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Instantâneos eleitorais

13 out, 14:47

O Chega perdeu? Olhe que não

André Ventura partiu para estas autárquicas como aqueles adeptos de uma equipa que acham que vão golear o adversário, e depois até ganham com alguma facilidade, mas com poucos remates certeiros. Só que, objetivamente, o Chega ganhou e muito. Passou de 19 vereadores para 134, de zero câmaras para três (e andou muito perto em outras bem relevantes), de 208 mil votos para 654 mil, subiu da sexta força autárquica para a terceira. Além disso, percebeu-se, mais uma vez, que o partido da extrema-direita está implementado fortemente em todo o país, mesmo que alguns candidatos a autarcas (inclusive deputados) deixem mesmo muito a desejar. Mas parece ser uma questão de (pouco) tempo até chegar ainda mais longe a nível local. Um problema apenas: os putativos sucessores de Ventura no Chega, Pedro Frazão e Rita Matias, não conseguem sequer ganhar autarquias ou chegarem perto disso.

Mortágua morreu, foi enterrada e só o Bloco é que não percebeu

A eleição para as autarquias foi um autêntico desastre para a líder e para o partido de extrema-esquerda, sendo que ambos parecem ter perdido quase por completo a ligação a faixas muito importantes de eleitorado, a nível nacional e mesmo a nível local onde o BE nunca foi grande coisa. Certo é que o Bloco é hoje, sozinho ou em coligação, uma quase nulidade ou um empecilho. Sozinho, o partido teve pouco mais de 30 mil votos, foi quase aniquilado no Porto, teve 448 votos no distrito de Faro, 243 no de Vila Real, 938 no de Santarém, 726 no de Leiria e podia-se continuar por aí fora. A conclusão só pode ser uma: Mariana Mortágua está morta desde as últimas legislativas e num outro partido já teria dado lugar a sangue novo. Mas o BE ainda não percebeu isso, o que é estranho porque ostenta a fama de ter gente com inteligência nas suas fileiras.

O PSD ganhou e ganhou quase tudo

Luís Montenegro tem razões para estar muito contente: o PSD (sozinho e em coligação) é o grande vencedor das autárquicas. Arrumou quase tudo, do número de votos às câmaras, dos mandatos à liderança da Associação Nacional de Municípios. E conseguiu aquilo que é mais desejável nas contas desta eleição: as cidades mais importantes, sobretudo Lisboa e Porto. Mesmo com um candidato relativamente desconhecido e sem provas dadas no poder local (Pedro Duarte) e outro que teve quase tudo contra ele, de um incidente mortal à generalidade dos media e comentadores. E mesmo as suas próprias incapacidades que não tornaram melhor a capital nos últimos quatro anos (Carlos Moedas).

O José Luís ia para perder por muitos e aguentou-se bem

O jogo autárquico do líder do PS foi apostar em muito trabalho para tentar contrariar o que muita gente vaticinava mesmo dentro do partido: o caminho para o abismo parecia uma certeza. José Luís Carneiro andou literalmente pelo país todo em campanha, um esforço descomunal que teve uma boa recompensa se se pensar o que aconteceu nas últimas eleições legislativas. O PS resistiu e resistiu bem. Entrou em campo para ser goleado e só perdeu quase em cima do apito final. Claro que não ajudou levar a jogo Manuel Pizarro no Porto (um político abnegado e honesto, mas sem chama) ou a Lisboa a antiga líder parlamentar socialista e braço direito de Pedro Nuno Santos, que nem a esquerda que verdadeiramente contava (o PCP) conseguiu congregar. Neste caminho, o PS livrou-se a tempo da influência de um conjunto de gente bem-pensante que insiste em ditar modelos para baixo, mesmo quando a realidade vai bem mais além da bolha onde essas ilustres almas vivem. O presidente da Câmara de Loures soube afastar-se dessa gente e provou que estava certo. Se não o tivesse feito, o Chega teria ido bem mais longe.

Os outros foi o que já se esperava

O Livre, seja como apêndice do PS ou sozinho, está a fazer o seu caminho a nível autárquico, o CDS manteve bastiões (mas toda a gente sabe que pouco vale já como partido nacional), sabe-se que a IL continua a representar muito pouco a nível local, se bem que o antigo líder do partido, Rui Rocha, tenha conseguido uma vitória importante no distrito de Braga ao ser eleito com mais de 20 mil votos. Já a CDU vai de derrocada em derrocada (sim, conquistou autarquias, mas não para de perder ainda mais e bem mais importantes câmaras, com ou sem o brilharete de João Ferreira na Câmara de Lisboa.

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