Ninguém voa mais alto que ele, é que nem de perto. Há 30 centímetros a confirmá-lo e uma loucura nos Jogos Olímpicos
“MON-DO! MON-DO”. Talvez embalados pela herança francesa – afinal o pai é natural do Louisiana –, os adeptos presentes no Stade de France não viram mais nada à frente a partir do momento em que Armand Duplantis começou a escalar o monte para chegar, agora sim, ao Olimpo.
E que não se pense que tem a ambição desmedida de Ícaro, uma vez que ficou satisfeito com os 6,25 metros que lhe garantiam, em dose dupla, os recordes do Mundo e Olímpico, além da óbvia medalha de ouro que já tinha ficado mais do que resolvida quando nenhum dos seus concorrentes conseguiu sequer ultrapassar os seis metros no salto à vara.
Foi, por isso, desde muito cedo, uma final a um só homem. Era o que já se previa, de resto, dada a diferença de Armand Duplantis para os restantes, incluindo Sam Kendricks que, pasme-se, fez a melhor marca individual da época ao saltar 5,95 metros, exatamente menos 30 centímetros que o outro senhor que parece voar mais alto.
“MON-DO! MON-DO”. Isto enquanto se realizava a cerimónia de atribuição de medalhas a uma das provas mais importantes dos Jogos Olímpicos, a final dos 100 metros. Mas nem o pódio encabeçado por Noah Lyles conseguiu desviar os olhares dos cerca de 80 mil adeptos presentes em Saint-Denis.
𝙄𝙩'𝙨 𝙈𝙤𝙣𝙙𝙤'𝙨 𝙬𝙤𝙧𝙡𝙙, 𝙬𝙚'𝙧𝙚 𝙟𝙪𝙨𝙩 𝙡𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙞𝙣 𝙞𝙩. pic.twitter.com/bxeDnqsrKn
— The Olympic Games (@Olympics) August 5, 2024
Duplantis é mesmo de ouro, ou não se soubesse já, e o público sabia que era mais do que provável que dali fosse sair história. O mais incrível não é que isso se tenha concretizado, mas sim a facilidade com que aconteceu.
Os 6,10 metros foram alcançados logo à primeira tentativa. Sim, 15 centímetros mais do que qualquer adversário foi um patamar conseguido com clara facilidade, como mais um passeio no parque.
Era hora de elevar a fasquia e nem era preciso aquecer. Que se suba, então, 15 centímetros a barra, para ver se é ali que a coisa cai. A coisa, o recorde do mundo, até era do mesmo Duplantis – que redundância olímpica.
Imbatível em grandes competições desde 2020, e muito poucas vezes derrotado, concentrou-se para a tentativa de recorde, ele que já por oito vezes tinha feito subir o máximo mundial, a última das vezes já este ano, em Xiamen, na China, em abril (6,24 metros).
Aos 24 anos, e, previsivelmente, com dois ciclos olímpicos pela frente, ainda é difícil de perceber os limites do já apontado como o atleta do século. Fica, por isso, o leve amargo de boca de quem tinha vontade de o tentar mais, nem que fosse os 6,26 metros, só pela piada. É que nos três saltos a 6,25 metros, mesmo que dois deles falhados, a sensação clara foi de que até aquela fasquia era claramente alcançável. E foi.
Como escreve o The Athletic, "Mondo é inevitável", tornando-se apenas o segundo atleta a vencer o ouro nesta disciplina em dois Jogos Olímpicos, depois de o norte-americano Bob Richards ter feito o mesmo em Helsínquia 1952 e Melbourne 1956.
É caso para perguntar: por favor, Mondo, podes saltar amanhã também? E depois, e depois?
A medalha de prata foi arrebatada pelo norte-americano Sam Kendricks, o campeão mundial de 2017 e 2019, que superou a fasquia a 5,95, e o bronze foi entregue ao grego Emmanouil Karalis, com 5,90.