Os dois candidatos consideram que o PS precisa deles para aplicar as "soluções necessárias" para o país e, nesse sentido, colocam de lado as divergências que os separam para abrir espaço a "um debate profícuo"
Apesar de discordarem em matérias como o conflito na Ucrânia, Paulo Raimundo (CDU) e Rui Tavares (Livre) estão disponíveis para ajudar a criar uma maioria à esquerda, contra a "instabilidade" da extrema-direita.
Isso mesmo ficou claro no frente a frente desta terça-feira, transmitido pela CNN Portugal, no qual os dois candidatos se posicionaram contra o voto útil aclamado por Pedro Nuno Santos, com Paulo Raimundo a argumentar que o PS, sozinho, não aplica "as soluções necessárias" para o país, mesmo "quando tinha tudo na mão", referindo-se à maioria absoluta e à folga financeira.
Já Rui Tavares deixou claro que as posições que distinguem o Livre do PCP em matéria da adesão à União Europeia (UE) e do conflito da Ucrânia não serão um entrave a um eventual entendimento à esquerda, afirmando mesmo que há espaço para "um debate profícuo" nessas questões. É que o PCP, diz, ao contrário dos restantes, tem "posições coerentes".
"O PCP e o LIVRE têm posições divergentes sobre a UE, mas [o PCP] tem posições coerentes, e infelizmente isto não é geral na politica portuguesa. Mesmo à esquerda, há partidos que são seguidistas em relação à UE no sentido em que, o que Bruxelas decidir, está decidido, e vão atrás, e há outros que ou são omissos ou oscilantes em relação à sua posição sobre a UE. Aqui acho que podemos ter um debate profícuo", afirma Rui Tavares.
Uma das questões que separa a CDU do Livre é precisamente a guerra na Ucrânia, que marcou este debate. Paulo Raimundo aproveitou para clarificar a posição do PCP sobre esta matéria, afirmando que o partido está "preocupado" desde 2014 com o que se passa na Ucrânia. "Eu estranharia que uma força que exige a paz desde 2014 até agora fosse penalizada por querer a paz", argumenta.
"A nossa posição no dia 24 de fevereiro foi chamar a atenção para três questões: a guerra não começou naquele dia, há antecedentes que não se pode deixar de ter em conta, e que os intervenientes na guerra não eram apenas os diretamente envolvidos, Ucrânia e Rússia, e que o que era exigido aos Estados, à UE, e a todos nós, era caminhar para obrigar os intervenientes a sentaram-se à mesa para encontrar o caminho de paz. A solução encontrada foi outra: foi pôr mais bombas na guerra, e as consequências estão à vista", sustenta Paulo Raimundo.
Rui Tavares, europeísta convicto, explica que o Livre é "contra todos os imperialismos, quer o dos Estados Unidos, quer o da Rússia". "A única hipótese que os europeus têm de conseguir fazer face a esta fase de grande instabilidade internacional é terem união contra os imperialismos", argumenta.
Mas até neste tema Rui Tavares encontra um ponto em comum com o candidato da CDU. "Há uma coisa em que eu concordo com Paulo Raimundo: a guerra não começou em fevereiro de 2022, começou antes. A Ucrânia é um dos dois únicos países no mundo – o outro é o Cazaquistão – que entregou o seu arsenal nuclear. Fê-lo em meados dos anos 90, em troca de garantias de respeito pela sua integridade territorial e soberania. A partir do dia 31 de dez de 1999, quando Vladimir Putin assumiu o poder na Rússia, a Ucrânia nunca mais teve sossego."
No debate, os dois candidatos foram depois confrontados com a proposta do Chega sobre o direito à greve e à filiação partidária das forças policiais. Este foi mais um ponto de convergência entre ambos, com Paulo Raimundo a afirmar que as forças de segurança devem ter "acesso ao direito à greve", embora sejam profissionais com "uma grande responsabilidade" e um "grande sentido de Estado", pelo que, diz, "serão os primeiros a defender e fazer cumprir a Constituição da República". Sem responder diretamente à proposta do Chega, considerando-a "uma questão não central", Paulo Raimundo sublinha a proposta da CDU, que visa a fusão da GNR e da PSP numa "única força policial".
Já Rui Tavares considera que, "com serviços mínimos e com enquadramento legal, o direito à greve pode ser um direito reconhecido" às forças de segurança, mas manifesta-se contra a partidarização da polícias.
O terceiro tema em destaque neste frente a frente foi a valorização da Cultura, com os dois candidatos a insistirem na alocação de pelo menos 1% do Orçamento do Estado para este setor, começando desde logo pelo combate à precariedade dos artistas.