opinião
Psicólogo, Presidente da Delegação Regional Norte da Ordem dos Psicólogos Portugueses

O sofrimento psicológico não pode ficar em lista de espera 6 ou 7 meses

10 out 2022, 09:00

Comemora-se esta segunda-feira, dia 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental, este ano com o tema “Faça a saúde mental e o bem-estar de todos uma prioridade global”.

Curiosamente hoje também é entregue o orçamento de Estado para o ano de 2023. Esperemos que a saúde mental e o bem-estar das pessoas seja uma realidade traduzida em medidas efetivas nesse âmbito. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tem sido apontado como um contributo fundamental para a implementação de medidas que se arrastam desde longos anos, inconsequentes e repetidas no Programa Nacional para Saúde Mental desde 2016, agora traduzido no Plano Nacional de Saúde Mental. Grande é a expectativa por se criarem mecanismos que facilitem a acessibilidade a cuidados de saúde psicológica. É importante que não se desperdice, uma vez mais, uma oportunidade de efetivamente se possibilitar às pessoas acesso a cuidados de saúde integral, onde a saúde física e psicológica sejam tidas ao mesmo nível de investimento e de importância.

Tempo era em que o estigma da doença mental surgia como uma barreira na procura de cuidados e fazia com que o sofrimento psicológico ficasse refém desse mesmo estigma. Hoje o estigma é, inequivocamente, a falta de acesso em tempo útil a esses cuidados. O sofrimento psicológico não pode ficar em lista de espera 6 ou 7 meses!

A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 17 de junho de 2022 divulgou um estudo em que refere que em 2019 quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – viviam com um transtorno mental. O suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade. Os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade, causando um em cada seis anos vividos com incapacidade. Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis. O abuso sexual infantil e o abuso por intimidação são importantes causas da depressão. Desigualdades sociais e económicas, emergências de saúde pública, guerra e crise climática estão entre as ameaças estruturais globais à saúde mental. A depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia.

Estes dados traduzem uma realidade preocupante que necessitam de medidas que fomentem a colaboração intersectorial, especialmente para compreender os determinantes sociais e estruturais da saúde mental e intervir de forma a reduzir riscos, gerar resiliência e desmontar barreiras que impedem pessoas com problemas de saúde mental de participar plenamente da sociedade.   

A ciência psicológica tem um papel determinante no bem-estar das pessoas.

Existem muitas situações, que não sendo doença mental, têm implicação direta na saúde psicológica e no bem-estar das populações.

Às vezes desvalorizamos a importância e a gravidade dos problemas de saúde psicológica, mas ter um problema de saúde psicológica não é um sinal de fraqueza e não nos faz pessoas piores ou inferiores às outras.

Um problema de saúde psicológica não é diferente de um problema de saúde física: reconhecer precocemente os sintomas e procurar ajuda é fundamental. Tal como acontece com as doenças físicas, os problemas de Saúde Psicológica também podem ser ultrapassados e há um conjunto de coisas que podemos fazer que nos ajudam a melhorar. Existem muitos tratamentos eficazes e é possível recuperarmos e vivermos uma vida plena, produtiva e feliz.

Por vezes somos assaltados por pensamentos e sentimentos que nos perturbam a nossa saúde psicológica e um Psicólogo pode ajudar nas mais diferentes situações e problemas, tais como:

  • Quando temos de lidar com experiências de vida ou sentimentos difíceis, como o término de uma relação, a perda de alguém que amávamos ou sentimentos de medo, tristeza ou culpa;
  • Quando temos experiências ou situações dolorosas no nosso passado que interferem com a nossa vida e nos impedem de atingir os nossos objetivos;
  • Quando temos uma doença física que está a interferir com a nossa vida e a nossa saúde;
  • Quando os nossos pensamentos, sentimentos ou comportamentos interferem com o nosso funcionamento habitual do dia-a-dia, ou quando nos sentimos sobrecarregados com o nosso trabalho, a educação dos nossos filhos ou o cuidar de um familiar doente ou idoso.

Na verdade, não é necessário ter um “problema” para procurar a ajuda de um Psicólogo. Um Psicólogo pode ajudar quando queremos construir uma boa auto-estima, alterar traços e características psicológicas em nós próprios ou simplesmente conhecermo-nos melhor. Também pode ser importante quando temos um sentimento geral de que algo não está bem e queremos descobrir e criar significado para as nossas vidas. Contudo, também na doença psicológica, como Depressão, Ansiedade, Fobias, Ataques de Pânico, Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Perturbação Bipolar, Anorexia, Bulimia, Suicídio ou Adições, o papel do Psicólogo é determinante.

Termino reforçando o tema deste ano “Faça a saúde mental e o bem-estar de todos uma prioridade global”, deixando de lado o estigma e promovendo a acessibilidade.

 

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