Rui Miguel Nabeiro: O ‘homem-cápsula’ da Delta

1 dez 2021, 21:58

Rui Miguel Nabeiro pediu ao avô uma oportunidade. Dezassete anos depois, cabem-lhe as decisões diárias do grupo.

O Grupo Nabeiro tem, desde setembro, um novo presidente executivo. Rui Nabeiro escolheu o neto para dar continuidade ao império criado em Campo Maior: um gestor que cresceu com o cheiro do café e lhe juntou um revestimento vencedor - as cápsulas.

Há empresas impossíveis de separar de quem as cria. Rui Miguel Nabeiro sabe-o bem: a Delta é – e sempre será – o avô de quem herdou o nome. Na organização, na visão de futuro, na forma de tratar cada trabalhador. “O que o distingue é a relação que tem com as pessoas. É um homem extremamente humano”. Segue-lhe as pisadas, consciente de que o percurso do 'senhor comendador' não se pode replicar. Se hoje o Alentejo cheira a café, a ele se deve.

Passaram-se 60 anos desde que a Delta nasceu num pequeno armazém em Campo Maior. O aniversário redondo traz uma passagem de testemunho, uma nova fase: a presidência executiva do Grupo Nabeiro deixa, pela primeira vez, as mãos do fundador. Mas, como esperado, a liderança mantém o apelido. É o neto quem, desde setembro, serve o império.

Num negócio de família, é preciso provar ainda mais, a cada dia, que se merece o lugar. Pelo trabalho, não pelo mesmo sangue. “O meu avô e o meu pai sempre me foram metendo o bichinho de ir trabalhar com eles”. Rui Miguel Nabeiro aceitou o destino, mas fez questão de percorrer os passos que se exigiriam a qualquer outro fora do clã.

Depois de estudar Gestão, e por conselho do avô, foi para o estrangeiro conhecer a fundo o negócio do café. Foram meses de aprendizagem em Espanha, Itália e Suíça. Grão por grão. Perceber os preços, as origens, o potencial da segunda mercadoria mais transacionada no mundo. Sempre com Campo Maior no horizonte.

LinkedIn. Rui Miguel Nabeiro lembra ensinamento do avô numa apresentação

Apesar disso, a porta de entrada na Delta acabaria por ser em Lisboa, a cidade natal. “Já nasci em Lisboa, apesar de ter as costelas todas alentejanas”. Há 17 anos, quando surgiu uma vaga na direção de marketing, não hesitou. Pediu ao avô que arriscasse nele. E assim o homem, que sempre sonhou ser piloto, levantou voo.

Atentou no mercado e descobriu a oportunidade que faltava na empresa: as cápsulas. Se os rivais apostavam no consumo de café em casa, a Delta não podia ficar para trás. O negócio nasceu em 2006 e, desde aí, apura-se e ganha importância a cada ano. A pandemia de Covid-19, por mais inesperada que fosse, só veio dar razão à aposta: o País, fechado em casa, aprendeu a tomar a bica no sofá.

No Grupo Nabeiro, que hoje tem operações em oito países, a adaptação é uma constante. Se o mundo precisa, procura-se solução. Com “inovação”, a palavra de ordem para Rui Miguel Nabeiro. Hoje com 42 anos, tem protagonizado alguns dos projetos mais marcantes da empresa: das cápsulas sem plástico à plantação de café nos Açores, sempre com o sorriso de quem degusta um futuro que se materializa.

O empresário sabe que, para dar passos certeiros, é preciso escutar quem o rodeia, cada um dos cerca de quatro mil trabalhadores. São a cafeína que dá a energia para cada novo dia. A começar pelo próprio avô: aos 90 anos, o comendador continuará presente, enquanto puder, a aconselhar como presidente do Conselho de Administração. Tal como a restante família, o 'blend' do equilíbrio num negócio que vale cerca de 400 milhões de euros.

Rui Miguel Nabeiro tem uma meta bem clara para o que aí vem: tornar a Delta numa das 10 maiores marcas de café do mundo. Mas sempre com um “cunho pessoal”. Porque cada café é único. Por dia, bebe seis. Sempre sem açúcar, tal como o avô. Quando se cresce numa casa como a Delta, há hábitos que não se conseguem evitar. Os três filhos logo o dirão.

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