O Psicólogo Responde: Há forma de tratar o medo de aranhas?
Medo de aranhas

O Psicólogo Responde: Há forma de tratar o medo de aranhas?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Rute Almeida
Psicóloga e membro da direção da Delegação Regional Centro da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Como escreve Jean-Paul Sartre, no livro “Os caminhos da liberdade: Sursis” – “Todos os homens têm medo. Todos. Aquele que não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem”. O medo é uma das emoções universais, naturais e essenciais à sobrevivência do Ser Humano. É um estado emocional que surge como resposta à consciência perante uma situação de eventual perigo ou ameaça à própria segurança, que leva à alteração do estado hemostático, bem como a uma possível variação dos sentimentos espontâneos, nesse momento. Consequentemente, promove a libertação de moléculas químicas específicas, em determinados pontos do sistema nervoso central, provocando, entre outros sintomas, a alteração do ritmo cardíaco, respiratório, e sensação de desmaio. Os sentimentos provocados pelas respostas fisiológicas conduzem a narrativas e imagens mentais/sensoriais desproporcionais, aos bloqueios mais incapacitantes, às fobias, que afetam de igual modo crianças, adolescentes e adultos.

São inúmeras as situações que podem fazer sentir medo e subsequentemente sofrimento psicológico, com a presença de sintomas de manutenção, nomeadamente comportamentos de evitamento de determinados cenários e pensamentos automáticos negativos: “Vou sentir-me mal”; “Vou passar vergonha”. Entre as diferentes formas de medo existem situações que envolvem, por exemplo, aglomerados de pessoas, medo perante objetos ou circunstâncias específicas ou medo de se expor aos outros.

“Aquilo é uma aranha? Eu não posso ficar aqui. Eu morro de medo de aranhas. Tenho de sair, já!”: o medo de aranhas, também chamado de aracnofobia, é um dos medos mais comuns em todo mundo e, também, o mais antigo. Trata-se de uma fobia específica caracterizada por um medo intenso e irracional de aranha e outros aracnídeos. Este estímulo iniciador é acompanhado por uma ansiedade extrema ao ver uma aranha ou olhar para imagens que retratem este animal, mesmo que seja pequena ou inofensiva. Suores excessivos, aumento da frequência cardíaca, sensação de falta de ar ou tonturas, comportamentos de evitamento em certos lugares (onde a pessoa acredita que possa encontrar esses animais). Pode variar de um simples desconforto (nojo) a um pânico intenso, que pode interferir significativamente com a vida diária da pessoa.

Alguns estudos referem que existe uma predisposição evolutiva, associada a infeções e doenças de alguns anos atrás, tal como fatores psicológicos e ambientais, nomeadamente experiências traumáticas (picada de uma aranha ou reações de outras pessoas) ou até fatores genéticos, pelo histórico familiar de fobias específicas.

Um passo importante para lidar com o medo de aranhas será uma consciencialização do problema. Muitas pessoas sofrem em silêncio com as suas inseguranças por medo de julgamento ou estigma. É importante normalizar o facto de que todos, em algum momento, desenvolvem medos irrealistas, com pensamentos intrusivos e hiperativação mental, sendo uma característica contínua, com a sensação de que é “difícil desligar o cérebro”.

Como ultrapassar uma fobia específica?

  • Promover uma habituação à situação específica através de uma exposição repetida, gradual e crescente na visualização/imaginação de aranhas e/ou contexto real pode ajudar a dessensibilizar a resposta de medo;
     
  • Técnicas de Relaxamento: praticar respiração profunda e/ou relaxamento muscular progressivo pode ajudar a reduzir a ansiedade;
     
  • Psicoeducação: aprender sobre as aranhas e o seu comportamento pode ajudar a diminuir medos irracionais;
     
  • A Intervenção Psicológica pode ser importante, seja para uma maior consciencialização do problema e identificação, seja para a definição de estratégias/reestruturação cognitiva e a monitorização do sintoma;
     
  • O recurso a psicofármacos pode auxiliar (sempre sob supervisão de profissionais qualificados); - Consulte ainda o “eu sinto.me” https://eusinto.me/, um portal que reúne um conjunto de informações e recursos sobre saúde psicológica e bem-estar, baseados em evidências científicas.

Dicas úteis para amigos/familiares de uma pessoa com fobia específica:

  • Promover situações de exposição e acompanhar as mesmas;
     
  • Afaste-se de forma gradual para que a pessoa possa enfrentar o medo;
     
  • Elogiar, quer por a pessoa ter enfrentado o medo apesar de se ter sentido tensa, quer por ter feito algo que antes evitava.

VEJA TAMBÉM:

 

Scroll top