De um lado Pedro Sánchez, líder governo espanhol e secretário-geral do Partido Socialista Obrero Español (PSOE). Do outro Alberto Nuñez Feijóo, presidente do maior partido da oposição, o Partido Popular (PP). Pela primeira vez em oito anos, incumbente e candidato da oposição frente a frente no único debate entre os dois e no meio de uma campanha dura. Era de esperar que, face ao grande número de eleitores de centro que as sondagens apontam como indecisos, este debate, o debate de uma década – já que o último foi em 2015 e o próximo só deveria ocorrer em 2027 – fosse esclarecedor para a maioria dos espanhóis e ajudasse a dissipar as dúvidas dos que ainda não sabem em que votar. Ainda que com um claro vencedor - Feijóo -, este debate foi uma oportunidade verdadeiramente perdida.
Pedro Sánchez, depois de 4 dias fechado na Moncloa a preparar o debate, procurava mostrar-se uma pessoa empática, recuperar nos resultados das sondagens e, creio, corresponder à realidade, esmagar o seu adversário na televisão. Podia até ter razões para isso, já que o debate entre ambos no Senado havia sido favorável a Sanchéz e Feijóo ainda não teve tempo de demonstrar ser um conhecedor profundo de todos os temas respeitantes à governação. Havia no PSOE quem dissesse, nas vésperas do debate, que as pernas de Feijóo tremiam só de pensar em Pedro Sánchez. O líder do PP, por seu turno, depois de um banho de 12.000 pessoas na Galiza, tinha como objetivo principal dar-se a conhecer aos espanhóis, demonstrar ser uma pessoa moderada e um líder político capaz de dominar qualquer assunto.
O secretário-geral dos socialistas falhou em toda a linha. Já o presidente dos populares entrou mais assertivo, convicto dos dados que apresentou e conseguiu provar que está nesta campanha pelos espanhóis. Conseguiu igualmente ter alguma iniciativa mas, num debate que tinha como pontos principais a economia, a política social e igualdade, os pactos e governabilidade e as políticas de Estado, institucionais e internacional, pouco mais se falou do que os acordos entre e o PP e a extrema direita do Vox e entre o PSOE e partidos independentistas como o Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), o Euskal Herria Bildu (EH Bildu) ou partidos de extrema-esquerda como os que fazem parte da coligação Sumar. Se se falava de violência de género, falava-se das consequências de o Vox entrar no Governo. Se se falava de unidade de Espanha, atacava-se com os independentistas. Se o tema era alterações climáticas, atenção que o Vox tem negacionistas. Se se falava de terrorismo, o PSOE tinha governado com apoio de partidos que nas últimas eleições apresentaram candidatos condenados por crimes relacionados com a ETA. Quando se queria falar de saúde ou educação, não eram temas da competência do Governo mas sim das comunidades autónomas.
Pelo meio, Feijóo ainda esboçou um acordo de regime no qual disse comprometer-se a deixar o PSOE governar, sem ter de depender dos atuais parceiros, se aquele partido fosse o mais votado e desafiou Sánchez a prometer o mesmo se isso acontecesse com o PP. Mas a resposta foi esquiva e do presidente do Governo não se conseguiu mais do que um “o senhor Feijóo tem muito sentido de humor”.
Numa altura em que cada vez mais se aponta o eleitorado de centro como fator-chave para estas eleições, nenhum dos líderes teve uma única palavra para as províncias espanholas (em Portugal seriam os círculos eleitorais) que podem decidir o resultado final, as chamadas “pequenas províncias”. Sem contar com as cidades autónomas de Ceuta e Melilla, das 50 províncias espanholas apenas sete elegem mais de 10 deputados (Madrid, Barcelona ou Valência), 24 elegem entre cinco e nove (Saragoça, Toledo ou Badajoz) e as demais apenas elegem até quatro deputados, sendo que na sua grande maioria estas últimas fazem parte da denominada Espanha rural. Nestes territórios, os votos que não sejam dados aos dois maiores partidos acabam por se poder não concretizar na eleição de outro deputado de outra formação. Ora, se um e outro partido apelam ao voto útil mas depois não dedicam um único momento do debate aos eleitores destas províncias, por muito apelo à moderação que façam será difícil obterem o resultado pretendido quando existem outros que lhes dão tempo e espaço.
Historicamente, os debates televisivos não têm em Espanha o condão de alterar o rumo de uma campanha. Além disso, apesar de todo o interesse suscitado e de ter sido o programa mais visto da noite, foi o debate menos visto de sempre na televisão espanhola. Face à disparidade de resultados de sondagens que se vêm conhecendo, prevê-se que a campanha continue ao rubro até dia 23, obrigando os partidos a percorrer e a lutar por cada voto nas ruas.