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Comentadora CNN

A incompetência para o golpe

30 nov 2022, 14:34

Em 30 dias após a derrota nas urnas, Bolsonaro segue isolado em Brasília sem trabalhar e bolsonaristas continuam nas estradas e quartéis em um delírio coletivo golpista

Há um mês, a maioria do povo brasileiro decidiu, em um processo democrático e reconhecido, quem governaria a nação pelos próximos quatro anos. Como em toda eleição, alguém perde, alguém ganha. Como em toda democracia séria e sólida, quem perde aceita o resultado. Mas, tais máximas só valem para quem segue as regras democráticas. Não é o caso de Jair Messias Bolsonaro e seus eleitores

Para a sorte do Brasil e da democracia, os bolsonaristas são tão incompetentes que não possuem capacidade para fazer o que querem fazer, seja dar um golpe ou evitar que o governo eleito tome posse em 1º de janeiro. Afinal, ora pedem golpe militar e ora reivindicam que Bolsonaro não deixe a cadeira da presidência. 

Sem contar também a insustentável tentativa do partido do presidente de afirmar que houve fraude nas urnas - curiosamente, apenas no segundo turno e para presidente. Para a numerosa bancada de deputados e senadores bolsonaristas, as urnas funcionaram perfeitamente bem.

Quase beira ao ridículo que realmente acreditaram que uma tese que não pára em pé seria sustentada judicialmente. O resultado, além da vergonha pública, foi uma multa de 22 milhões de reais, bloqueio do fundo partidário e inquérito criminal. A resposta de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi à altura, para mostrar que não se brinca com a democracia. 

Difícil escolher qual das táticas utilizadas pelos inconformados com o resultado das urnas é mais absurda e vergonhosa. O consenso é que não querem que o presidente eleito assuma o comando do país em 2023, mas não sabem bem como impedir que isso aconteça. É quase um jogo de vale tudo, com um fundo de desespero. 

Essas situações já eram previsíveis mesmo antes do segundo turno. O presidente derrotado passou quase quatro anos alimentando um discurso de que as urnas brasileiras não são confiáveis, até convocando embaixadores internacionais para uma reunião onde tentou emplacar a ideia, marcando assim mais uma episódio lamentável da diplomacia brasileira no atual mandato. 

Sabíamos que não seriam três meses tranquilos até 1º de janeiro. O primeiro mês é a prova disso. Sabíamos que haveria violência, como ocorre no Mato Grosso, onde as autoridades policiais classificaram atos de bolsonaristas como “análogos ao terrorismo”. Sabíamos que não teriam um pingo de humanidade, impedindo alunos de irem realizar provas estudantis e que crianças passassem pelo bloqueio para chegar ao hospital e fazer cirurgias. Nada disso surpreende.

Por outro lado, confesso que, talvez por ingenuidade minha, não pensava que alguns dos protestos seriam tão cômicos, como cantar o hino nacional para um pneu no meio da estrada, gritar desesperados “nos salvem do comunismo” em frente aos quartéis, usar fantasias como a do personagem “Rambo” para, de novo, combater o comunismo - esse falso fantasma que tanto assombra os eleitores de Bolsonaro. Devem até ter medo de olhar embaixo da cama e encontrá-lo por lá. 

Essas últimas situações, quase inexplicáveis do ponto de vista da racionalidade, são preocupantes. Já são 30 dias que esses eleitores deixaram suas famílias, seus empregos e suas vidas para lutar por causa que, na verdade, é uma não causa. São pessoas que, genuinamente, foram cooptadas por esse discurso da extrema-direita que é sem sentido, sem aceitar nenhuma ideia contrária, por mais provas que existam. Até quando vão continuar? Até quando essas ideias vão persistir no país, mesmo sem protestos?

Oposição ao governo é saudável e muito necessária e isso foi obtido no pleito, com a eleição de deputados e senadores contrários ao governo eleito - nas urnas, aquelas do tal “algoritmo”. Mas, em uma democracia, oposição não se faz com violência, com golpismo e terrorismo. É no Congresso e no Senado que o trabalho precisa ser feito. 

O que mais importa, de fato, é o que tem sido realizado pelo governo eleito nestas últimas semanas, que definirão as primeiras ações a partir da posse. Consultado pela coluna, uma fonte próxima da equipe afirmou que os protestos golpistas não atrapalham o serviço realizado pelos mais de 280 profissionais das mais diversas áreas que fazem parte do processo de transição. 

Não há tempo a perder, afinal, os desafios a partir de 1º de janeiro são imensos

Um deles é a superação desse delírio coletivo golpista que parte da população vive. Quanto tempo levará o Brasil para virar essa triste página da história? Não sabemos. Só sabemos que quatro anos não serão suficientes para restaurar plenamente a verdadeira ordem e progresso, o lema da bandeira do Brasil.

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

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