Roupas que uniram uma nação: O legado de moda da Rainha Isabel II
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Roupas que uniram uma nação: O legado de moda da Rainha Isabel II

Ao longo de sete décadas, a falecida rainha presenteou o mundo com uma escolha de vestuário elegante e intencional.

Por
Caryn Franklin, CNN

Nota do editor:
Caryn Franklin é uma comentadora de moda e identidade e também professora do curso de Diversidade na Kingston School of Art em Londres.

Um dos muitos legados deixados pela Rainha Isabel II é uma demonstração de como a moda pode unir uma nação. Fotografada por um exército de fotógrafos e mulheres ao longo dos seus 70 anos de reinado, a monarca britânica com mais anos de serviço mostrou uma compreensão inata e refinada de identidade visual.

O poder da moda e da fabricação de imagem tinha sido anteriormente explorado com resultados positivos pelo pai de Isabel, o Rei Jorge VI: Numa missão para recuperar a confiança pública depois do seu irmão Eduardo VIII renunciar o seu lugar no trono para casar com a americana Wallis Simpson, o Rei convidou o costureiro Norman Hartnell a examinar a coleção de arte do Palácio de Buckingham para se inspirar. Enquanto a sofisticada Simpson usava as últimas tendências da moda, o Rei encomendou vestidos para a sua esposa e filhas que sublinhavam as tradições e, consequentemente, a estabilidade da época vitoriana.

Rei Jorge VI, Rainha Isabel (mais conhecida como a Rainha Mãe) e a Princesa Isabel, por volta do final da década de 1930. Crédito: UIG via Getty Images

 

Após a morte do seu pai em 1952, a ascensão da Rainha Isabel II ao trono trouxe consigo a necessidade iminente de acalmar novamente o seu povo. O encanto de Isabel, uma monarca glamorosa e carismática, seria agora fortificado com severidade e autoridade para assegurar aos políticos, chefes de Estado internacionais e súbditos, a sua intenção de reinar durante muito tempo.

Registos do Royal Collection Trust revelam que Hartnell submeteu nove modelos diferentes para o vestido de coroação, e a jovem rainha escolheu o oitavo, adornado com bordados de vieiras com pérolas, repleto de diamantes e missangas de ouro.

A Rainha Isabel II deixa para trás um legado de moda magistral que se define pela elegância e diplomacia. Veja alguns dos seus momentos mais memoráveis.
Eis a falecida Rainha, com um belo chapéu, chegando à Catedral de St Paul, em Londres, para uma cerimónia de ação de graças realizada em honra do seu 80º aniversário, a 15 de Junho de 2006. Créditos: Tim Graham/Getty Images

 

Julho de 1947: Princesa Isabel, a futura Rainha Isabel II, nos apartamentos do estado no Palácio de Buckingham, durante o seu noivado com o Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo. Créditos: Hulton Archive/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

4 de junho de 1953: Rainha Isabel II com um vestido desenhado por Norman Hartnell para a sua cerimónia de coroação. Crédito: Central Press/Hulton Royals Collection/Getty Image

 

20 de novembro de 1947: A Princesa Isabel com o Príncipe Philip no dia do seu casamento. O vestido de noiva foi desenhado por Norman Hartnell. Créditos: Topical Press Agency/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

Outubro de 1951: A princesa Isabel dança na praça durante uma visita de estado ao Canadá com uma camisa e uma saia. Créditos: ullstein bild via Getty Images

 

Anos 50: Um retrato oficial da Rainha Isabel II. Créditos: Arquivo Bettmann via Getty Images

 

28 de setembro de 1952: A rainha Isabel, com uma saia e um casaco plissados, observa o jovem príncipe Carlos a brincar em Balmoral, na Escócia. Créditos: Lisa Sheridan/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

A monarca britânica Rainha Isabel II desembarcou no Aeroporto Internacional de Saint John's em Newfoundland, Canadá, em Junho de 1959. Estava a caminho de consagrar o St Lawrence Seaway. Getty Images

 

2 de fevereiro de 1956: A Rainha Isabel inspeciona soldados do recém-intitulado regimento da Rainha na Nigéria, Royal West African Frontier Force, no aeroporto de Kaduna, Nigéria, com um elegante vestido casual. Créditos: Fox Photos/Hulton Archive/Getty Images

