Uma análise comparativa entre o que aconteceu em 2021 e o domingo que deixou Portugal mais laranja
O PSD teve o melhor resultado em eleições autárquicas desde 2009, o PS teve o pior resultado desde 2005 e a CDU confirmou que está em queda livre, voltando a piorar a sua prestação no sufrágio onde ainda têm peso real.
Este é um olhar diferente para as eleições que no domingo deram ao PSD uma “vitória em toda a linha”, como fez questão de dizer Luís Montenegro, que puxou para si e para o Governo grande parte do resultado que acabou com as cinco maiores câmaras do país pintadas de laranja.
Só em Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia, Porto e Cascais vivem, de acordo com os dados mais recentes, 1.764.696 pessoas que vão ser governadas por autarcas sociais-democratas nos próximos quatro anos. Uma repetição para Lisboa e Cascais, mas uma novidade para as outras três.
Sintra e Vila Nova de Gaia estão mesmo entre as 24 Câmaras Municipais que o PSD ganhou ao PS. Beja é o outro destaque óbvio, já que o concelho alentejano tinha alternado sempre entre CDU e PS, mas nunca tinha virado à direita. Nuno Palma Ferro fez história e explicou à CNN Portugal parte do segredo.
Foi também ao PS que ganhou Baião, concelho do distrito do Porto que era socialista desde 2005, quando José Luís Carneiro arrancou para três mandatos seguidos. A autarquia voltou às mãos do PSD nas primeiras eleições do agora secretário-geral do PS… José Luís Carneiro.
O PSD foi ainda mais longe dos concelhos de Benavente e Sobral de Monte Agraço, concelhos onde mandava a CDU, um dos grandes derrotados de domingo.
Contas feitas, o PSD, entre ganhos e perdas, fica com mais 21 Câmaras Municipais que em 2021, garantindo também a Associação Nacional de Municípios (ANMP), que estava nas mãos do PS desde 2013.
Os sociais-democratas passam agora a estar à frente dos destinos de 5.112.968 pessoas, consideravelmente mais que os 3.870.193 que governou nos últimos quatro anos. Além das cinco mais populosas, destaque para a vitória à risca em Braga ou para a importante reconquista de Guimarães.
PS a afundar
Era difícil fazer melhor, até porque o PS tinha tido nas últimas três eleições autárquicas os seus três melhores resultados. Em 2013 e 2021 foram 149 municípios e em 2017, com a Geringonça de António Costa em velocidade de cruzeiro, conseguiu 161 autarquias, naquele que é o segundo melhor resultado de sempre em eleições locais, só suplantado pelas 174 Câmaras Municipais da Aliança Democrática (AD) original.
Com vitórias em 127 autarquias, o PS perdeu 22 presidentes de Câmara, apesar de ter alcançado vitórias importantes, incluindo cinco capitais de distrito, duas delas impensáveis até para os mais otimistas.
São elas Viseu e Bragança. Na primeira, profundo “Cavaquistão”, só tinha mandado a direita e nem o "dinossauro" Fernando Ruas deu para que continuasse assim; na segunda só dava PSD há 30 anos. Mais para baixo, o PS conseguiu recuperar Coimbra e Faro ao PSD e “expulsou” a CDU de Évora, contribuindo para um facto negro para os comunistas que exploraremos mais à frente.
Ao todo, o PS ganhou nove Câmaras Municipais ao PSD e oito à CDU, perdendo a governação de cerca de um milhão de portugueses. Em 2021 tinha garantido um total de autarquias que faziam 5.104.718 de habitantes. Agora não foi além dos 4.144.795.
CDU sempre a descer
Não há outra forma de o dizer. É mesmo sempre a descer. Os tempos em que o PCP conseguia mandar em 50 Câmaras Municipais - em 1982 foram mesmo 55 - já lá vão. Depois de cair 24 para 19 autarquias em 2021, a CDU fica com apenas 12 presidentes de Câmara.
Como se não bastasse uma nova hecatombe, o partido que tem nas eleições autárquicas uma das suas grandes forças vai passar os próximos quatro anos sem liderar qualquer capital de distrito, depois de ter perdido Setúbal para a independente Maria das Dores Meira e Évora para o socialista Carlos Zorrinho. Pelo menos uma destas duas foi sempre comunista. Agora, nenhum dos 18 distritos vai sê-lo, mesmo que o partido tenha conseguido ganhar quatro Câmaras Municipais ao PS, com destaque maior para Montemor-o-Novo.
O PCP perdeu cerca de 40% da população que governava. Nos últimos anos foram 669.346 pessoas, agora vão ser apenas 408.535.
CDS e até o MAI se enganou
O erro foi detetado pelo próprio partido de Nuno Melo, que tinha mais ou menos como garantido que iria vencer os seis concelhos que já tinha. Ponte de Lima, Albergaria-a-Velha, Velas, Santana, Vale de Cambra e Oliveira do Bairro eram e foram fiéis aos centristas, mas houve um outro concelho conquistado.
Falamos de Mêda, na Guarda, que foi ganha pela coligação PSD/CDS, só que o cabeça de lista é filiado no partido de Nuno Melo, pelo que se deve contar esta como uma autarquia centrista.
O problema é que o Ministério da Administração Interna (MAI), que homologa os resultados e os publica oficialmente, colocou César Figueiredo como um nome do PSD e não do CDS.
São sete, portanto, mais uma que há quatro anos.
Quanto à população que vai governar, mantém-se sensivelmente a mesma, acrescentando os 4.594 habitantes de Mêda e tirando ou acrescentando uns pozinhos das outras seis autarquias.
O Chega ganhou?
Matematicamente, é fácil: sim.
Passou de zero para três Câmaras Municipais, ganhando Albufeira e São Vicente ao PSD e o Entroncamento ao PS.
Apesar disso, ficou atrás de CDU e CDS, o que André Ventura tinha atirado apenas quatro dias antes das eleições como um cenário “impensável”.
Contas feitas, o Chega vai liderar os destinos de 76.534 pessoas, com Rui Cristina, em Albufeira, a ser responsável por grande parte.