Têm o melhor olfato da polícia e, para eles, trabalhar é uma brincadeira
CNN Portugal

Têm o melhor olfato da polícia e, para eles, trabalhar é uma brincadeira

Reportagem multimédia CNN Portugal

Dois dias com o Grupo Operacional Cinotécnico da PSP

 

Cláudia Évora | Sofia Marvão

25 mar 2023
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27 de janeiro de 2023. Pouco falta para as 18:00 quando as equipas de várias unidades da PSP partem da esquadra da Brandoa, na Amadora, para uma operação de combate ao tráfico de estupefacientes. 

Carros e carrinhas, identificados e não caracterizados, seguem em fila até ao destino, no antigo bairro de Santa Filomena. Os batedores abrem e fecham caminho.

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No destino, três agentes e dois cães saem de uma carrinha. Há vários suspeitos virados para a parede. O labrador Tico prepara-se para as buscas que se seguem. Faz parte do Grupo Operacional Cinotécnico (GOC), onde são treinados os famosos "cães-polícia". À parelha entre o animal e o seu treinador chama-se "binómio".

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Tico e a pastor belga Bilka farejam paredes, malas, almofadas, sacos, camas… anexos atrás de anexos. É demasiado trabalho para apenas dois cães. 

Mas a informação de partida para a operação referia dois estabelecimentos. Quando as equipas da PSP chegaram ao local perceberam que eram, pelo menos, seis. Uma operação desta dimensão exigiria, no mínimo, quatro cães.

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Os agentes percebem rapidamente quando estes animais detetam algum odor a droga através da sua linguagem corporal. Nestas imagens, Bilka detém-se junto a uma arca. Ali encontraram liamba escondida numa pequena embalagem de plástico. 

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Foram duas horas de buscas em estabelecimentos comerciais, mais dois edifícios residenciais. O aparato fez-se numa zona sensível da Amadora, onde o tráfico não é uma novidade.

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Bilka, apesar dos seus nove anos, e Tico, já com 11, levam vantagem em relação a todos os operacionais que estão no terreno: têm um olfato poderoso, capaz de detetar odores a quilómetros de distância. 

Mas, antes de chegarmos aqui, eles têm de aprender a trabalhar como agentes.

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Os cães-polícia começam a treinar muito novos. Normalmente, são comprados com seis meses a um ano de idade a criadores e empresas nacionais e internacionais. 

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O comissário Bruno Fernandes, de 43 anos, iniciou o seu percurso no GOC em 2015. Neste momento não é responsável por nenhum cão, porque, enquanto oficial, assume funções de comando e planeamento e não de execução dos serviços. Trabalhar nesta subunidade foi algo que sempre quis.

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Depois de alcançada a certificação, começa a carreira a sério. Um trabalho que, aos olhos dos animais, não deixa de ser uma brincadeira:  têm missões para cumprir, mas ao final de cada uma são recompensados com um grão de ração, seja nos treinos seja numa ação real.

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Os cães começaram a integrar a PSP nos anos 90. Com o tempo foi-se percebendo que as missões nas quais poderiam ser utilizados eram cada vez mais, mais variadas e mais exigentes.

Por isso, a 3 de abril de 2002, a unidade é autonomizada e nasce o Grupo Operacional Cinotécnico. Trata-se de uma das cinco subunidades da Unidade Especial de Polícia (UEP) e participa em situações de manutenção e reposição de ordem pública, deteção de estupefacientes, armas e explosivos e ainda busca e salvamento de pessoas.

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O agente principal Gonçalo Fernandes, de 46 anos, ingressou no GOC em 2012 e é responsável por dois cães na unidade: a Bilka e o Link. Um é especialista em detetar estupefacientes e outro está mais vocacionado para as ações de manutenção e reposição da ordem pública.

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A relação entre o agente e o cão é única e construída desde que o animal chega ao grupo. Cria-se a confiança, nasce o companheirismo, e também se estabelecem limites. Para ambos os lados. Está é a receita para um bom binómio e para uma relação saudável e duradoura. 

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É o tratador que define quanto tempo o cão treina por dia. Estes treinos são sempre muito curtos, cerca de 20 minutos, mas muito intensos. Como as aulas de ginásio de curta duração e sem pausas para descanso. No entanto, existe uma diferença: no fim, o animal não está exausto. Estes treinos terminam quando os cães estão no auge da excitação. 

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O objetivo é os animais associarem sempre os treinos a algo positivo e divertido. Caso contrário, nunca vão querer fazer o que lhes é exigido. Para além disso, os treinos vão aumentado de dificuldade e vão-se tornando mais parecidos com uma ação real. Com barulhos, disparos, e outros elementos que tentam desviar a atenção dos animais, para que o foco deles não falhe mais tarde.

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Nos treinos de deteção de estupefacientes, trabalha-se com droga verdadeira que é escondida em caixas, carros, debaixo da terra. Sempre que o animal encontra algo, grita-se "atenção!". Se se tratar de droga, há uma recompensa.

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Os treinos de busca e salvamento são realizados numa "pista de escombros" com pessoas reais, que se escondem para que os animais as tentem localizar só através do odor. Quando é encontrada uma vítima, o animal ladra e o agente grita "vítima!".

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Sempre que a missão é bem-sucedida, os agentes não dizem “boa” ou “muito bem”. Utilizam um clicker. Quando os animais ouvem aquele clique, sabem que podem parar de procurar. Funciona como um marcador de comportamento. 

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Estes cães comem duas vezes por dia, de manhã e ao final da tarde. A alimentação não é igual para todos, é adaptada consoante as especificidades de cada um e é definida por um veterinário.

Dormem sempre em boxes individuais, sem camas ou mantas porque muitos as destroem ou podem engolir bocados delas. Isso levou o GOC a gastar muito dinheiro em operações.

GOC Amadora (NÃO USAR)
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Cada agente vai trabalhando com vários cães ao longo da carreira. Os animais estão no ativo entre sete a oito anos. Claro que há exceções, como a Bilka e o Tico. Ela ainda é rápida e certeira. Ele é demorado e minucioso.

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Com cerca de 120 cães no ativo a nível nacional, em 2022, o GOC esteve envolvido em 600 operações, sobretudo de busca preventiva e deteção de armas, explosivos e estupefacientes. Na última década, esta subunidade participou também em missões de controlo de imigração ilegal nas fronteiras externas da União Europeia.

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Não é só um cão. Não é só um agente. Existe uma ligação de carinho entre os dois e é nessa base que funciona todo o trabalho. Não é por acaso que o lema do GOC é semper fidelis. Sempre fiel.

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