 

Por volta de 1960: Rainha Isabel com calças práticas e a sua filha, Princesa Anne. Créditos: STF/AFP/Getty Images

 

14 de junho de 1960: A Rainha Isabel e a Rainha Mãe em Ascot. Créditos: Central Press/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

6 de outubro de 1967: A Rainha Isabel vestida com o tradicional tartan no Scotland Gun Dog Association Open Stake Retriever Trials no Castelo de Balmoral. Créditos: Central Press/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

1970: A Rainha Isabel em Sydney, Austrália para as celebrações bicentenárias do primeiro desembarque do Capitão Cook na Austrália. Créditos: Getty Images

 

Setembro de 1972: A Rainha Isabel e o Príncipe Philip vestem trajes tradicionais do país para visitar uma quinta em Balmoral. Créditos: Fox Photos/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

1975: A rainha Isabel II, com um aspecto mais casual, visita uma antiga pirâmide durante uma visita de estado ao México. Créditos: Serge Lemoine/Hulton Royals Collection/Getty Images

 

Fevereiro de 1977: A Rainha usa um chapéu estilo turbante na Nova Zelândia. Créditos: Tim Graham/Getty Images

 

Por volta de 1980: Vestida de verde vibrante, a Rainha Isabel admira os cavalos no Royal Windsor Horse Show. Créditos: Tim Graham/Getty Images

 

20 de julho de 1988: A Rainha Isabel acena na Torre Abadia, em Torquay, Inglaterra. Créditos: Tim Graham/Getty Images

 

1993: A Rainha com trajes formais. Créditos: Getty Images

 

29 de novembro de 1999: A Rainha Isabel II assiste ao espectáculo Royal Variety Performance no Hipódromo de Birmingham com um visual de lantejoulas coloridas. Créditos: Max Mumby/Indigo/Hulton Archive/Getty Images

 

21 de junho de 2017: A Rainha Isabel assiste à Abertura Estatal do Parlamento na Câmara dos Lordes em Londres com um chapéu que muitos interpretaram como uma referência à bandeira da União Europeia. Créditos: Carl Court/Getty Images

 

7 de fe6vereiro de 2018: A Rainha Isabel embarca num comboio na King's Lynn Station para regressar a Londres após as suas férias de Natal na Sandringham House. Créditos: Max Mumby/Indigo/Getty Images

 

20 de fevereiro de 2018: A Rainha Elizabeth senta-se na primeira fila com Anna Wintour no desfile de Outono/Inverno 2018 de Richard Quinn na London Fashion Week. Créditos: Yui Mok/WPA Pool/Getty Images


Num golpe perspicaz de saber-fazer político, e com a imprensa mundial sobre ela, Isabel teve o maior momento da passadeira vermelha de todos. “Glorioso” foi alegadamente a sua própria escolha de palavras para descrever o vestido que cativou e encantou os seus súbditos.

Tal é o poder de uma peça de vestuário ou de uma roupa, que esta monarca rapidamente aprendeu a evitar as novidades da moda, substituindo as artimanhas das curtas tendências e silhuetas por um comunicado consciente e deliberado em cada uma das suas aparições. Como tal, Isabel nunca perdeu uma oportunidade para transmitir uma mensagem de fiabilidade, estabilidade e firmeza ao seu povo.

 

Rainha Isabel II chegando à embaixada austríaca em Londres, adornada com jóias. 

É claro que haviam excelentes escolhas para a roupa diurna, mas eram trazidas forma próspera. Olhando para as fotografias do seu reinado, vemos uma utilização descomplicada das tendências das décadas, tais como as cinturas acentuadas dos anos 50; as saias mais curtas, os vestidos sem mangas e os chapéus pillbox dos anos 60; e os turbantes e estampas arrojadas dos anos 70. E é impossível esquecermo-nos da influência da rainha em tons esverdeados e castanhos nos anos 80.

