Confrontado sobre se mantém o "não é não", Montenegro usou um "sim é sim". E há outra subtileza: um plural

19 mai, 01:28

Luís Montenegro diz que a vitória eleitoral também lhe pertence individualmente: "O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro". Confrontado sobre o "não é não" ao Chega, se o mantém, respondeu com um "sim é sim" - mas não ao Chega. Portanto: Montenegro que diz que não "é analista" mas deixa muita matéria para os analistas analisarem

Foi com os novos donos da Spinumviva ao lado que o primeiro-ministro cessante e mais do que provável próximo primeiro-ministro se dirigiu aos apoiantes para agradecer “o apoio, a força e a solidariedade”. Ao lado da mãe, da mulher e dos filhos - que são os donos da empresa que deve a Espinho e às peixeiras o nome -, Luís Montenegro vê nesta vitória um reforço da Aliança Democrática (AD), mas também no Governo e até no primeiro-ministro. Nele próprio, portanto.

O líder da coligação entre PSD e CDS frisou que não foram os portugueses a pedir estas eleições mas que foi o povo a decidi-las. “A resposta foi clara: o programa base da governação é o programa da AD. O primeiro-ministro é o atual e todos devem ser capazes de colocar o interesse nacional acima de qualquer outro”.

Sem ter tocado, durante o seu discurso de vitória, no “não é não” que tantas vezes mencionou há um ano e nos meses seguintes, Luís Montenegro pediu este domingo à noite “responsabilidade” a todos os atores políticos. E depois repetiu algo semelhante ao que fez no discurso de vitória de há um ano: que tem a mais firme expectativa de que PS e Chega não vão constituir uma aliança negativa "para impedir aquilo que os portugueses elegeram".

Quando questionado diretamente sobre a subida do Chega, disse que não é "analista". E quando questionado diretamente sobre se mantém o "não é não ao Chega", deixou muito espaço para os analistas analisarem: o primeiro-ministro respondeu que é pelo "sim é sim a Portugal". 

Por outro lado: este ano, no discurso de vitória, Montenegro não referiu nenhum dos partidos da oposição, nomeadamente PS e Chega. Falou sempre em "oposições", disse "oposições" várias vezes sem nomear os constituintes desse plural. Mas afinal PS e Chega estão empatados, empatados é plural, são oposições simultâneas.

Invariavelmente interrompido por gritos de “Portugal, Portugal, Portugal”, Luís Montenegro pediu uma legislatura de quatro anos, pedindo compreensão e respeito. “Honrem a sua palavra livre e democrática”, disse, numa lógica paralela à sua canção com o já mítico refrão “deixem o Luís trabalhar”.

“Às oposições caberá, igualmente, respeitar e cumprir a vontade popular, honrando os seus compromissos e as suas propostas, mas adequando-os às circunstâncias nacionais e coletivas. De uns e outros espera-se sentido de Estado, sentido de responsabilidade, respeito pelas pessoas e, naturalmente, espírito de convivência na diversidade, mas também de convergência e salvaguarda do interesse nacional”, sustentou.

Se mais dúvidas houvesse, o primeiro-ministro dirigiu-se novamente “às oposições”, isto numa fase em que os círculos da emigração vão decidir se se mantém o empate a 58 entre Chega e PS.

“O povo quer este Governo e não quer outro. O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro. O povo quer que este Governo e este primeiro-ministro respeitem e dialoguem com as oposições, mas o povo também quer que as oposições também respeitem e dialoguem com este Governo”, reiterou, mostrando-se confiante.

Em 2024, no discurso de vitória, Montenegro usou o singular, referiu-se diretamente ao PS, mencionou-o como "principal partido da oposição". "O PS teve muito menos votos e muito menos mandatos, a AD teve mais votos e mais mandatos", afirmou. Este ano não houve menção ao PS, que teve esse empate singular com o Chega.

Luís Montenegro virou-se depois para uma questão que praticamente nem esteve em campanha. Um “mundo perigoso” cheio de desafios geopolíticos, humanitários e outros. “Vamos, por isso, continuar a valorizar o trabalho e os rendimentos dos portugueses, a estimular o investimento… com mais rendimentos, com recursos humanos mais valorizados, com mais investimento, vamos criar mais riqueza”, sublinhou, num discurso que pareceu o de um treinador que prepara a equipa para a segunda parte.

Na sua declaração, o líder social-democrata alertou para a complexidade da atual conjuntura internacional, cabendo a Portugal um caminho de estímulo ao investimento com “recursos humanos mais valorizados”.

“Vamos continuar a apostar na juventude, que queremos reter e manter em Portugal e com a qual contamos para criar mais riqueza para podermos redistribuir de forma mais justa; vamos continuar a valorizar aqueles que prestam serviço no Estado, os trabalhadores da administração pública, porque uma administração pública mais qualificada será mais eficiente”, prometeu.

O primeiro-ministro falou ainda em “continuar a salvar o Estado social, da saúde à educação, da habitação à mobilidade”.

“Vamos continuar a levar a cabo mais regulação da imigração, maior reforço da segurança, mais combate à criminalidade grave e à corrupção, reforçando as forças de segurança e também as Forças Armadas”, completou.

Luís Montenegro deixou ainda mais duas garantias: “Quem trabalha mais, quem produz mais, tem de ter a justa retribuição pelo seu desempenho; e não falharemos aos nossos reformados e pensionistas”.

As primeiras palavras de Luís Montenegro foram destinadas a “cumprimentar o povo português, pela sua “liberdade, responsabilidade cívica, bravura e inteligência”. Saudou também a sua família “de sangue” e a sua família política.

Quando estão por apurar apenas os círculos da emigração, as duas coligações lideradas pelo PSD (AD – Coligação PSD/CDS no Continente e Madeira com 86, a que se somam três da coligação PSD/CDS-PP/PPM nos Açores), obtêm 89 deputados (87 do PSD e dois do CDS-PP) e cerca de 32,7% dos votos.

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