Eleições nos EUA: Nos canais e redes extremistas o país de Biden é crime e comunismo e carnificina

Agência Lusa , DCT
6 nov 2022, 08:46
Bandeira dos EUA

Em disputa nas eleições intercalares estarão todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes, onde os democratas atualmente têm uma estreita maioria de cinco assentos, e ainda 35 lugares no Senado, onde os democratas têm uma maioria apenas graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris

Navegando uma onda de descontentamento com a economia, mudanças sociais e o desempenho do presidente Joe Biden, os canais e redes sociais extremistas 'pintam' um cenário de carnificina, crime e comunismo na América, a dias das eleições intercalares. 

“Ninguém está seguro numa cidade democrata”, avisava no sábado o apresentador Wayne Allen Root durante o seu programa “America’s Top 10” no canal Real America’s Voice. “Se retirarmos as cidades democratas, as taxas de crime nos estados republicanos descem de forma dramática”. 

Root alegou que os procuradores-gerais democratas são financiados por George Soros e recusam-se a processar ladrões e adolescentes que cometem crimes graves. 

“A Califórnia tem os impostos mais elevados, imenso dinheiro para emigrantes ilegais, estado social e transexuais, mas nenhum dinheiro para processar criminosos violentos que espancam mães e crianças!”, exclamou. 

Momentos antes destas afirmações, Root tinha acusado Joe Biden de liderar uma “cabala marxista”, durante uma entrevista com Mike Lindell, CEO da empresa MyPillow e aliado de Trump. 

Lindell afirmou que as recentes eleições no Brasil foram “roubadas” a Jair Bolsonaro - também conhecido como "Trump dos Trópicos" pela sua admiração por Donald Trump - e que é preciso eliminar o voto eletrónico, sob pena de os democratas cometerem fraude. 

Esta retórica é transversal aos canais de televisão alternativos que nos últimos anos acomodaram as posições mais extremadas do partido republicano e acolheram personalidades que foram afastadas do “mainstream”. 

Apresentadores e comentadores fazem um retrato de crime descontrolado nas cidades democratas e nas fronteiras com o México, alegando que as fronteiras foram abertas e há criminosos ilegais a entrar sem obstáculo. 

Foi isso mesmo que o ex-presidente Donald Trump disse num recente comício em Sioux City, Iowa, que teve extensa cobertura do Real America’s Voice. 

“Há milhões de ilegais a entrarem e o crime violento está descontrolado”, alegou Trump, dizendo ser necessário “parar esta invasão” e falando de uma crise de “homicídios, violações e drogas”. O ex-presidente alegou que há países latino-americanos a “tirar criminosos das prisões e a despejá-los no nosso país”.  

O mote repetido por Trump é agora “Make America Safe Again” ("Tornar a América Segura Novamente"). Este tema encontra-se de forma mais frequente nos canais e redes extremistas do que as questões económicas que assolam os eleitores. Vários apresentadores de diferentes canais, nas pausas entre segmentos, fazem publicidade a um serviço que protege os proprietários de casas de sofrerem um roubo do título de propriedade. 

Uma extensão deste tema é enquadrada com questões de género em pano de fundo. 

Na OAN (One America News), o apresentador Addison Smith disse que há “sedução de pedófilos” a acontecer nas escolas e traçou um paralelo com o aumento do número de estudantes que se assumem como não-binários ou transexuais. 

“A esquerda radical quer forçar isto nas crianças quando ainda não são capazes de tomarem estas decisões que vão alterar as suas vidas”, afirmou Smith no seu programa “In Focus”.

“Este forçar da agenda trans está a acontecer em todo o país”, alegou, falando dos perigos da “sedução” e do aumento de pessoas que decidiram reverter a sua transição transexual. 

Trump também aludiu a este ponto, que faz parte da campanha de vários republicanos, alegando que há uma “loucura distorcida de género” a acontecer nas escolas. 

No site alternativo ao YouTube, Rumble, a página principal promove um vídeo de Jedediah Bila sobre “homens efeminados”. O canal “Frontlines with Drew Hernandez” tem um vídeo que diz revelar “a propaganda do estado profundo”, com a imagem de um Joe Biden zangado na imagem de capa. E o canal Virtue News promove um vídeo sobre a queixa de Elon Musk de que grupos ativistas estão a pressionar anunciantes e a causar uma quebra maciça de receitas no Twitter. 

Este é outro tema forte, principalmente nos sites e redes sociais nas franjas do extremismo. A rede social Parler, que foi comprada recentemente por Kanye West, tem no topo de tendências uma história sobre a candidata a governadora do Arizona, Kari Lake, segundo a qual os Republicanos são alvo de censura das grandes plataformas e meios de comunicação e vítimas da cultura do cancelamento. 

A mesma rede tem no topo uma história sobre como “a Esquerda está a perder a cabeça” e outra de Dan Bongino que promete revelações explosivas sobre “como o FBI assegurou que o computador portátil de Hunter Biden continua escondido”. Hunter Biden é filho do presidente Joe Biden. 

Na rede social Gettr, fala-se de uma “onda vermelha gigante” que vai engolir o Congresso quando os Republicanos, cuja cor é o vermelho, vencerem as eleições no dia 08 de novembro. 

A conta Truth Seeker partilhou um cartoon que mostra uma onda vermelha gigante prestes a engolir um burro vestido de azul, que representa os Democratas, a tentar proteger-se atrás de um castelo de areia que diz “audiência do 06 de janeiro”, um chapéu-de-chuva com a palavra “aborto” e uma pistola com a bandeira “problema das armas”. Atrás, um incêndio onde se lê “desastre Biden-Democratas” consome as cidades. 

Na cobertura da Newsmax, que se tem posicionado como alternativa à Fox News, a correspondente Carolyn Feldman disse que a candidata Democrata a governadora da Geórgia, Stacey Abrahams, é a “negacionista original das eleições”, uma vez que “nunca concedeu a derrota de 2018”. 

Os republicanos são largamente favoritos a conquistarem a Câmara dos Representantes e têm vantagem nas sondagens para o Senado. 

As eleições intercalares norte-americanas, a 08 de novembro, determinarão qual o partido que controlará o Congresso nos dois últimos anos do mandato do Presidente Joe Biden, estando também em jogo 36 governos estaduais e vários referendos estaduais a medidas sobre questões-chave, incluindo aborto e drogas leves.

Em disputa estarão todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes, onde os democratas atualmente têm uma estreita maioria de cinco assentos, e ainda 35 lugares no Senado, onde os democratas têm uma maioria apenas graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris.

As eleições podem não apenas mudar a cara do Congresso norte-americano, mas também levar ao poder governadores e autoridades locais totalmente comprometidos com as ideias de Donald Trump. Uma derrota muito pesada nestas próximas eleições pode complicar ainda mais o cenário de um segundo mandato presidencial para Joe Biden.

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