Mais tarde na vida, Isabel afirmou-se como a mestre do Regingote (um casaco logo), vestido e chapéu a condizer em cores ousadas como o roxo, laranja, vermelho e fúcsia. Toda esta calidez e acessibilidade, assim como a necessidade de ser facilmente detectada numa multidão face à sua altura, significava que a cor bege raramente era utilizada.

 

A Rainha fala com o Emir do Bahrein em 1979. Créditos: Tim Graham/Getty Images
A Rainha Isabel II com um grupo de crianças durante a sua visita de estado ao México em 1975. Créditos: Serge Lemoine/Hulton Royals Collection/Getty Images

No seu livro biográfico, Hardy Amies, outro costureiro real, resumiu a qualidade intemporal necessária para as aparições reais quando escreveu: “O estilo é muito mais satisfatório do que o chique. O estilo tem coração e respeita o passado; o chique, por outro lado, é impiedoso e vive inteiramente para o presente”.

O estilo também requer muita gestão e, em colaboração com Angela Kelly, a sua assistente pessoal e curadora do guarda-roupa, a Rainha Isabel desenvolveu um manifesto de sucesso na área do vestuário.

Os tecidos eram testados para reduzir ruídos, evitar vincos e usaram pesos nas baínhas para evitar rajadas de vento que poderiam provocar situações indesejáveis. Foram utilizadas estampas subtis para evitar que possíveis manchas fossem visíveis, e havia até almofadas removíveis nas axilas para esconder a transpiração. Para viagens ao estrangeiro, os trajes foram concebidos para elogiar subtilmente os costumes e a cultura do país anfitrião.

 

A Rainha Isabel chega ao Aeroporto de Aberdeen com os seus corgis antes das férias em Balmoral, Escócia, em 1974. Créditos: Anwar Hussein/Hulton Archive/Getty Images

As luvas brancas, fabricadas sempre por Cornelia James, por vezes mudavam várias vezes ao dia, e os chapéus ancorados com alfinetes a condizer eram coordenados com um sapato Rayne ou Anello & Davide de meio salto (alargados por algum funcionário e eram regularmente reparados). Para finalizar, a Rainha utilizava uma mala de couro pequena Launer.

Em entrevista à Times em 2012, Stewart Parvin, que desenhava roupa para a Rainha desde 2000, revelou que as roupas eram arquivadas por nome e catalogadas de acordo com o local onde ela as tinha usado e com quem se tinha encontrado. “É por isso que as pessoas pensam que ela veste as coisas só uma vez, porque existe este tipo de sistema”, disse Parvin. “Se ela fosse encontrar-se com o Presidente Obama, não vestiria o mesmo vestido”.

No entanto, também havia frivolidade. No Royal Variety Performance em novembro de 1999, por exemplo, a Rainha usou um corpete e mangas de arlequim com lantejoulas multicoloridas e uma saia amarela arrojada, que entusiasmou os paparazzi. E depois, houve ainda o conjunto verde-lima brilhante usado para uma aparição na varanda no desfile Trooping the Color, em celebração do seu 90º aniversário.

 

A Rainha Isabel II em visita ao 5º Regimento de Brigadas da Airbourne em 1970. Créditos: Tim Graham/Getty Images

Em privado, Isabel, uma equitadora e dona de cavalos de corrida, preferia tons neutros. Lã cardada, botas e roupa impermeáveis eram acessorizadas com o lenço triangular de seda característico. Durante as férias de família e eventos oficiais no Castelo de Balmoral, na Escócia, a Rainha usava orgulhosamente o tartan de Balmoral desenhado pelo Príncipe Alberto, o seu tetravô.

Saber que a ganga não era um tecido a ser usado pela Rainha é saber que esta era uma mulher que nunca tirava um dia de descanso de uma conversa contínua não verbal com os seus súbditos: Uma conversa para aqueles que precisavam de ser tranquilizados, uma declaração para aqueles que procuravam a sua autoridade e uma declaração para todos aqueles que desejavam estabelecer uma ligação a um certo nível com a mulher que usava a coroa.

Esta exibição intencional dos benefícios de um reinado nascido de um progresso subtil, não de uma mudança dramática para chocar ou desestabilizar, pode ser vista como um espectáculo virtuoso na aparência pública. Um que esta monarca se esforçou para transmitir aos membros mais jovens do seu clã.

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