O Psicólogo Responde: O bulliyng só acontece às crianças e jovens?
Bullying

O Psicólogo Responde: O bulliyng só acontece às crianças e jovens?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Daniel Coelho
Psicólogo e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

O bullying pode acontecer em qualquer faixa etária, não se limitando apenas a crianças e jovens. Embora seja mais comumente associado a idades mais jovens e ao ambiente escolar, também pode ocorrer noutros contextos e outras idades.

Comecemos por explicar do que é que falamos quando falamos de bullying: um comportamento agressivo, intencional, repetido e prolongado no tempo, que envolve um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, podendo ocorrer em diversas formas (física, verbal, emocional, cibernética, …).

De destacar que a definição apresentada implica que o comportamento é intencional (não é fortuito ou casual), repetido ou prolongado (não é esporádico ou ocasional) e implica um desequilíbrio de poder (que pode ser real ou apenas percecionado pela vítima).

O fenómeno é amplamente estudado na psicologia, em especial na educação, para o compreender e definir formas de tentar prevenir ou intervir perante estes comportamentos.

Existem algumas diferenças entre o bullying que envolve adultos e o que acontece entre crianças e jovens.

Uma primeira diferença clara é o contexto em que normalmente ocorre. Entre os mais novos desenvolve-se principalmente em contexto escolar, mas também recreativo e ainda digital (designado cyberbullying). Nestes contextos, o grupo de pares assume grande importância assim como a aceitação social. Entre adultos ocorre principalmente em contexto de trabalho - o qual é designado mobbing, podendo acontecer igualmente noutras interações sociais e através de meios digitais.

As respostas do sujeito e a sua capacidade de lidar com o bullying também são, naturalmente, diferentes em função do estatuto conferido pela idade e do estado de maturidade das pessoas. As crianças e jovens terão mais dificuldade em encarar o fenómeno, incluindo reconhecer a sua existência e pedir ajuda, assim como menor desenvolvimento emocional para enfrentar a situação. Os adultos, tendo em princípio mais recursos emocionais para lidar com o bullying, deparam-se, no entanto, com dificuldades relacionadas com a pressão social e fundamentalmente com os problemas decorrentes da situação ocorrer em contexto laboral (relação com hierarquias, risco de perda de emprego, etc).

Uma outra diferença é a forma como se exprime o comportamento de bullying. Entre os jovens, as formas de agressão são mais visíveis e directas (frequentemente físicas, ou agressões verbais explícitas). Entre os adultos o comportamento é normalmente mais subtil e realizado de forma a ser socialmente tolerado, sendo mais frequentes formas de agressão verbal ou emocional, muitas vezes indiretas. No contexto laboral, algumas formas típicas de comportamentos de mobbing podem incluir: tentativa de diminuição do estatuto profissional (comportamento depreciativo, crítica persistente); ameaça ao estatuto pessoal (humilhação, criação de rumores); isolamento dos colegas (retenção da informação); ou atribuição de trabalho excessivo.

Os impactos podem ser críticos a vários níveis. O bullying entre os adultos tende a afetar diretamente a saúde mental e o bem-estar psicológico, podendo ocorrer distúrbios de ansiedade e depressão – conducentes ao designado burnout. Existe tipicamente uma perda de produtividade, insónias ou outros distúrbios do sono, assim como dificuldades de relacionamento interpessoal que escalam e extravasam o contexto profissional e impactam na vida familiar. São de destacar no mobbing os impactos tangíveis na estabilidade financeira e no desenvolvimento de carreira, podendo conduzir a situações de perda de emprego.

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Sugestões

Enfrentar o bullying na vida adulta pode ser difícil, sobretudo em ambientes laborais, onde prevalecem relações hierárquicas de poder. Existem algumas estratégias e conselhos práticos que podem ajudar a lidar com essa situação de forma mais eficaz.

O primeiro passo é reconhecer que o problema existe, isto é, que de alguma forma estamos a ser vítimas de bullying. O comportamento pode ser mais ou menos explicito ou mais camuflado, especialmente no ambiente de trabalho, mas se nos encontramos numa situação de, por exemplo, intimidação ou desrespeito, não devemos minimizar ou relativizar o que sentimos.

Como noutras situações de vida, é determinante ser assertivo e estabelecer limites claros com as pessoas que nos rodeiam, especialmente se assumirem de algum modo o papel de agressores. Esta atitude pode ser difícil de tomar, mas passa por atitudes como comunicar de forma clara que o comportamento que sentimos como agressivo não é tolerável e não poderá ser aceite.

Com o bullying pode surgir um sentimento de isolamento e solidão, quando o agressor tenta enfraquecer as relações sociais ou profissionais. É importante partilhar o que nos está a acontecer com alguém de confiança (familiar, amigo, colega de trabalho) que possa oferecer suporte e devolver uma perspetiva diferente e externa, começando pelo reconhecimento de que existe um problema e formas de o ultrapassar. Nestas, como noutras situações, é sempre pertinente ter uma rede de apoio com quem falar e com quem nos sentimos incluídos.

As situações de bullying podem ser prolongadas e motivo de grande desgaste. Praticar o autocuidado é fundamental. Estar atento a aspectos como a higiene do sono, alimentação saudável e equilibrada, exercício físico e momentos dedicados ao lazer ajuda a mantermo-nos saudáveis e enfrentar melhor o stress.

Em contexto laboral (mobbing) podem vir a assumir particular relevância as componentes legais e burocráticos da situação. Assim, aspectos como estar informado sobre os direitos laborais e diferentes consequências das opções tomadas e recolher documentação que evidencie o sucedido são fundamentais. Se pertinente, pode ser necessário reportar a situação através dos canais previstos no contexto de trabalho (superiores hierárquicos, departamento de recursos humanos, ou outro). Em várias organizações existem estabelecidos canais próprios de denúncia destas situações, que procuram garantir a segurança e a confidencialidade.

Por último, se a situação atinge limites que impactam de forma muito significativa a sua saúde psicológica, poderá ser pertinente procurar a ajuda profissional de um psicólogo que, entre outras coisas, irá ajudar a lidar com o stress e as emoções, evitando sofrimento e promovendo o seu bem-estar e assertividade.

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