Num debate aceso, os dois líderes de direita discordaram nas duas principais bandeiras do programa do Chega: a imigração e as pensões. Rui Rocha ainda tentou a assinatura para a viabilização de um governo minoritário entre AD e IL, mas sem sucesso
Começou ameno, com os dois partidos a admitir que estão “de acordo em muita coisa” no debate transmitido pela SIC Notícias, sobretudo relacionada com o peso da carga fiscal e dos impostos, mas a discórdia não tardou em chegar.
“Há muitas diferenças entre a IL e o Chega”, atirou Rui Rocha, criticando que “às vezes parece que estamos a falar com Pedro Nuno Santos”.
Assim que o tema das pensões veio à baila, Rui Rocha acusou André Ventura de “querer tudo para todos”, sem medir os custos. Rui Rocha defendeu que está “a favor do cumprimento da lei” e “contra uma bancarrota” que o aumento prometido por Ventura iria trazer. “O André Ventura tem por hábito achar que diz as verdades, mas tem de ouvir uma verdade”, atirou, alegando que o líder do Chega está a “enganar” os idosos com as promessas feitas. “Não vale tudo, em democracia e política não vale tudo”, acusando Ventura de “socialismo”.
“Não é socialismo, é ter consciência social do país em que vivemos. Não aceito viver num país em que os pensionistas recebem 200 euros”, devolveu Ventura, mas sem especificar como irá financiar a medida proposta pelo Chega sobre o aumento das pensões. E continou com as críticas: “A IL está confortável com pessoas a ganhar 800 euros e pensionistas a ganhar 200 euros”, disse, atirando os resultados das últimas sondagens como ataque: “Estamos nos 20%, vocês estão nos 5%”, afirmou, garantindo que Rocha nunca irá governar e que a IL é o “partido dos ricos”.
Também a TAP fez estalar o verniz durante o debate. Ventura disse que a Iniciativa Liberal “conhece duas palavras: privatizar e despedir”, mas nunca admitiu se quer ou não a nacionalização da companhia aérea portuguesa, apenas disse que “a questão não está em privatizar a TAP”, pois “a TAP é estratégica”.
Foi quando o tema de imigração chegou ao debate que o tom dos dois líderes subiu a discórdia entre os partidos se tornou mais notória: apesar de ambos defenderem um maior controlo nas chegadas a Portugal, Rui Rocha apressou-se a dizer que “o que pretendemos é uma migração com dignidade e humanismo”.
“Portugal não pode ser um país em que ninguém controla nada e há portas abertas, em que vagas e vagas de pessoas chegam sem controlo, temos terroristas a andar pelo país”, afirmou André Ventura. “Isto não é imigraçao é bandalheira, isto não é ser contra ou a favor da imigraçao”, continuou, dizendo mesmo que “quem vier para Portugal tem de vir por bem, mas se cometer crimes em Portugal tem de ser expulso”, ideia que Rui Rocha rejeitou: “cumpra-se a lei”, disse.
Veja quem ganhou o debate aqui
Com um papel na mão à espera da assinatura de André Ventura para viabilizar um governo minoritário entre a AD e IL, tentativa sem sucesso, Rui Rocha colocou nas mãos do Chega e do PS “a solução” que pretende para “transformar” o país.
“O que queremos a partir de 10 de março, queremos transformar o país. Não ganhando a IL, é trazer o PSD para as transformações necessárias no país e cabe aos outros partidos, nomeadamente ao Chega e PS, decidir se viabilizam uma solução desta natureza”, afirmou Rui Rocha, adiantando que André Ventura ainda tem de assumir a sua posição sobre um governo minoritário da IL e PSD.
Em resposta, Ventura acusou a IL de estar “doidinha por se meter na cama com o PSD”, vincando que o Chega tem condições e exigências, ao contrário da IL.
Quando questionado se um acordo de governação com o Chega é impossível para a IL, Rui Rocha deu a entender que não, e justificou: “por tudo o que eu disse neste debate, porque nós queremos transformar o país e não nos entendemos”, dizendo que “há questões de princípio e dignidade humana” e que “nós não nos entendemos com partidos estatistas e socialistas”. “Hoje debati com outro líder de outro partido socialista”, ao que Centura respondeu: “levou uma coça dos dois”.