Na cidade mais alta do país, a ginginha segura Costa ao frio da terra

21 jan 2022, 21:01
António Costa em arruada na Guarda (Lusa/Miguel A. Lopes)

Não foi uma maratona, mas a temperatura tornou a arruada na Guarda mais dura. Uma moldura socialista aqueceu António Costa. O secretário-geral teve rosas na mão. Mas foi outra Rosa (Mota) que o obrigou a parar.

Sobem-se mais de 70 degraus para uma vista privilegiada, a vista divina da cidade. No topo da Sé da Guarda, observa-se a bolha socialista a criar-se. Só está aqui quem quer desfilar com António Costa. Concentram-se num dos cantos da Praça Luís de Camões. À medida que a chegada do líder se torna mais real, a moldura humana vai-se movendo para a esquerda. Do céu, veem-se melhor estas coisas.

O rufar dos tambores sente-se ao mesmo tempo que o hino de campanha. “Guarda com futuro, esperança e união, Ana Mendes Godinho no coração”. E tudo, em conjunto, mais e mais intenso, até Costa pisar o mesmo chão. A multidão, com o secretário-geral à frente, cruza a praça em sete minutos. O frio acelera o passo para aquecer os corpos que ficaram tanto tempo à espera.

Manuela Carvalhosa também prefere a vista de cima, mas da janela do primeiro andar onde espreita com a colega de trabalho. “Estamos a ver se o encontramos para pedir uma coisa: mais empresas. Queremos discriminação positiva para o interior. Quando eles começaram a usar essa expressão, já eu a usava há muito tempo. Vemo-nos muito pouco representados na Assembleia da República”. O pedido a Costa ficou por fazer.

A comitiva do PS vista do alto, no topo da Sé da Guarda

As palavas que a realidade confirma

Três graus a meio da tarde. As mãos dos socialistas bem enfiadas nos bolsos. O resto do corpo a pedir uma bebida quente para compensar o frio. Um café, por exemplo. Nesta matéria, Maria Hermínia Lopes e Bruno Dias Lopes têm solução. Neste negócio familiar o café é uma das especialidades. “Casa do Bom Café”, assim se chama há 105 anos, se dúvidas houvesse.

À arruada não vão. “Não abanamos bandeiras. Quando se tem um negócio, não se abanam bandeiras”, diz o filho, regressado à terra natal após uma experiência de trabalho nos Estados Unidos da América. Já a mãe lembra o centro histórico “completamente esquecido”. Sem clientes, sem turistas, sem “incentivos” que possam mudar esse destino.

 “Se não estivesse aqui o Dr. António Costa, a praça estaria deserta”, explica Maria Hermínia Lopes. A vista do céu confirma-lhe as palavras. É que, passada a caravana, não fica ninguém para contar a história.

Caravana socialista passou, deixando a praça central vazia

Ginginha sem “mau feitio”

Na bolha socialista, o frio não é motivo de queixa. Há rosas para partilhar pela comitiva e por aqueles que ficam só a vê-la passar. “O Dr. António Costa está habituado a distribuir. Não guarda”, diz uma militante dada a trocadilhos.

Isabel Antunes vem à porta para ver o secretário-geral do PS. Num movimento inesperado, recebe-lhe das mãos uma rosa. Encontro breve. Ao primeiro-ministro não disse o que queria: “Estamos a ficar isolados por falta de trabalho”.  Mas compreende a velocidade da caravana. “Tem de ser rápido, para chegar onde quer”. À maioria absoluta? “Duvido”.

A comitiva segue, pelo meio da rua, partilhando a via com os automóveis. “Encosta, encosta”, que vem aí o Costa. De um lado a esposa, do outro Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho e cabeça de lista pela Guarda. De perto, outra Ana, Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial e cabeça de lista por Castelo Branco, onde o dia teria fim. “As Anas das Beiras”, fica a expressão repetida.

E parar, só mesmo para aquecer com uma ginginha. Duas, para o número ser certo. O líder socialista não sai sem assinar o livro de visitas de honra do estabelecimento. O último a fazê-lo tinha sido Rui Rio. Mas Costa não se importa de assinar a seguir, diz não ter “o mau feitio” do social-democrata.

Costa aqueceu, numa tarde de três graus, com duas ginginhas

O rival que havia de ser descrito de manhã, numa outra iniciativa do PS, como “nazizinho” por Rosa Mota. Já no gelo da rua, Costa não aquece a polémica do dia. Está “muito grato pelo apoio” mas demarca-se da antiga atleta: “Cada um fala por si, eu falo por mim e nunca utilizei essa expressão”.

Ao presidente do PSD, havia de voltar, já no calor de um auditório. Para cumprir compromissos, diz, Rio “está quieto”. “O programa do PSD é um bocado como aqueles contratos de seguros, onde é preciso ler aquelas letras pequeninas que habitualmente nos apanham na distração”, compara. Pequenina, como a diferença que os separa agora nas sondagens.

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