham sido testados eleitoralmente.

Entre esses candidatos estavam uma antiga estrela do futebol americano, Herschel Walker, cuja complicada história de vida inclui ameaças de violência contra a sua ex-mulher, falsas alegações de sucesso nos negócios e suspeitas de ter pressionado uma antiga namorada a fazer um aborto, o que o candidato negou, mas que manchou a imagem do partido.

O que os Republicanos também criticam é que Trump tenha dispendido muitos dos 100 milhões de dólares (cerca de 95 milhões de euros) que um comité de angariação de fundos por si organizado recolheu nos candidatos que apoiou, deixando muito pouco para outros candidatos em círculos eleitorais que eram críticos para o resultado final do partido.

As críticas estendem-se ainda ao Comité Senatorial Nacional Republicano, liderado pela fação que se opõe a Mitch McConnell, acusado de beneficiar alguns candidatos em detrimento de outros, quer na distribuição de fundos de campanha, quer no apoio político em momentos-chave das campanhas.

Alguns senadores republicanos já pediram uma auditoria interna a esta comissão liderada por Rick Scott, o arquirrival de McConnell, que já veio negar suspeitas de irregularidades financeiras, nomeadamente no que diz respeito ao pagamento de consultores do partido.

Os aliados de McConnell acreditam que Scott tem uma agenda secreta e que usou esta comissão para favorecer a sua própria imagem política às custas do partido, eventualmente para preparar uma candidatura presidencial em 2024, onde poderá aparecer como rival interno de Donald Trump.

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