Susie Wiles, a "donzela de gelo" que Trump fez questão que saísse do "fundo do palco" no discurso de vitória

6 nov, 18:02
Susie Wiles

O rosto invisível da campanha de Trump é, provavelmente, o mais poderoso para o presidente

Donald Trump ganhou as eleições e vai tornar-se no 47.º presidente dos Estados Unidos. Por trás desta vitória está uma mulher que pouco ou nada apareceu ao longo da campanha: Susie Wiles.

“Chamamos-lhe a donzela de gelo”, disse Trump sobre a sua conselheira sénior no discurso de vitória, naquele que foi o primeiro elogio da noite a seguir à família, a Mike Johnson e a J.D. Vance, e ainda antes de Elon Musk. Considerada uma peça fundamental para o resultado esmagador da candidatura republicana, Donald Trump fez questão de enaltecer o papel de Wiles. “Deixem-me expressar o meu enorme apreço pela Susie e pelo trabalho que fez”, disse enquanto pedia à conselheira que deixasse o fundo do palco onde, segundo o agora presidente eleito, Wiles gosta de ficar. E nem quis falar, apesar de Trump lhe ter dado o papel central. "O trabalho que fez Susie, venha aqui, venha aqui Susie. A Susie gosta de ficar nos bastidores, mas ela não está nos bastidores", sublinhava o vencedor das eleições.

A mulher que para muitos é apontada como uma das principais impulsionadoras da campanha de Trump tem 67 anos e passou décadas a ajudar candidatos republicanos a serem eleitos para cargos como presidente, governador ou congressista pelo Estado da Florida. Foi neste Estado que desenvolveu uma reputação como consultora inteligente, pragmática e bem relacionada.

“Não há ninguém que tenha a riqueza de informações que ela tem. Ninguém na nossa órbita. Ninguém”, disse ao jornal Politico o principal pesquisador de sondagens de Trump, Tony Fabrizio.

As suas qualidades também são reconhecidas por outros colegas de profissão. "Ela já era a trabalhadora republicana mais bem-sucedida e respeitada da Florida, de longe; agora está a consolidar essa marca", disse também ao Politico Ashley Walker, estrategista democrata que liderou duas vezes as campanhas de Barack Obama na Florida e trabalhou anteriormente com Wiles.

Ao longo do seu percurso profissional de mais de 40 anos, Susie Wiles ajudou ainda o empresário Rick Scott, para muitos um desconhecido, a ganhar o governo da Florida em 2011, cargo que exerce atualmente como senador pelo mesmo Estado.

Motivada pelo desafio de vencer campanhas acima da ideologia do partido para o qual trabalha, Trump tornou-se o candidato mais desafiador. Numa das poucas entrevistas que deu, tendo em conta que prefere manter-se longe dos holofotes, reconheceu que vê semelhanças entre o presidente eleito e o seu falecido pai, Pat Summerall, um jogador de futebol americano que se tornou um famoso apresentador de programas desportivos, por “ser difícil de gerir”.

Antes de se juntar à atual campanha republicana, Wiles comandou as candidaturas de vários candidatos de destaque em 2010, 2016, 2018 e 2020 — Rick Scott, Donald Trump duas vezes e Ron DeSantis.

Susie Wiles assiste ao discurso do candidato presidencial republicano, Donald Trump, num comício de campanha em Lititz, Pensilvânia, em 3 de novembro de 2024

Foi afastada por Ron DeSantis, mas Trump foi buscá-la

Em 2016, Wiles juntou-se à primeira campanha de Donald Trump contra Hillary Clinton, ajudando a candidatura a vencer num Estado importante como a Florida, que nas duas eleições anteriores tinha caído para o partido democrata de Barack Obama.

Dois anos depois, e já com esse importante feito na carreira, ajudou Ron DeSantis a ser eleito governador ao assumir uma campanha que inicialmente parecia destinada ao fracasso, no final de setembro de 2018. No entanto, a vitória do candidato afastou Wiles da esfera política.

Fontes próximas de DeSantis citadas pelo Politico contam que Wiles foi afastada por estar a receber demasiado crédito pela vitória do governador, trabalhando pouco para a agenda do candidato e mais para os seus próprios relacionamentos e para a reeleição do presidente.

E foi o que aconteceu em 2020 e novamente agora, com Trump a voltar a chamar Susie para as suas campanhas.

O caminho para as presidenciais deste ano começou em novembro de 2022, quando Trump anunciou a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos. Em conjunto com Chris LaCivita, o seu braço-direito na campanha que também recebeu grandes elogios no discurso de vitória de Trump, Wiles desenvolveu uma estratégia que aproveitaria os pontos fortes do seu candidato.

No início da campanha interna do partido, DeSantis era o principal adversário de Trump a conseguir a tão ambicionada indicação republicana. No entanto, o facto de a campanha liderada pelo atual governador da Florida ter recursos e uma maior operação no Iowa, onde teria lugar as primárias, não foi um problema para a conselheira. Wiles decidiu não andar a bater a portas e optou antes por um plano direcionado para identificar apoiantes de Trump que talvez nem estivessem registados para votar. Com isso, conseguiram vencer o Iowa de forma esmagadora.

Susie Wiles assiste no fundo do palco ao discurso do candidato presidencial republicano, Donald Trump, num comício de campanha no Iowa

Conseguida a nomeação republicana, o plano que se seguiu foi simples e assentou numa narrativa clara: Biden era um presidente fraco e Trump era mais forte.

E assim foi até os democratas decidirem apoiar Kamala Harris na corrida à Casa Branca, após um debate confrangedor na CNN entre Joe Biden e Donald Trump. 

A estratégia de Wiles manteve-se com Kamala, que não conseguiu descolar de Biden. E com Trump a prometer uma "idade de ouro" para a América, tudo se tornou mais fácil.

Segundo a imprensa norte-americana, Donald Trump poderá atribuir o cargo de chefe de gabinete à sua conselheira.

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