O Psicólogo Responde: Fazer dieta pode afetar a minha saúde mental?
Salada (Freepik)

O Psicólogo Responde: Fazer dieta pode afetar a minha saúde mental?

Carla Rocha
Psicóloga e membro da Direção da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses

A evolução do conceito de dieta reflete a mudança de uma visão inicial focada na sobrevivência e nas tradições culturais, passando por influências religiosas e morais, até chegar a uma visão científica e, mais recentemente, holística e personalizada da alimentação. Hoje, a dieta é vista não apenas como uma forma de manter a saúde física, mas também como uma expressão de identidade, ética, e uma ferramenta para o bem-estar global. 

O tipo de dieta adotada envolve diferenças significativas em termos de impacto psicológico, sustentabilidade e efeitos sobre a saúde física e mental.  

A dieta enquanto “modo de vida” é orientada pela procura de equilíbrio e bem-estar, com resultado em escolhas individuais que dizem respeito a várias dimensões essenciais à vida da pessoa para além da alimentação, tais como, o sono, o exercício físico, as relações positivas, a capacidade de independência, projeto de vida e o crescimento pessoal.  

As designadas dietas restritivas focam-se na comida e no corpo, envolvem preocupações constantes com o peso e a imagem corporal, restrição de alimentos, contagem rigorosa de calorias e definição de objetivos com prazos determinados. Estão associadas a maior ansiedade em relação à alimentação, relacionamento pouco saudável com a comida, desenvolvimento de sentimentos de culpa ou fracasso com consequente aumento de pensamentos de autocritica. 

O comportamento alimentar, enquanto elemento da dieta, é influenciado por uma variedade de fatores psicológicos, relacionados com emoções, cognições, hábitos e influências sociais, que moldam a maneira como as pessoas percebem, selecionam e consomem alimentos. Importa ressaltar que o comportamento alimentar dentro do contexto familiar é um dos fatores mais influentes na formação dos hábitos alimentares e na relação com a comida, especialmente durante a infância e adolescência. Existe uma relação intrínseca entre alimentação, saúde mental e funcionamento cerebral, desde a gestação até ao fim da vida.  

Pessoas com problemas de saúde mental têm um risco cerca de duas vezes maior de desenvolver problemas de saúde associados à alimentação e nutrição, bem como diversos componentes encontrados nos alimentos desempenham papéis cruciais no funcionamento cerebral e a falta desses nutrientes pode levar a disfunções neuro químicas que estão diretamente relacionadas a problemas psicológicos. A privação de nutrientes essenciais pode resultar em fadiga, irritabilidade, depressão e ansiedade. 

Uma abordagem equilibrada e saudável da alimentação é aquela que promove a variedade, o equilíbrio e a moderação, sem sacrificar o prazer de comer. Reduz o risco de problemas mentais ou o agravamento dos mesmos. Resulta em melhorias do humor, da energia, memória, concentração, qualidade do sono e pode aumentar os níveis de serotonina, um neurotransmissor associado ao bem-estar e à felicidade. Tem um impacto positivo no sentido de realização e na auto-estima. 

Tenha em consideração que: 

  • Vivemos num mundo onde as alterações climáticas, a volatilidade dos preços, o ritmo acelerado em que vivemos, o aumento da produção de alimentos processados, o marketing alimentar e os incentivos ao consumo influenciam os nossos padrões alimentares.  

  • Dietas restritivas podem ser um gatilho para o desenvolvimento de distúrbios alimentares. 

  • Uma relação pouco saudável com a comida pode resultar em dificuldades interpessoais, através do evitamento de eventos sociais ou refeições em grupo, incrementando sentimentos de isolamento e solidão, com impactos negativos na saúde mental. 

  • A dieta como modo de vida promove uma relação equilibrada com a alimentação, sem culpa ou obsessão, permitindo momentos de indulgência sem comprometimento da saúde geral. 

  • Uma dieta sem regras rígidas, que se adapta às mudanças na vida e às necessidades do corpo, é mais fácil de manter porque é flexível e satisfatória. 

  • Uma dieta assente na sazonalidade e na sustentabilidade pode aumentar o sentido de propósito e conexão com o ambiente, o que contribui para um maior bem-estar psicológico, bem como, incentivar práticas de mindful eating, onde se presta atenção à origem dos alimentos e ao processo de comer. 

  • Práticas de mindful eating contribuem para uma redução de comportamentos alimentares impulsivos e consequentemente para uma melhoria na relação com a comida. 

  • A visão da Psicologia sobre alimentação saudável enfatiza a importância de comer de forma consciente, com atenção plena, apreciando o processo de alimentação sem culpa ou pressa, e reconhecendo os sinais de fome e saciedade. 

  • Uma dieta saudável inclui a autocompaixão, ou seja, tratar-se com gentileza e não se punir por deslizes alimentares. Isso ajuda a manter um relacionamento equilibrado com a comida e o corpo.

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