"Soube que a morte estava perante nós". Eagles of Death Metal contam como viveram o terror no Bataclan

18 mai 2022, 15:42

Atentado terrorista em Paris teve vários locais, mas a sala de espetáculos onde atuava a banda foi o ponto principal. Ali morreram 90 pessoas. O vocalista e o guitarrista admitem que se lembram todos os dias das vítimas

O vocalista e o guitarrista da banda de rock Eagles of Death Metal descreveram esta terça-feira, num tribunal de Paris, o terror vivido na noite de 13 de novembro de 2015, quando um grupo de jihadistas ao serviço do Estado Islâmico entrou na sala de espetáculos Bataclan, em plena capital francesa, para fazer milhares de pessoas reféns. A noite acabaria com 130 mortos em toda a cidade, 90 dos quais naquele local.

Jesse Hughes e Eden Galindo admitem que as suas vidas mudaram para sempre. A banda estava em plena atuação quando se começaram a ouvir tiros de metralhadoras. Os vídeos da altura mostram a perplexidade da banda em palco, que segundos depois saiu a correr.

Os dois artistas viajaram para Paris para testemunharem no julgamento sobre aquela noite, da qual apenas um dos suspeitos sobreviveu: Salah Abdeslam, que até já confessou estar arrependido, chegando mesmo a pedir desculpas aos familiares das vítimas.

O suspeito esteve novamente em tribunal e os músicos puderam vê-lo. Questionado pela imprensa francesa sobre como se sentiu, Jesse Hughes disse: “Sou um cristão e toda a gente pode ser perdoada, toda a gente precisa de encontrar o caminho. Então, eu perdoo-os e espero que encontrem a paz de Deus”.

Hoje com 49 anos, Jesse Hughes lembrou, em tribunal, que o espetáculo devia ter sido o melhor da digressão que a banda estava a fazer. Estavam “verdadeiramente empolgados” por tocar em Paris, referiu.

Foi o que também disse Eden Galindo, guitarrista de 52 anos, que se lembra de ter dado um grande espetáculo até ao início da tragédia.

Mas a meio da música “Save a Prayer”, um cover dos Duran Duran, o vocalista reconheceu os sons de disparos: “Sendo de uma comunidade no deserto da Califórnia, eu conheço o som de tiros”, disse, explicando que depois viu três homens armados, e a envergarem coletes com bombas, a abrirem fogo no meio da sala.

Se alguns membros da banda ainda hesitaram perante a situação, perguntando-se o que poderia estar a acontecer, Jesse Hughes não teve dúvidas: “Soube que a morte estava perante nós”.

“Corremos pelas nossas vidas. Perto de 90 amigos meus [os espectadores] foram assassinados à nossa frente”, recordou.

Eden Galindo foi um dos que hesitou. O guitarrista pensava que os sons que ecoavam pela sala eram do sistema de som, pelo que não se apercebeu logo dos tiros. Em tribunal, disse lembrar-se das caras das pessoas a olharem para o palco, sem se conseguirem mexer, no meio da confusão, enquanto os terroristas disparavam.

“Pensávamos que ia parar, mas continuava”, referiu.

Foi então que um dos técnicos de som lhes disse o que deviam fazer: “Depois de algum tempo [a disparar] pararam para recarregar as armas e um técnico disse-nos ‘da próxima vez que pararem, fugimos’”.

50 euros dados por um fã

A banda acabou por conseguir sair através de uma porta lateral da sala de espetáculos, já depois de o vocalista ter encontrado a namorada na entrada do Bataclan.

Entre aqueles que ajudaram os Eagles of Death Metal a sair do local estava Arthur Dénouveaux, um fã da banda, que hoje é presidente do grupo de sobreviventes Viver para Paris. O homem conseguiu escapar ao mesmo tempo, e acabou por liderar um grupo que fugiu do local. Nesse grupo estavam Jesse Hughes e Eden Galindo.

Arthur Dénouveaux acabou por levar a banda até um sítio seguro, onde lhes deu 50 euros para que apanhassem um táxi dali para fora. Pediram ao condutor que os levasse à esquadra da polícia mais próxima. Chegados ao local, depararam-se com várias outras vítimas do Bataclan, algumas cobertas de sangue.

Ali ficaram durante algum tempo, e foi nessa espera que ficaram a saber da morte de Nick Alexander, que, à data, era colaborador do merchandising da banda no espetáculo.

Quase sete anos depois, Jesse Hughes admite que ainda fica nervoso quando olha do palco para o público. Foram vários anos a tentar escapar ao tribunal, explicou o cantor, que temia que as suas emoções o tivessem feito esquecer do terror da noite: “Mas o mal não venceu… não se pode vencer o rock and roll”.

Quando chegou aos Estados Unidos, Eden Galindo sentiu-se “destroçado”. Acabou por deixar a banda e, tal como Jesse Hughes, sabe que nunca vai ser o mesmo depois daquela noite. Ainda hoje pensa nas vítimas.

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